Título: Brasil e UE discutem educação e economia
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2013, Brasil, p. A4

Parcerias em educação e ciência estarão em alta e discussões sobre comércio e negócios em compasso de espera, durante o encontro de cúpula da "parceria estratégica" Brasil-União Europeia, nesta semana em Brasília. A presidente Dilma Rousseff se reunirá com os presidentes da União Europeia (UE), José Manuel Durão Barroso e do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, para uma pauta de discussões que vai do comércio à crise europeia e conflitos no Oriente Médio.

O Brasil quer, porém, se acertar com parceiros do Mercosul, antes de discutir definições do livre comércio com os europeus. A demanda europeia por um acordo de "céus abertos", com liberdade de atuação para companhias aéreas, também deve ficar para discussões posteriores.

Incentivada pelo Itamaraty, que teme ver o Brasil perder espaço nos mercados internacionais por falta de acordos comerciais, a negociação do acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia será tema das conversas. Mas um sinal da falta de expectativas de avanços nesse tema é a ausência, em Brasília, do comissário europeu para o Comércio, Karel von Gucht, que irá diretamente a Santiago, no Chile. Lá, à margem da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) com a União Europeia, haverá uma reunião dos europeus com presidentes do Mercosul sobre o acordo de livre comércio.

Na semana passada, o parlamento europeu aprovou uma resolução em defesa das negociações de livre comércio entre os dois blocos, em que aponta a reunião em Santiago como oportunidade de mostrar "apoio político" para uma troca de ofertas "suficientemente ambiciosa".

Os brasileiros acreditam que os europeus, afetados pela recessão em seus principais mercados, estariam mais abertos a reduzir barreiras a produtos agrícolas, mas têm dúvidas sobre a real disposição em fazer concessões significativas nesse ponto essencial.

A maior incógnita, tanto para brasileiros quanto para europeus, é a disposição da Argentina em se engajar no esforço de remoção de barreiras ao comércio. Fontes do governo brasileiro informam que, na reunião entre presidentes do Mercosul que antecederá o encontro com dirigentes europeus, no Chile, Dilma pretende cobrar da presidente argentina, Cristina Kirchner, uma posição clara sobre o tema - o compromisso com as negociações do acordo comercial.

O desinteresse das empresas brasileiras de aviação e das principais autoridades brasileiras da área em explorar novas linhas aéreas para a Europa, somado ao temor de concorrência predatória no setor, leva o governo brasileiro a ter reduzido interesse em atender aos europeus, que, desde o ano passado, tentam firmar com o Brasil um acordo de "céus abertos". Esse tipo de acordo, existente entre Brasil e Estados Unidos, eliminaria restrições a operação de companhias europeias no mercado brasileiro e vice-versa.

A União Europeia, como noticiou o Valor, na semana passada, dá prioridade a esse tema, nas discussões com o Brasil, e flexibilizou várias de suas exigências para convencer o Brasil a assinar o acordo - o que não deve acontecer, segundo informou um ministro brasileiro.

Os europeus se dizem contentes com o nível das conversas entre o país e o bloco, e com os trabalhos dos chamados "diálogos setoriais", que patrocinam discussões e negociações técnicas regulares em temas tão distintos quanto turismo, programa espacial e questões industriais e regulatórias entre o Brasil e os europeus.

Um dos acordos a serem assinados é um Projeto de Apoio aos Diálogos Setoriais Brasil-União Europeia, que deverá garantir recursos orçamentários para as atividades e consultas desse mecanismo da "parceria estratégica" entre o governo brasileiro e a Comissão Europeia.

Além desse projeto, está prevista a assinatura de outros dois documentos, de cooperação em ciência e tecnologia e "bem-estar animal". Com decisões sobre temas econômicos em segundo plano, os dirigentes do Brasil e da União Europeia devem, segundo se espera em Brasília, concentrar-se em assuntos prioritários para o Brasil, como a atuação da União Europeia no programa Ciência sem Fronteiras, de bolsas para estudantes brasileiros no exterior. Hoje, o Brasil tem acordos individuais com os países europeus, e gostaria de receber apoio institucional da Comissão Europeia para os estudantes brasileiros no continente.

Dilma, com Van Rompuy e Durão Barroso, deverá também trocar impressões sobre a crise na Europa e os conflitos no Oriente Médio, entre outros temas da agenda internacional. As conversas, que devem abordar a atuação do G-20, o grupo das economias mundiais mais influentes, e do Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outras instituições, servirão para avaliar as disposições tanto dos brasileiros quanto dos europeus, mas não têm caráter decisório.

Com exportações aos países da União Europeia de US$ 48,9 bilhões em 2012, e importações de US$ 47,7 bilhões, o Brasil tem, no bloco europeu, seu principal parceiro comercial, se somado o comércio com os 27 países. Dilma deve lembrar a condição de grande investidor do Brasil, o quinto na União Europeia, com estoque de aproximadamente € 67,6 bilhões em 2010.

Os brasileiros chegaram a investir, nos países-membros da UE, cerca de € 4,7 bilhões em 2011, ano em que os europeus investiram € 27,9 bilhões no Brasil. O Brasil é o quarto maior destino para investimentos diretos europeus no mundo.