Título: Partido tenta evitar disputa no Senado
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2013, Política, p. A8

Com a perspectiva de confirmação de Renan Calheiros (PMDB-AL) como candidato à presidência do Senado - e sua homologação no plenário -, as lideranças do partido buscam evitar uma disputa entre Romero Jucá (RR) e Eunício Oliveira (CE) pela vaga de líder da bancada. Uma das soluções negociadas é desmembrar duas funções hoje acumuladas por Renan: líder do PMDB e líder da maioria, bloco que reúne PMDB, PP e PV.

O acordo ainda não está fechado. Ambos continuam pedindo votos a colegas para a liderança da bancada, vaga que só será aberta com a confirmação de Renan para presidente da Casa. Os pemedebistas retornam a Brasília por volta do dia 20 de janeiro, para deslanchar as conversas em torno da candidatura a presidente do Senado, da escolha do líder e da ocupação dos demais cargos destinados ao PMDB na Casa.

A disputa no PMDB do Senado não preocupa o governo como a que está acontecendo na bancada pemedebista da Câmara dos Deputados pela liderança. Nenhum dos dois senadores que estão na briga representa ameaça de complicar a vida do governo no comando da bancada. Os dois nomes são palatáveis ao Planalto e a escolha de um ou outro não muda a correlação de forças no partido.

Mesmo assim, o vice-presidente da República, Michel Temer, presidente nacional do PMDB licenciado, trabalha pelo entendimento. Temer, deverá ser reconduzido em março na presidência do partido. O PMDB quer fortalecer sua posição como vice na chapa de Dilma Rousseff para 2014.

O que menos interessa à cúpula do partido é acirrar divisões, que enfraqueciam a legenda no passado. A intenção é manter o PMDB unido em torno de Temer, aproveitando o poder que terá nos próximos dois anos presidindo Câmara e Senado.

Pelo entendimento tentado pelas lideranças, Eunício substituiria Renan no comando da bancada, cuidando das questões internas da legenda, que tem hoje 20 senadores no exercício do mandato. Jucá, com a experiência e habilidade de ex-líder do governo, responderia pela liderança do bloco da maioria, que reúne PMDB, PP (cinco senadores) e PV (1).

Eunício: ficaria com o comando da bancada, cuidando das questões internas

Jucá é do grupo de Renan, Sarney e o senador Valdir Raupp (RO), presidente em exercício do partido. Eunício, hoje integrado a esse grupo, era muito próximo do então deputado Michel Temer, quando havia disputa de poder e embates públicos entre as bancadas da Câmara e do Senado.

Na Câmara, o governo teme a vitória de Eduardo Cunha (RJ), um dos favoritos à liderança da bancada de 75 deputados. Com ligações no setor elétrico, Cunha criou problemas para o Planalto, alguns com apoio do líder, Henrique Eduardo Alves (RN), que deve presidir a Casa em substituição ao petista Marco Maia (RS). O principal concorrente de Cunha na disputa pela liderança é Sandro Mabel (GO). Mas correm por fora Osmar Terra (RS), Danilo Fortes (CE) e Marcelo Castro (PI).

No caso do Senado, Jucá não é visto como risco de causar problemas, apesar de ter perdido a função de líder do governo para Eduardo Braga (PMDB-AM). Mesmo após a troca, Jucá tem colaborado com o Planalto.

Ex-presidente do Senado, o líder renunciou ao cargo em 2007 em meio a processos por suposta quebra de decoro parlamentar. Foi absolvido no conselho de ética e no plenário. Mas, para reduzir a exposição às críticas, decidiu protelar a oficialização de sua candidatura até poucos dias da eleição, marcada para 1º de fevereiro.

A divisão das duas tarefas hoje acumuladas por Renan (líder do PMDB e da maioria) não significaria apenas a criação de espaço novo, com gabinete, funcionários e estrutura própria. Representaria também divisão de poder, possibilidade de orientar bancadas, participar das decisões dos líderes, como escolha de relatores de medidas provisórias.

Na mesa diretora, além da presidência (por ter a maior bancada), cabe também ao PMDB a segunda-vice-presidência, hoje ocupada por Waldemir Moka (MS). Acomodar Eunício ou Jucá nesse cargo é opção para evitar a disputa pela liderança, mas, por enquanto, nenhum deles aceita.

O PMDB tem direito de presidir três comissões permanentes do Senado, a mais importante delas a de Constituição e Justiça (CCJ), que está sob o comando de Eunício até o começo da próxima sessão legislativa, em fevereiro.

O senador mais cotado pelo grupo de Renan para a CCJ é Vital do Rêgo (PB), ex-deputado que ganhou a confiança e tornou-se próximo da cúpula. Mas outro considerado postulante à vaga é Luiz Henrique (SC), que - estimulado pelo grupo do PMDB que se diz independente do comando do líder - chegou a alimentar a expectativa de ser indicado para presidir o Senado.

Em 2013, caberá ao PMDB do Senado indicar o presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso. Há, ainda, a presidência da comissão mista permanente sobre mudanças climáticas.

A função de líder do governo no Senado não está no tabuleiro dos dirigentes do PMDB, embora seja ocupada por um pemedebista, Eduardo Braga, e haja compromisso da presidente Dilma Rousseff de rodízio na cadeira.

Braga tem sido criticado na tarefa, por falta de jogo de cintura, dificuldade de negociar e ouvir os colegas e não resolver os problemas. Mas, se houver troca, trata-se de escolha pessoal da presidente. Além disso, o fato de o PMDB presidir as duas Casas do Congresso pelo próximo biênio leva o PT a postular a liderança do governo no Senado.

Enquanto isso, os "dissidentes" do PMDB já admitem ter fracassado na tentativa de encontrar um nome no partido para disputar com Renan a indicação a presidente do Senado. O líder, hoje, tem apoio da maioria. Somente o surgimento de um fato novo poderia tornar seu nome inviável. Nesse caso, encontrar candidato não seria problema.