Título: No Senado, Fiocca faz campanha para ficar
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Política, p. A11

Em campanha para continuar no cargo, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Demian Fiocca, deu um depoimento ontem no Senado exaltando o que considera pontos fortes de sua gestão e criou uma espécie de balcão para receber as reclamações e encaminhar os pedidos dos parlamentares.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, já anunciou duas vezes que Fiocca deixará o cargo - e trabalha para formar uma diretoria do BNDES com ex-executivos do Banco Santander. Os principais defensores de Fiocca são o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Mercadante incluiu de última hora o depoimento de Fiocca na pauta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Empenhou-se para chamar senadores e a imprensa à sessão, e referiu-se a Fiocca como "amigo", afirmando que o BNDES vivia "um dos melhores momentos da história". Mas negou que agia para manter Fiocca no cargo. "A visita estava combinada há mais de 30 dias", disse o senador.

"Estamos financiando grandes projetos de investimentos que só eram feitos na década de 1970", afirmou Fiocca. "Conseguimos uma maior democratização do crédito no segmento de empresas médias e pequenas", acrescentou. "É um esforço gerencial para implantar a cultura da velocidade que permite contratar empréstimos nos menores prazos dos últimos dez anos", continuou. "A sofisticação do BNDES permitiu investimentos sociais."

Como um político em campanha, Fiocca ouviu pedidos e lamentações dos senadores - e se prontificou a estudar cada uma das questões. O senador Edison Lobão (DEM-MA), por exemplo, reclamou da concentração de empréstimos no Sudeste. Fiocca mostrou números que indicavam crescimento dos empréstimos ao Nordeste acima da média do resto do país e se dispôs a receber uma comissão de senadores para discutir formas para emprestar mais para a região.

Também disse que estava de portas abertas para receber a associação de municípios do Mato Grosso, que reclama do difícil acesso aos financiamentos de um programa para a compra de equipamentos de manutenção de ruas e estradas. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) pediu empenho de Fiocca para um projeto para a troca da madeira por ferro nos cascos dos barcos que circulam pelos rios amazônicos.

Virgílio pediu ainda que ele liberasse o economista José Roberto Afonso, funcionário do BNDES, para assessorar a recém-criada Subcomissão Temporária da Reforma Tributária, vinculada à CAE. O pedido foi reforçado pelo presidente da subcomissão, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), nos corredores do Senado. Fiocca disse que, embora Afonso fosse um quadro precioso para o BNDES, não se opunha a que o economista fosse cedido.

Fiocca apresentou gráficos aos senadores que procuravam mostrar uma forte aceleração da contratação dos empréstimos. "Os desembolsos do BNDES cresceram 28%, o dobro da taxa de expansão dos investimentos na economia, que foi 13%", afirmou.

A aceleração dos desembolsos de empréstimos, porém, se concentra no primeiro trimestre de 2007. Em 2006, os desembolsos do BNDES perderam para os investimentos do PIB. Cresceram 11%, e os investimentos, 13%. É um desempenho menos favorável do que os 14% ocorridos em 2004, último ano da gestão de Carlos Lessa no BNDES. Em 2005, os desembolsos cresceram 18%. Fiocca disse que as aprovações de empréstimos aumentaram fortemente, o que indica que no período seguinte os desembolsos efetivos seguirão em expansão.

Fiocca apresentou aos senadores um quadro com o título "Fazendo mais rápido", que diz que as operações complexas, geralmente de altos valores, estão sendo aprovadas em menos de 7 meses, contra o prazo entre 10 e 12 meses até meados de 2006. Outro conjunto de quadros - "Fazendo mais que antes" - exibia algumas soluções do BNDES para contratar empréstimos, como as operações com a Transpetro, a Copasa e a Brasil Ferrovias.

Mercadante lembrou que algumas dessas operações beneficiaram Estados governados pelo PSDB, como São Paulo e Minas Gerais. "Estamos atendendo os dois lados do PSDB", disse. Referia-se à operação da Copasa, companhia mineira de saneamento básico, que, por meio de emissão de debêntures, driblou as regras de contingenciamento de endividamento ao setor público e obteve R$ 591 milhões do BNDES. Outro caso citado foi a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que também conseguiu contornar a lei de contingenciamento do crédito ao setor público e levantou R$ 150 milhões.

Fiocca não respondeu se permaneceria na presidência do banco. "Devo manter discrição sobre esse assunto." Também procurou não comentar as declarações de Jorge de que ele estaria fora do BNDES. "Continuo mantendo minha discrição."