Título: Aché separa ativos para preparar abertura de capital
Autor: Vieira, André
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, Empresas, p. B9

Baptista, fundador e acionista do Aché: "Somos compradores. Vender não existe no nosso vocabulário, exceto medicamentos" Os controladores do laboratório Aché começam a separar os ativos não-farmacêuticos com o objetivo de preparar a companhia para a abertura do capital.

Propriedades serão retiradas da estrutura societária da farmacêutica, controlada pelas famílias Syaulis, Baptista e Depieri. Assim, os controladores pretendem "segregar" os ativos para que um negócio não contamine o outro.

"Estamos limpando o balanço", disse o diretor de operações do laboratório, José Ricardo Mendes da Silva. "E preparados tecnicamente para a abertura de capital. A questão é saber quando é o melhor momento. Se o Brasil obtiver grau de investimento, o múltiplo das empresas pode mudar", disse Mendes da Silva, que está desde 2001 na companhia. Em 2006, com a saída de Eloi Bosio do Aché, o cargo de presidente foi extinto e Mendes da Silva passou a ser o principal executivo, como diretor de operações.

O Aché, maior laboratório farmacêutico de capital nacional, vem anunciando sua intenção de abrir capital nos últimos três anos. Mas mudanças no modelo de negócios e aquisições atrasaram os planos. Agora, a empresa se diz novamente preparada. Em 2006, o Aché teve receita líquida de R$ 1,01 bilhão, 34% acima do ano anterior. O crescimento ocorreu devido à alta nas vendas, da contabilização dos resultados da Biosintética e do efeito cambial sobre a importação de matérias-primas, entre outros fatores.

O lucro líquido, contudo, caiu 18% para R$ 71 milhões em 2006, decorrente do aumento de despesas com a compra da Biosintética, adquirida em 2005. O Aché obteve cerca de R$ 450 milhões de dois bancos privados para pagar a aquisição e espera concluir até o dia 15 de maio a documentação para liberação do empréstimo do BNDES, de R$ 311 milhões.

Depois da aquisição da Biosintética, o diretor de operações afirmou que o Aché se prepara para "aquisições seletivas", o que pode incluir empresas ou produtos que complementem o leque de medicamentos. Quase 80% das receitas do Aché são oriundas de remédios de prescrição médica. Neste ano, a idéia é lançar cinco remédios e entrar em dermocosméticos.

"Vamos construir outras empresas por dentro do Aché", disse ele, referindo-se as unidades de negócios de genéricos e medicamentos isentos de prescrição. Um executivo cuidará de cada área. Em genéricos, a previsão é lançar 20 novos produtos, dos quais cinco drogas faziam parte do portfólio da Biosintética. "O Aché não vai vender produtos com margem negativa", disse. Prevê ainda o reforço junto ao consumidor das marcas isentas de prescrição. A empresa quer também elevar sua exportações ao México, mediante um acordo com a Silanes, farmacêutica local.

Com os ativos não-farmacêuticos, a intenção dos controladores é fazer um investimento em um projeto, avaliado em R$ 300 milhões, para construção de uma usina de açúcar e álcool. As famílias possuem cerca de 50 mil hectares em fazendas em Nova Mutum, no Mato Grosso, e prevêem fazer o plantio de cana-de-açúcar em 18 mil hectares. O investimento será feito com os recursos diretos das famílias em conjunto com um parceiro ainda não definido.