Título: Contra Mantega, Lula banca o PAC
Autor: Pires, Luciano
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2010, Economia, p. 15

Um dia após o ministro da Fazenda afirmar que programa de investimentos terá recursos cortados, o presidente intervém e garante que verbas serão preservadas no governo Dilma

Demorou menos de 24 horas para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagisse à intenção do próximo governo de cortar gastos públicos sacrificando, inclusive, obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a partir de 2011. De passagem pelo Rio de Janeiro, ontem, Lula defendeu o controle da inflação e a estabilidade econômica, mas advertiu que, para obter sucesso, o ajuste fiscal pretendido por Dilma Rousseff não precisa atacar o investimento, e sim o custeio.

A insatisfação de Lula foi tanta que o presidente queimou etapas, interveio imediatamente e desautorizou o ministro da Fazenda. ¿O Guido (Mantega) teve que falar com dois presidentes ao mesmo tempo. Eu liguei para ele quando ele estava conversando com a Dilma¿, disse. Segundo ele, não há necessidade de cortar ¿um único centavo¿ do PAC. ¿Se tiver que mexer em alguma coisa, vai se mexer em custeio e não em obra para investimento.¿

Estratégia Na segunda-feira, Mantega anunciou que o arrocho nas contas programado para ocorrer a partir de janeiro não iria poupar nem os projetos considerados prioritários. A estratégia do ministro é estimular a maior economia possível e criar as condições para que os juros básicos recuem. A elevação da taxa Selic, atualmente em 10,75% ao ano, é dada como certa pelo mercado. Os analistas, as consultorias e os bancos apostam no início da tendência de alta no próximo mês. O remédio faria frente ao repique de preços verificado em novembro e em dezembro, que afastou a inflação para bem longe do centro da meta de 4,5% definido pelo BC.

Lula disse conhecer muito bem o ministro da Fazenda e Dilma, e justificou ter certeza ¿absoluta¿ de que nada do PAC será cortado. O presidente minimizou as declarações de Mantega, deu a entender que o ministro havia sido mal interpretado na véspera e afirmou que, eventualmente, podem ocorrer remanejamentos de recursos entre obras que estão em ritmo mais lento para outras que se encontram em estágio avançado. ¿Você pode fazer o remanejamento dos recursos, como nós cansamos de fazer agora. Às vezes, uma obra aqui no estado do Rio de Janeiro que vai demorar um pouco mais, você passa o dinheiro para uma que está mais regularizada, e assim vai ganhando tempo¿, justificou.

Ao se referir à futura presidente da República, Lula ainda brincou. Lembrando que foi justamente na Rocinha que sua sucessora ganhou o apelido de ¿mãe do PAC¿, o presidente ressaltou o ¿carinho¿ de Dilma pelo programa. ¿Para nós, o PAC é como o oxigênio que a gente respira, nós sabemos o quanto ele deu certo para o país e o quanto ele vai continuar dando. Graças ao PAC é que as obras não são paralisadas, graças ao PAC é que todos os ministros trabalharam muito mais. Então, eu estou muito tranquilo com relação a isso. Conheço bem o que pensa a companheira presidente do Brasil com relação à priorização das obras do PAC¿, explicou.

Recorde na construção

O nível de crescimento alcançado pela construção em 2010 dificilmente será repetido nos próximos anos, segundo projeções apresentadas ontem pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O Produto Interno Bruto (PIB) do setor deve fechar o ano com avanço em torno de 11%, nível recorde ¿ pela primeira vez, o incremento será de dois dígitos. O resultado vai superar a estimativa feita no fim de 2009, de 8,5%.

A perspectiva traçada para 2011 é de redução no ritmo de alta, com estimativa de aumento de 6%. No topo dos desafios apontados como responsáveis pela desaceleração, figuram a escassez de terrenos adequados e de pessoal qualificado. ¿Há um sentimento geral de que a mão de obra será um dos grandes problemas. Os empresários estão pessimistas em relação à evolução dos custos¿, assinalou a consultora da FGV Ana Maria Castelo. ¿Os resultados superaram as expectativas do início do ano, mas manter taxas de dois dígitos requer um esforço consideravelmente maior.¿

De janeiro a novembro, o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) acumula expansão de 6,95%. O componente mão de obra foi o que mais pressionou, com alta de 8,73%. Apesar de já contarem com um cenário menos aquecido em 2011, os empresários da construção civil se mostram otimistas com o desempenho, conforme a sondagem da FGV. Eles estimam que o crédito seguirá em expansão e os lançamentos de imóveis serão voltados para os segmentos de média e baixa renda, principais alvos do programa habitacional do governo Minha Casa, Minha Vida.

O bom momento é proporcionado pelo aumento do crédito e pela disponibilidade de recursos para o programa. O volume de financiamentos somava R$ 64,5 bilhões até outubro, se considerados os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com possibilidade de fechar o ano na casa dos R$ 70 bilhões.

NEWTON CARDOSO COMPRA HOTEL O ex-governador de Minas Gerais, megaempresário e deputado federal eleito Newton Cardoso (PMDB) arrematou ontem o Hotel Sol Belo Horizonte por R$ 8 milhões, de olho nos lucros da Copa do Mundo de 2014. O valor corresponde a 10,3% do patrimônio declarado por ele ao Tribunal Regional Eleitoral na última eleição (R$ 77,9 milhões). Porém, o volume do investimento não preocupa o político. ¿Aquele (declarado ao TRE) é meu patrimônio pessoal. Quem comprou o hotel foi uma das minhas empresas¿, explicou. Apesar da informação oficial, a fortuna de Newtão veio à tona quando ele declarou possuir mais de R$ 3 bilhões, durante o litígio com sua ex-mulher, a deputada federal Maria Lúcia Cardoso (PMDB). Ele participou pessoalmente do leilão do hotel, parte da massa falida da Casa do Rádio.