Título: Sindicatos planejam fusão internacional
Autor: Souza, Marcos de Moura e
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Internacional, p. A13

Para contrabalançar a força das empresas globalizadas, sindicatos globalizados. É essa a estratégia que os dois maiores sindicatos de trabalhadores da indústria dos EUA e do Reino Unido pretendem adotar com a assinatura hoje de um acordo que abre caminho para a primeira fusão sindical em nível internacional.

O United Steelworkers (USW), sediado em Pittsburgh, no Estado americano da Pensilvânia - maior sindicato industrial da América do Norte - e o britânico Amicus - o maior dos setores industrial e de serviços do Reino Unido -, com sede em Londres, já mantêm uma aliança estratégica, mas planejam aprofundar seus laços criando uma entidade global que teria quase 2 milhões de filiados.

A expectativa é que os dois assinem hoje o novo acordo durante a 50ª Conferência Nacional do USW em Ottawa, Canadá.

"O acordo vai definir um processo que nos levará na direção de um sindicato global", declarou o porta-voz do USW, Wayne Ranick. "Exatamente o que será esse acordo é algo que será trabalhado."

O secretário-geral do Amicus, Derek Simpsom, já disse que a criação de um único grupo ajudaria trabalhadores a lidarem com multinacionais que, segundo ele, "jogam países e força de trabalho uns contra os outros" na disputa por investimentos e emprego.

Na prática, o sindicato poderia mobilizar mais facilmente trabalhadores de uma empresa com filiais em diversos países, promovendo campanhas, manifestações e greves conjuntas. A entidade global teria, assim, mais força para negociar com uma empresa global.

Sindicatos, assim como federações e confederações sindicais, já interagem além das fronteiras. O próprio USW já teve o apoio de filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e à Força Sindical em ações contra a Gerdau nos EUA. Sindicalistas mexicanos e australianos também atuaram em campanhas com a USW contra as mineradoras Asarco e Rio Tinto.

"Esses acordos são um começo. Mas é preciso um novo modelo para lidar com o capital global. Senão os sindicatos serão marginalizados com o avanço da globalização", disse ao Valor Gerry Fernandez, do setor de assuntos estratégicos internacionais da USW.

Mas por que um sindicato internacional traria mais resultados aos seus filiados do que alianças ou acordos já em vigor?

"Isso depende muito do tipo de atividade internacional que esses sindicatos queiram levar a diante", avalia Tim Noonan, diretor do Departamento de Campanha e Comunicações da Confederação Sindical Internacional (SCI), com sede em Bruxelas, e que informa ter 168 milhões de membros. "Caberá às estruturas dos sindicatos avaliar os problemas que enfrentam em nível global e decidir o que fazer."

Segundo Noonan, uma fusão entre o USW e o Amicus seria algo inédito. A iniciativa, no entanto, "é um dos exemplos da movimentação sindical em busca de novas formas de contrabalançar o poder das companhias multinacionais".

Mas a idéia enfrenta de saída uma série de dificuldades. Fernandez lista algumas: diferenças estruturais, culturais e legais. Exemplo: muitos países, entre os quais os EUA, impõem restrições amplas ao direito de greve. Como então conclamar trabalhadores dos dois lados do Atlântico a cruzarem os braços se em um dos lados as restrições são muito maiores?

Noonan diz que há um desafio ainda maior. "A verdadeira questão é como o movimento sindical pode usar sua estrutura internacionais de forma mais eficiente".

Recentemente, o secretário-geral da SCI, Guy Ryder, falou da necessidade de um "novo internacionalismo sindical" que reforce o "potencial do movimento sindical para influenciar as empresas e os eventos globais". Utopia? Noonan diz que não. "Já houve progresso, mas ainda há um longo caminho a seguir." (Com Associated Press)