Título: Bancos e imobiliárias facilitam o crédito
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Finanças, p. C12

Bancos, imobiliárias e construtoras estão fazendo de tudo para atrair a classe média, em todos os seus estratos e crescentemente no mais baixo, a chamada classe C, para a realização do sonho da casa própria. Os bancos estão se associando aos vendedores para agilizar o crédito, sem que o cliente precise ir à agência. Os juros estão abaixo de 10% ao ano (mais TR) e as construtoras estão oferecendo ao cliente potencial um pacote de mordomias nos estandes de vendas com o objetivo de fazê-los sentir-se como se já estivessem morando no prédio que ainda será construído. Os consórcios proliferam. É o renascimento do "boom" dos anos 1970, com as sofisticações do século 21.

"O banco precisa ter agilidade, desburocratizar, conceder o crédito em 24 horas", receita Ademir Cossiello, diretor-executivo do Bradesco. Ele conta que o maior banco privado do país saiu de patamar de financiamento imobiliário de R$ 400 milhões em 2004 para mais de R$ 2 bilhões no ano passado e já tem mais de R$ 3 bilhões previstos para este ano. Além disso, mesmo "ainda sendo uma criança no segmento", o Bradesco já negocia 4.000 cotas de consórcios imobiliário por mês.

No trajeto do salto iniciado há dois anos e meio, o banco treinou cerca de mil profissionais para atender o mercado imobiliário. Cossiello diz que o Bradesco está buscando associar-se às imobiliárias em todas as grandes áreas, levando o financiamento para dentro do escritório do corretor e, em muitos casos, até para dentro da casa do cliente. Os juros, com piso de 8,5% ao ano mais TR, e o prazo de até 20 anos para pagamento são considerados pelo executivo adequados para o momento da economia brasileira, e ele ressalta que ainda há um enorme mercado por desenvolver.

O Banco Real acaba de entrar, de maneira formal, no esquema de associação com corretores para facilitar a vida dos compradores. A instituição, controlada pelo holandês ABN AMRO, fechou parceria com a imobiliária carioca Ética, especializada no mercado de imóveis usados, para facilitar a concessão de crédito para a compra da casa própria. "Queremos ser um dos principais do mercado. O foco (da parceria) é, principalmente, imóveis usados, mas queremos fazer também lançamentos", explica Emílio Vieira, diretor de Crédito Imobiliário do Real. Outro foco da parceria é o mercado da classe C, para imóveis de até R$ 120 mil.

Para Vieira, o maior impacto desse tipo de associação é "fazer os corretores de imóveis falarem com o banco", porque os dois sempre estiveram muito distantes. O acordo com a Ética permite que a corretora indique a fonte de financiamento no ato de negociação da venda e o cliente pode saber em 24 horas se tem ou não condições de ser financiado. Vieira disse que o Real fará parcerias semelhantes em São Paulo, Salvador, Curitiba e Recife. O Real tem uma linha de R$ 1 bilhão para atender ao mercado da classe C, com juros de 9% ao ano mais TR e prazo de 20 anos para amortização.

O presidente da Ética, Marlei Feliciano, disse que, com a estrutura montada com o Real, além de saber em 24 horas se pode ser financiado, em 20 dias o cliente pode ter concluída a operação de crédito, um trabalho que antes, segundo ele, levava pelo menos 45 dias. A corretora também só cobra do comprador a taxa de cadastro após o financiamento aprovado, na segunda ou terceira parcela. Com o acordo, Feliciano prevê que as vendas da corretora (5 mil imóveis em 2006) cresçam 60% neste ano.

O Unibanco partiu para parceria semelhante com o Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Locação de Imóveis de São Paulo (Secovi-SP) e também com a Rede São José dos Campos, formada por 11 imobiliárias. Os sites das imobiliárias na internet têm um link que remete diretamente ao Unibanco visando a aprovação de créditos de até R$ 120 mil.

"Temos olhado com muita atenção para os mercados das classes B e C, que é onde achamos que o mercado imobiliário irá crescer", afirma Renato Ventura, superintendente de Negócios Imobiliários da instituição. Ventura disse que o Secovi tem característica de atuar nas áreas mais nobres, enquanto a Rede São José dos Campos atua mais junto às classes B e C. O Unibanco oferece financiamento de 8% ao ano mais TR nos três primeiros anos e 10,9% ou 12% no período seguinte, dependendo do tipo de relacionamento do cliente com o banco. O prazo é de 20 anos para juros pós-fixados e 15 para os prefixados.