Título: Lula defende diálogo com oposição
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2007, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem, tanto no programa "Café com o Presidente" quanto na reunião de coordenação política, um "distensionamento no diálogo do governo com a oposição". De acordo com o presidente, o país vive um novo momento e uma conversa franca entre os adversários, sem deixar de lado a luta política tradicional, ajudará o Brasil a se desenvolver. Na semana passada, Lula conversou com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE). Já conversou também com o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), mas a conversa institucional com o DEM, envolvendo o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), ainda não tem data marcada.

Tucanos e democratas, principais alvos desse novo discurso, têm visões distintas sobre a proposta: enquanto o PSDB defende o diálogo com o Executivo, sem perder de vista os próprios princípios, o DEM radicaliza e recusa-se a "confraternizar com o presidente no Planalto". E acrescentam que o diálogo se dará no Parlamento, por intermédio de projetos que façam o Brasil avançar.

Na reunião com seus ministros, Lula assegurou que vai continuar conversando com todas as forças políticas. "Um ambiente de distensão é fundamental para o desenvolvimento do país e também para que seja aproveitado melhor o ambiente econômico criado para acelerar o desenvolvimento do país".

Para Lula, o diálogo com a oposição fica mais fácil porque ele não tem que disputar um novo mandato em 2010. "Eu tenho apenas que deixar o Brasil, em 2010, infinitamente melhor do que o Brasil que eu recebi. Isso é que me dá liberdade de procurar todos os setores da sociedade para conversar", apostou o presidente. Ele acrescentou que essa nova postura é fundamental para a consolidação da democracia: "As instituições estão funcionando muito bem, os partidos políticos precisam funcionar cada vez melhor. É preciso que todos trabalhemos para reconquistar a credibilidade política nas instituições".

A oposição acompanha a mudança de postura com cautela e desconfiança, sobretudo o DEM. "Não queremos tomar cafezinho, nosso diálogo é de outra natureza. Queremos que o governo resolva os problemas do país nas áreas de segurança, tráfego aéreo e saúde, por exemplo", declarou o presidente do DEM. Maia cobra que Lula seja menos personalista e governe mais. "As pesquisas de intenção de voto mostram que a avaliação pessoal do presidente Lula é melhor do que a percepção das ações de governo".

O vice-líder do DEM na Câmara, o deputado José Carlos Aleluia (BA) disse que não cabe à oposição "confraternizar com o governo, tomar café ou posar para fotografia com o presidente". Justifica até mesmo a visita a Lula feita por ACM, há quase um mês. Segundo Aleluia, foi uma atitude pessoal do baiano, tese corroborada pelo líder do partido no Senado, Agripino Maia (DEM-RN). "Aquela visita se encerrou ali. O presidente quer nos utilizar para dizer aos aliados que não é refém deles. Não contem conosco", frisou.

A posição da liderança do DEM não tem respaldo unânime da base. Ontem, o senador Romeu Tuma (DEM-SP) esteve com Lula e saiu do encontro ameaçando deixar o partido. Tuma disse que está ? renegado ao segundo plano ? no DEM, mas negou que tenha pedido ao presidente orientação sobre seu futuro político. Disse, inclusive, que recebeu convite do ex-presidente Fernando Henrique para ingressar no PSDB, bem como de dirigentes do PTB.

Os tucanos são bem mais comedidos. O líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), reconhece que, até o momento, não houve fatos concretos que demonstrem claramente a disposição de Lula para o diálogo. "Mas conversar faz parte da atividade política e não temos restrições à conversas de nossas lideranças com os presidente Lula".

O líder da minoria na Câmara, Júlio Redecker (PSDB-RS), não acredita que a ida de Tasso Jereissati ao Planalto na semana passada altere as opiniões do PSDB: "Não mudaremos o tom nem tampouco nossas convicções políticas". (Com agências noticiosas)