Título: Captação dos FIPs cresce 50% em 2007
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 24/04/2007, Finanças, p. C9

Os fundos de investimentos em participações (FIPs) deram um salto de patrimônio neste início de ano. O volume saiu dos R$ 8,9 bilhões contabilizados no ano passado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para R$ 13,4 bilhões, numa expansão de 50% em três meses.

Esse valor deve continuar em ascensão este ano e nos próximos, avalia Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus e conselheiro da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap). Isso porque, explica o executivo, as estatísticas da CVM captam apenas os valores já integralizados, ou seja, que já foram investidos em projetos, mas os valores subscritos - que representa a captação já feita, mas não integralizada - são maiores.

"Estimo que o total subscrito chegue a cerca de R$ 20 bilhões, ou seja, são quase R$ 7 bilhões a mais do que o registrado", analisa Gonçalves.

Boa parte dos valores que já estão comprometidos com fundos para se transformar em investimentos correspondem a uma forte rodada de captação de FIPs focados no segmento de infra-estrutura, realizada no ano passado. Segundo levantamento do Valor junto aos gestores desses fundos, há cerca de R$ 3 bilhões para aplicar em projetos a partir deste ano (veja quadro). Os setores prioritários são os de energia (incluindo fontes alternativas), transportes e logística em geral e saneamento.

"Os primeiros fundos de infra-estrutura começaram a ser desenhados há alguns anos e ainda sob os efeitos do apagão do início desta década", analisa Gonçalves. Segundo ele, quando os gargalos chegam a um limite, como ocorreu em 2001 com o segmento de energia, os projetos necessários se aceleram. Por conta disso é que o setor de transportes e logística está agora em evidência. "O apagão logístico já dá sinais claros e as oportunidades e co-investidores começam a surgir", completa.

O setor de energia acabou sendo beneficiado por ser o foco dos primeiros e maiores fundos constituídos, como o Brasil Energia, gerido pelo UBS Pactual. Também o InfraBrasil, gerido pelo ABN AMRO e que conta com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), já fez os primeiros investimentos em energia.

Segundo Alessandro Horta, gestor do Brasil Energia, o fundo já aplicou cerca de R$ 150 milhões em dois projetos. Um deles é uma usina térmica, em Manaus, e o outro é uma linha de transmissão de Goiás a Tocantins, em parceria com a Eletronorte e a Chesf. O período de investimentos do fundo ainda deve durar mais cerca de dois anos. "Temos cerca de cinco projetos no 'pipeline'", diz Horta. O foco é sempre energia, incluindo as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).

Justamente as PCHs foram alvo do primeiro aporte do fundo InfraBrasil. Segundo Geoffrey Cleaver, superintendente-executivo de private equity do ABN AMRO, o fundo escolheu duas PCHs no sul do país. "Esse primeiro investimento foi de cerca de R$ 40 milhões, ainda temos mais quatro ou cinco anos pela frente para concluir essa fase", disse Cleaver. Segundo ele, os projetos de energia continuam na mira, mas também alguns de saneamento, assim como transportes e logística.

Estes dois últimos, aliás, vêm sendo alvo de negociações por vários fundos, que demonstram um interesse crescente por projetos seja de infra-estrutura portuária, ferroviária ou segmentos afins. Para Nelson Rozental, da GP Investimentos, gestora do fundo Logística, especialmente voltado para este setor, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contribui para movimentar os projetos, na medida em que coloca o foco sobre as necessidades principais, cria oportunidades de investimento e estimula outros investidores a aplicar no setor. "O PAC mostra as prioridades do governo e traz um foco para a parte regulatória", comenta Rozental.

Esse aspecto do PAC é ressaltado pelos gestores. Eles lembram que os FIPs normalmente só podem investir até cerca de 20% do total de um projeto e por isso precisa de outros investidores que se interessem em fazer aportes. "O PAC pode ajudar trazendo outros interessados, isso pode se tornar um aspecto importante", diz Alberto Guth, do AG Angra. O fundo homônimo, que tem porte de R$ 700 milhões ainda não fez investimentos, mas pode ser um dos próximos a aportar recursos em projetos. Segundo Guth, estão sendo analisados cerca de quatro negócios, dois no setor de logística e outros de saneamento e energia alternativa. Este ano, podem ser investidos pelo menos cerca de R$ 150 milhões.

Já Fernando Gentil, diretor executivo da Darby Overseas, gestora do Brazil Mezanino em parceria com a Stratus, lembra que os fundos voltados para infra-estrutura que já existem também podem ser complementares na hora de investir. "Nesse sentido, os fundos tem características bem interessantes, um tem perfil de project finance (financiamento), outros trabalham mais com equity e outros fazem o estilo mezanino, que é híbrido", conclui ele.