Título: Indústria fecha 2012 com produtividade em queda e falta de novos investimentos
Autor: Giffoni , Carlos
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2013, Brasil, p. A2

Enquanto a produção industrial no Brasil não dá sinais consistentes de fortalecimento, a produtividade do setor acumula quedas. Entre janeiro e novembro de 2012, a produtividade industrial recuou 0,7%, na comparação com igual período do ano anterior, segundo cálculos do Valor. Entre 18 setores pesquisados, oito perderam eficiência ao longo de 2012. Esse desempenho fraco deixado como herança para 2013 se soma à falta de investimentos e aos altos custos de mão de obra para trazer pessimismo ainda maior sobre o vigor da atividade industrial neste ano.

Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil, afirma que os ganhos de produtividade vêm, sobretudo, via investimentos, que já estão baixos na indústria. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de bens de capital acumula queda de 11,6% no intervalo entre janeiro e novembro de 2012, ante igual período do ano anterior. "Se não há investimento, não há ganho de produtividade."

Além da falta de novos investimentos, o espaço de "manobra" da indústria foi reduzido com os custos altos, principalmente em mão de obra. "O mercado de trabalho e o varejo estão aquecidos, pressionando o setor de serviços. Com isso, aumentam os custos de mão de obra e a indústria, que está com dificuldades para crescer, não consegue acompanhar", afirma.

Para Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o cenário para investimento nem está ruim, mas as incertezas que ainda marcam o cenário econômico em 2013 criam desconforto em industriais com quem ele conversou. "Os empresários têm me dito que o câmbio está favorável e que esperam aumentar as exportações, que há um mercado interno em crescimento e relativa melhora no cenário externo, mas ainda há muita incerteza e eles não devem fazer grandes apostas em 2013", diz.

Aumentar a produtividade com o emprego estagnado não é um ganho de produtividade "virtuoso", como qualifica o economista-chefe do Iedi. O ideal é quando produção e emprego crescem juntos, mas esse movimento não será observado neste ano, diz Souza. "O ano vai começar com bastante cautela. O investimento está na ponta do lápis. O custo de investir não está caro, mas ainda não se sabe se esse investimento terá retorno. Eles devem segurar o emprego mesmo que a produção volte a crescer."

A última vez em que a produtividade da indústria cresceu na comparação com o mês anterior foi em agosto, quando houve alta de 1,5%. Naquele mês, a produção industrial cresceu 1,5% ante julho, com ajuste sazonal, e o número de horas pagas na indústria não variou. "A indústria segurou o emprego durante muito tempo, o que aumentou os custos e reduziu as margens de lucro, com a produção em queda", diz Souza. Apesar de não ter variado na passagem de outubro para novembro, com ajuste sazonal, o pessoal ocupado no setor acumula queda de 1,4% em 2012, até novembro, ante igual período de 2011.

Leandro Padulla, economista da MCM Consultores, projeta queda de 0,8% da produção industrial em dezembro, na comparação dessazonalizada com novembro, mas sem que haja redução no número de horas pagas, o que implica novo recuo de produtividade. São os altos custos trabalhistas embutidos nas demissões que explicam a estabilidade do emprego no setor na passagem de outubro para novembro, quando houve queda dessazonalizada de 0,6% da produção, segundo o economista do Rodrigo Lobo, do IBGE. De acordo com ele, para os empresários, ainda não ficou claro qual será o cenário da atividade industrial nos próximos meses. "Para evitar custos trabalhistas, os empresários mantiveram as vagas", diz.

Mariana, do ABC Brasil, não acredita num cenário otimista para a produtividade da indústria em 2013. Segundo ela, a produtividade não deve recuar, como em 2012, mas, na melhor da hipóteses, considerando um crescimento da atividade geral na ordem de 3,5%, a produtividade crescerá "bem pouco". No entanto, a economista aposta que novos incentivos fiscais do governo ainda devem vir em 2013 e outros, como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que oferece taxas de juros mais baixas para investimentos em máquinas, tratores e caminhões, podem surtir efeito mais visível ao longo deste ano. "O investimento pode vir daí, em bens de capital, mas os dados da indústria, até agora, não mostraram isso."

De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), do IBGE, divulgada sexta-feira, o pessoal ocupado na indústria não variou na passagem de outubro para novembro, feitos os ajustes sazonais. No entanto, o número de horas pagas caiu em 0,2% e a folha de pagamento real cresceu 7,8% - puxada pelo 13º salário e participação nos lucros. (Colaborou Diogo Martins, do Rio)