Título: Regiões e metrópoles brasileiras no Censo 2010
Autor: Paviani, Aldo
Fonte: Correio Braziliense, 08/12/2010, Opinião, p. 19

Professor titular aposentado e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da Universidade de Brasília (Neur/Ceam-UnB)

De forma esmerada e criteriosa, o IBGE programou e recenseou a população brasileira em 2010. Em fins de novembro, divulgou alguns resultados demográficos, como a distribuição da população no território nacional, e particularidades, como dados de grandes e pequenas cidades. Agora, sabe-se quais são os estados mais populosos; quais tiveram taxas de incremento demográfico acima da média nacional, e ainda, como cada unidade da Federação evoluiu em relação ao censo anterior. No geral, pode-se considerar que o quantitativo de 190.732.694 habitantes era esperado. Foram recenseados 5.565 municípios (5.507, em 2000). O formato metodológico e operacional do censo pode ser acessado no portal do IBGE, onde fica claro o grande volume de tarefas executadas e, mesmo, a confiabilidade dos resultados obtidos.

Entre esses resultados, a dinâmica demográfica mostra um país desigual na distribuição espacial da população: há estados como os do Norte, com territórios avantajados, mas de população rarefeita. Essa região possui 15.865.678 habitantes, mas com um crescimento de quase o dobro do nacional ¿ 22,98%. Em 2000, o total era de 12.900.704 habitantes. Por seu lado, o Sudeste, com território bem menor, passou de 72.412.411 para 80.353.724 habitantes ou 10,97% de crescimento, a segunda menor taxa de crescimento demográfico. O menor crescimento aparece no Sul ¿ 9,07%, resultado da comparação com 2010: 27.384.815, em relação aos 25.107.616, do censo de 2000.

O Nordeste aparece com 53.078.137 habitantes, a segunda maior massa populacional entre as regiões, com taxa de crescimento (11,18%) um pouco abaixo da média nacional, de 12,11%. Por sua vez, a região Centro-Oeste surge com 20,74% de crescimento, quase o dobro da média nacional. Sua população passou de 11.636.728, em 2000, para 14.050.340, em 2010. É região em que se abrem espaços para o povoamento.

Nessa dinâmica de crescimento do Centro-Oeste surgem o DF e sua área metropolitana (AMB). Na área metropolitana de Brasília externa ao DF (vulgarmente denominado Entorno) aparecem 10 municípios que, em 2000, somavam 716.337 habitantes; em 2010 foram recenseados 937.013 habitantes, o que resulta na taxa de 30,08% ¿ mais do que o dobro da média brasileira. O DF cresceu duas vezes a média nacional, atingindo 24,95%; elevou-se de 2.051.146 habitantes, em 2000, para 2.562.963 habitantes, no atual recenseamento. Com a área interna e externa da AMB chega-se à marca de 3,5 milhões de habitantes. Assim, para uma cidade que fora pensada para ter 500 mil habitantes, em 2000, a atual massa populacional da capital é cinco vezes superior e apresenta grandes desafios. Como se trata de metrópole biestadual, os governos a ser empossados em Goiânia e Brasília, em janeiro de 2011, devem estabelecer um pacto de mútua colaboração para os serviços comuns no interior da AMB. Chamam a atenção os problemas comuns de desemprego, de saúde pública, de crianças fora da escola, do deficit nos transportes públicos e do pouco caso com a sustentabilidade ambiental em toda a metrópole.

Mas o que ocorre em Brasília não é caso isolado. Os mesmos problemas são encontrados (e em maior patamar) nas demais metrópoles brasileiras, sobretudo nas mais agigantadas do Sudeste. As três metrópoles dessa região, por exemplo, São Paulo, Rio e Belo Horizonte, somam 19.942.850 habitantes, no censo atual. No censo anterior, perfaziam 18.530.682 habitantes ou uma variação de 7,62% em 10 anos. Embora não se considere um crescimento expressivo, essa população põe em cheque a governabilidade para atender as demandas apresentadas em escalas macro. A oferta de trabalho, e seu contraponto, o desemprego, a questão dos transportes públicos e a oferta de sala de aula e de leitos hospitalares exigem gigantescos aportes financeiros e orçamentos de envergadura nessas grandes cidades.

O censo de 2010 foi elaborado num momento importante, de transição no governo federal e nos estaduais. Os resultados preliminares podem oferecer aos governantes, empresários e à população momentos de reflexão e de estabelecimento de estratégias para o enfrentamento das demandas crescentes. Afinal, o país cresce, mas ainda apresenta bolsões de carências e de pobreza, desemprego e fome ¿ verdadeiras correntes que o amarram na 73ª posição mundial, entre 169 países, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).