Título: Dividendo light
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2007, EU & Investimentos, p. D1

As empresas reservaram menos dinheiro nos balanços de 2006 para distribuir aos acionistas este ano na forma de dividendos e juros sobre o capital, apesar do lucro maior no ano passado. Segundo um estudo da Economática com 159 empresas abertas, o total provisionado para dividendos no balanço de 2006 atingiu R$ 42,588 bilhões, 0,94% abaixo dos R$ 42,992 bilhões provisionados em 2005. Ao mesmo tempo, o lucro das empresas cresceu 5,57%, de R$ 89,474 bilhões para R$ 94,457 bilhões.

Como consequência da menor distribuição e da alta da bolsa, o retorno médio obtido pelo investidor em dividendos em relação ao valor da ação, ou "dividend yield" - tomando como base as cotações do último dia do ano anterior - caiu de 5,1% no balanço de 2005 para 3,7% em 2006. Em geral, as empresas distribuem o dividendo no ano seguinte ao do lucro, com algumas exceções, caso dos bancos Bradesco e Itaú, que distribuem os valores mensalmente e depois fazem um ajuste anual, explica Fernando Exel, presidente da Economática.

A explicação para o dividendo menor é que as empresas já distribuíram bastante lucro nos últimos três anos e, agora, estariam preferindo usar o dinheiro para reforçar o caixa, diz Exel. O receio de uma mudança no cenário mundial, com o desaquecimento da economia americana e o risco de queda nos preços das commodities, seria um argumento a mais para esse reforço de caixa, diz Lika Takahashi, coordenadora da área de Análise da Fator Corretora. Outra explicação é que algumas empresas estão aumentando os investimentos. O caso mais claro é o da Vale do Rio Doce, que reduziu o dividendo previsto em mais de R$ 1,2 bilhão, de R$ 4,561 no balanço de 2005 para R$ 3,218 este ano. Parte desse valor será usado para pagar a compra da mineradora canadense Inco, que custou US$ 18 bilhões.

Isso não quer dizer, porém, que o dividendo deixou de ser atrativo para o investidor. O valor ainda é expressivo e a pesquisa mostra também que 65 empresas aumentaram a provisão de dividendo de 2005 para 2006, mais que as 62 que diminuíram ou não provisionaram nada para pagar este ano. Outras 32 não reservaram nada nem em 2005, nem em 2006.

Exel destaca que o lucro das empresas da mostra praticamente dobrou de 2003 para 2006. O bom resultado, diz, veio de empresas exportadoras, especialmente de commodities, que se beneficiaram do crescimento da economia mundial. Além disso, houve impactos setoriais, como no caso dos bancos, onde a carteira de crédito cresceu acentuadamente graças ao juro mais baixo no Brasil. Os dividendos acompanharam esse aumento do lucro, apesar de a parcela reservada para a distribuição (chamada "pay-out") ter caído de 53,2% para 45,1%.

Ele avalia que o retorno com dividendos nunca esteve tão baixo, como mostra o "dividend yield" médio da pesquisa para este ano. O motivo é a valorização das ações. "No fim de 2005, o valor de mercado das empresas era de R$ 849 bilhões e, no fim de 2006, atingiu R$ 1,1 trilhão, ou seja, o preço para entrar no jogo está mais alto", diz. Para ele, 3,7% de "dividend yield" é baixo para o Brasil. "Nos EUA, a média é de 2%, mas para uma taxa de juros de 4% ao ano."

Uma coisa é certa: a forte valorização dos preços das ações tirou um pouco o brilho dos dividendos, pois reduziu o percentual de retorno dos lucros em relação ao preço pago pelo papel. O BBM chegou a encerrar seu fundo de dividendos, um dos mais conceituados do mercado, por achar que o momento era mais de buscar ganhos com a valorização dos papéis do que com o lucro distribuído.

Marco Melo, chefe da área de análise da corretora Ágora, continua otimista em relação aos dividendos. As empresas estão com boa geração de caixa, o que aumenta a possibilidade de distribuir lucros. Ao mesmo tempo, a inflação está sob controle e a tendência é de os juros reais caírem cada vez mais. "E, em um cenário onde o juro básico é de 11,5% ao ano, uma empresa que pague 8% ao ano, já líquidos de imposto de renda, é bastante competitiva", diz.

Melo destaca que o Ibovespa subiu quase sete vezes em dólar nos últimos três anos, mas ainda assim projeta um "dividend yield" de 4,5% ao ano, bem acima da média mundial, de 2,5% ao ano. Alguns setores pagam menos dividendos, como mídia e telefonia móvel, mas outros são destaque, como telefonia fixa, petroquímica e petróleo. Os bancos sempre foram conservadores, mas projetam um retorno em dividendos neste ano de 4,5%, diz. Nas contas de Melo, telefonia fixa projeta 9% de retorno e petroquímica, 5%.

Com um CDI de 11% ao ano, já fica interessante buscar o dividendo de algumas empresas, explica Lika Takahashi, da Fator. "E tem empresa que pode pagar 9%, 10% de dividendo, fora o ganho de capital com a ação", diz. Ela vê a média de dividendos do mercado brasileiro em torno de 4% ao ano, com destaque para alguns papéis como Geração Tietê, Telesp Fixa e Eletropaulo. "As elétricas têm uma característica de fluxo de caixa estável", diz.

Com o Brasil entrando em uma fase de crescimento contínuo, as empresas de bens de capital e siderurgia voltam a investir e reduzem os dividendos, afirma Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management. Já as de telefonia fixa e de energia elétrica passam a distribuir mais. Há também destaques individuais, como a Eletropaulo, que Patah projeta um "dividend yield" de 15% e CPFL com 9%. Em telecomunicações, Telesp Fixa projeta 13%, enquanto Eternit e Souza Cruz projetam 7,8% e 5,8% respectivamente. Petrobras PN aparece com projeção de "dividend yield" de 3,8% e Vale, de 3,2%.