Título: Demanda interna por MDF atrai investimentos
Autor: Jurgenfeld, Vanessa e Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2007, Empresas, p. B7

Três grandes madeireiras do Paraná estão investindo em novas unidade para a fabricação de MDF, produto voltado à fabricação de móveis com forte demanda no mercado interno e segmento no qual hoje não atuam. A Guararapes e a Sudati vão instalar fábricas em Santa Catarina, com investimentos que somam R$ 60 milhões e R$ 70 milhões, respectivamente. Já o grupo Berneck investe em uma unidade em Araucária (PR).

O investimento da Sudati, primeiro em Santa Catarina, será na cidade de Otacílio Costa e será a primeira de MDF em todo o Estado. A Guararapes produzirá em Caçador, no meio oeste. A empresa possui uma unidade de compensados de pinus em Santa Cecília (SC). "Esse produto estará direcionado ao segmento moveleiro e ao mercado interno, para suprir a demanda reprimida", diz Luiz Sudati, presidente da Sudati.

O novo foco no MDF tem relação com a boa aceitação desse tipo de placa de madeira no mercado interno. Atualmente, segundo empresários do setor, algumas empresas estão importando MDF da Argentina, Chile e China. A entrada no segmento permitirá que as empresas, voltadas principalmente à produção de itens para exportação, tenham alternativa para escapar dos efeitos da valorização do real ante o dólar.

Segundo Ricardo Pedroso, diretor da Guararapes, o MDF não só permitirá a entrada no mercado interno como aumentará vendas para outros países. "Pretendemos suprir mercados em que não haja produção local, como as ilhas do Caribe, África do Sul e Oriente Médio, onde poderemos almejar preços melhores, estando em condições de competir com fabricantes da América do Norte e Europa."

Sudati e Guararapes possuem administração independente, mas são empresas cujos donos possuem parentesco e negócios em comum. A Sudati, com 2,5 mil funcionários e seis unidades, é presidida pelo genro de João Carlos Pedroso, presidente da Guararapes, que tem 2 mil empregados e duas fábricas. Ambas têm sede em Palmas (PR) e fabricam compensados de pinus para o exterior.

A Sudati tem previsão para começar as atividades em maio do ano que vem. A Guararapes ainda está em busca do terreno, mas a idéia é iniciar em junho de 2008. Ambas terão capacidade de produção de 180 mil metros cúbicos/ano. Já a Berneck, que atua atualmente com serraria e MDP, um novo tipo de aglomerado, deve colocar em operação sua fábrica de MDF em março de 2008, com capacidade para produção de 340 mil metros cúbicos/ano. A empresa não revelou os investimentos.

No caso das fábricas em Santa Catarina, a instalação das unidades levou em conta a abundância de matéria-prima. Otacílio Costa, por exemplo, possui 250 mil hectares de florestas, cerca de 95% composta por pinus e 5% de eucaliptos. Atualmente, segundo o prefeito Altamir Paes (PMDB), a maior parte das vendas de madeira se dá para a Klabin, que tem unidade de celulose no município. "A vinda da Sudati vai permitir que haja mais compradores para a madeira que temos", diz. Nos últimos 10 anos, o município praticamente dobrou sua área de florestas e o preço vem em queda por conta do câmbio.

Produzido no Brasil desde 1997, o Medium Density Fiberboard (MDF) é usado pela indústria moveleira em diversas áreas do móvel, desde laterais, gavetas e áreas frontais. Hoje as grandes fabricantes no Brasil são a Tafisa, do grupo Sonae, e a Masisa. A entrada de novos competidores é bem vista por fabricantes de móveis. O presidente da Abimóvel, José Luiz Fernandez, contou que, por conta da demanda maior, no ano passado faltou aglomerado e o prazo de entrega de MDF cru, sem revestimento, passou de 15 para 30 dias. Segundo ele, o preço do produto teve aumento de 3% em dezembro e de 8% em fevereiro e há rumores de que novos reajustes podem acontecer por conta de dissídios coletivos.

Para se instalar em Santa Catarina, as empresas estão recebendo incentivos fiscais, sendo integradas ao programa Prodec: compras realizadas dentro do Estado estarão isentas de ICMS, investimentos em ativo imobilizado e importações também estarão isentos, e nas vendas que fizerem, a incidência de ICMS será postergada de 4 a 5 anos, tendo a empresa na época do pagamento desconto de até 40%.