Título: Berzoini queixa-se de perda de espaço do PT
Autor: Lyra, Paulo de Tarso e Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2007, Política, p. A11

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP) vai levar hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma reclamação contundente do PT: o partido não se sente representado completamente dentro do governo. Depois da reunião do Diretório Nacional da legenda, no sábado, os petistas avaliaram que é fundamental que todas as correntes partidárias ocupem cargos na gestão de Lula. "Essa é uma questão real. Existem forças importantes no PT que não estão contempladas no primeiro escalão do governo", declarou Berzoini, em entrevista ao Portal do PT.

A audiência de Berzoini com o presidente Lula estava marcada para a tarde de ontem. Acabou sendo transferida para hoje, pois Lula atrasou a reunião com o ministro da Educação, Fernando Haddad, acertando os últimos detalhes do PAC da Educação, que será anunciado hoje de manhã. A conversa com Berzoini está prevista para o fim da tarde.

Mas o petista sabe bem o que levar ao presidente: a irritação de seus correligionários com o descaso presidencial em relação ao PT. "Os setores que estão se sentindo menos representados estão irritados, estão reivindicando, e isso é natural. Eu espero que o governo tenha sensibilidade em relação a isso", disse Berzoini.

Apesar da ameaça de radicalização, Berzoini não acredita que a demora do presidente Lula em nomear os demais integrantes do governo provoque crise na base aliada. O Portal do PT chegou a citar que o PMDB ameaçaria complicar a vida do governo no Congresso caso os seus pleitos não sejam atendidos. "Eu não acredito que nenhum partido trabalhe com essa lógica de dificultar caso não esteja satisfeito com o ritmo ou com o resultado da discussão. Nós não podemos trabalhar com essa lógica", disse Berzoini.

Ele reconhece, no entanto, que a demora de Lula provoca ansiedade entre os aliados, como o PMDB e o próprio PT. "Então o ideal é que possamos concluir no espaço mais breve possível, até porque tem uma questão política e outra administrativa. A ausência de definição leva muitos setores do governo a terem um ritmo inferior ao desejado".

Mas o próprio PT encontra dificuldades para conciliar suas correntes internas. O presidente Lula reservou o Ministério do Desenvolvimento Agrário para a Corrente Democracia Socialista. Como os petistas não conseguiram encontrar um nome de consenso, Lula se viu obrigado a efetivar o técnico Guilherme Cassel.

Em Belo Horizonte, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), disse que quer que o Brasil experimente o modelo de reeleição presidencial por mais tempo. "Sou contra acabar agora", declarou. "Só tivemos duas eleições com reeleição, não há país que aguente (tantas mudanças)", argumentou.

Para Dirceu, a discussão sobre o fim da reeleição, neste momento, rouba energia da discussão mais importante, que é a reforma política. O ex-ministro ponderou ainda que não será tão simples acabar com a reeleição porque haverá questões práticas a serem revistas, como o calendário eleitoral das disputas estaduais e municipais.

Irônico, o ex-ministro sugeriu que não faz sentido, mais uma vez, atender aos pleitos do PSDB. "Acabar com a reeleição agora interessa para o José Serra, para o Aécio Neves. Aprovar a reeleição, em 1997, interessava ao Fernando Henrique."

Dirceu esteve ontem em Belo Horizonte para falar a jovens de uma ONG sobre o cenário político do país. O ex-ministro falou da necessidade de fazer a reforma política para acabar com tudo o que a sociedade vem condenando, como o caixa 2 nas campanhas eleitorais, e sobre o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), destacando que o programa federal garantirá ao país crescer mais e melhor.

"Venho defender o governo Lula, como militante do PT que sou", explicou. Depois da palestra, Dirceu reuniu para o almoço um grupo de "amigos", cerca de 30 políticos mineiros do PT, do PMDB e de outros partidos menores.

Mais uma vez, o ex-ministro negou a existência do esquema de mensalão no Congresso. "O que existiu foi caixa 2". Dirceu cobrou julgamento do seu caso pelo Supremo. "O mínimo que posso querer como cidadão é ser julgado, não quero prescrição", afirmou. "Tenho certeza de que vou ser inocentado."