Título: Vereador do PSD dá emprego a três ex-subprefeitos
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2013, Política, p. A7

Avalista do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) na nomeação de coronéis da Polícia Militar para a chefia de 30 das 31 subprefeituras da cidade, o ex-comandante da PM e vereador eleito Coronel Álvaro Camilo (PSD) abrigará em seu gabinete três destes militares como seus assessores parlamentares.

Os coronéis da reserva Danilo Antão Fernandes, José Francisco Giannoni e Nevoral Alves Bucheroni fizeram parte do núcleo duro de subprefeitos que organizava reuniões com as comunidades durante a campanha eleitoral para divulgar a candidatura de Camilo, de quem agora serão subordinados. O vereador, no entanto, garante não haver "troca de favores" com aqueles que trabalharam por seu êxito nas urnas. "O vereador pode indicar 18 pessoas para o seu gabinete. Eu os trouxe pela competência, pois prestaram bons serviços aos cidadãos", diz Camilo. Os ex-subprefeitos o ajudarão no atendimento e identificação de demandas nas quais o vereador, estreante na Câmara, possa atuar.

Ferrenho defensor do período no qual a gestão das administrações regionais esteve nas mãos dos coronéis, Camilo acredita que o paulistano ainda não ofereceu o devido reconhecimento ao trabalho feito por seus pares, bem como não dá o crédito que mereceria a gestão de Kassab, seu padrinho político. "O tempo vai mostrar que essa administração do Kassab e dos coronéis ofereceu muitos avanços a São Paulo", opina. Segundo pesquisa Ibope, 42% dos paulistanos avaliaram como ruim ou péssima a passagem de Kassab pelo cargo ao final de seu mandato.

Criticados por setores da sociedade civil por supostamente conduzirem as subprefeituras de forma centralizadora, os coronéis dizem se orgulhar do trabalho realizado, cuja influência militar não se limitou às subprefeituras. Camilo estima que a prefeitura chegou a ter aproximadamente 150 militares em sua estrutura "entre subprefeitos, chefes de gabinete, coordenadores, em órgãos de trânsito e até funerárias", conta.

"Temos noções de finanças, recursos humanos, gestão. Tenente-coronel é curso equivalente ao doutorado. Sempre trabalhamos com as comunidades e sempre fomos gestores de pessoas", diz Bucheroni, que comandou as subprefeituras de Pinheiros, zona oeste, e da Sé, no centro, a maior delas. Camilo e seus três assessores são unânimes em dizer que a gestão dos coronéis diminuiu a "politicagem" na administração. "Eles não eram indicação política de ninguém, então não tinham dívidas políticas", diz Camilo. E garantem que a população tinha acesso a eles. "Pode ir às subprefeituras e perguntar se as pessoas conseguiam conversar conosco ou não. Todos eram recebidos", desafia Bucheroni.

Depois de alguma resistência, Giannoni é o primeiro a falar diretamente sobre o que seria esse "ranço" de alguns setores com os militares. "Quando se fala em militar, as pessoas pensam automaticamente em ditadura. Eu nem vivi essa época, era moleque", diz. A desconfiança era também dos funcionários. "Eu fiquei dois meses para conhecer o pessoal na subprefeitura da Vila Prudente, quando fui chefe de gabinete. Parecia água e óleo. As pessoas esperam um sujeito que vai chegar lá de farda e não é nada disso. Quando deixei a subprefeitura, fizeram uma festa pra mim, até chorei", conta.

Até o momento outros dois ex-subprefeitos de Kassab foram nomeados secretários em municípios de São Paulo. Um deles é o coronel Eduardo Félix, ex-subprefeito da Penha, zona leste, que foi também comandante do Batalhão de Choque da PM na controversa operação que culminou com a morte de Eloá Pimentel, de 15 anos, assassinada em 2008 pelo ex-namorado quando a polícia invadiu o apartamento que servia de cativeiro. A mãe da vítima move ação contra o Estado. Félix será secretário de Defesa Social de Diadema, na região do grande ABC.

Em Itu, cidade a 102 km da capital, o coronel Marco Antonio Augusto, ex-subprefeito de Capela do Socorro, zona sul, foi nomeado secretário de Segurança, Trânsito e Transporte. Ele também esteve na linha de frente da campanha de Camilo. "Mapeávamos sua popularidade e marcávamos encontros com a comunidade. O Giannoni cuidava da zona norte; o Bucheroni do centro; o Antão da região sudeste da cidade e eu estava na zona sul. Se não tivesse virado secretário aqui [em Itu], com certeza estaria com eles lá no gabinete do Camilo", observa.

Sua nomeação, conta Marco Antonio, deu-se pelo bom relacionamento político do ex-prefeito Herculano Júnior (PSD) com Kassab. Tendo feito sua sucessão com Antonio Tuíze (PSD), Herculano articulou a ida do coronel para a Pasta de Segurança municipal. Orgulhoso de seu período como subprefeito, o agora secretário é outro a justificar a escolha de Kassab por militares na gestão. "Kassab fez isso pensando na moralidade. Quem vai subir a escada da subprefeitura para assediar coronel?", desafia.