Título: Cotação do petróleo é o maior risco
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Fonte: Valor Econômico, 14/01/2013, Brasil, p. A3

Com o aumento do comércio bilateral, a Venezuela saltou do posto de 11º maior parceiro comercial do Brasil para o oitavo lugar, no ano passado. No governo, segundo um assessor da presidente Dilma Rousseff, o tema não chegou a fazer parte dos contatos recentes com a administração venezuelana, por estar no "piloto automático", sem ameaças de mudanças significativas em curto ou médio prazo. Para o diretor-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, é o futuro dos preços do petróleo, mais que as circunstâncias políticas, o principal fator a influenciar o desempenho do comércio bilateral, no futuro próximo.

"Os Estados Unidos planejam aumentar em 25% sua produção em dois anos, e isso certamente afetará o preço", comentou Castro. Uma queda pronunciada nas cotações do óleo poderia afetar a capacidade de compra dos venezuelanos e levá-los a buscar opções de fornecedores, mais baratas. Em 2008, o governo venezuelano foi obrigado a rever as contas orçamentárias, com a queda nos preços do petróleo, bem abaixo das previsões dos venezuelanos, na época. Não há previsão de queda semelhante, agora, mas, assim como os preços das commodities agrícolas e do minério de ferro pesam nas contas externas do Brasil, o petróleo dita a saúde financeira da Venezuela, lembrou Castro.

Tudo dependerá das decisões do governo venezuelano, porém, já que o Estado assume não só boa parte das importações, diretamente, como também controla o complexo regime de câmbio venezuelano, em que as cotações oficiais, usadas pelas compras governamentais, apontam o dólar abaixo de 5 bolívares fortes, a moeda local; e, no mercado negro, a moeda americana é negociada a até 18 bolívares fortes.

A renda com a venda de petróleo estatal representa entre 15% a 16% do produto Interno bruto da Venezuela, o que torna o preço de petróleo um dos elementos-chave do orçamento federal. Para o presidente da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, José Francisco Marcondes, há espaço suficiente para acomodar uma eventual queda no preço do petróleo, já que, desde 2012, o orçamento federal é calculado tomando por base uma cotação de US$ 50 por barril, bem abaixo dos US$ 103 em média do ano passado. "O governo conseguiu no ano passado uma liquidez interna muito grande e uma capacidade de compra muito alta", disse Marcondes. (SL)