Título: Senador do PSOL diz que vai ajudar
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Fonte: Valor Econômico, 14/01/2013, Política, p. A8

Se a missão de Marina é mais complicada do que foi a de Kassab, em 2011, a ex-senadora poderá contar, por outro lado, com a ajuda de partidos e políticos aos quais apoiou em seu giro pelo país na eleição municipal passada. O senador do Amapá Randolfe Rodrigues, do PSOL, afirma que pretende colher assinaturas no Estado para o novo partido. Randolfe diz que a presença da ex-ministra na campanha que elegeu o prefeito de Macapá, Clécio Luís, foi "muito importante" para a conquista da primeira capital pelo PSOL. E não vê problema em mobilizar a base para colaborar com um projeto concorrente, já que o PSOL cogita lançar seu nome à Presidência em 2014, quando Marina Silva também poderá estar no páreo. Randolfe espera que sua atitude não seja reprimida pelos correligionários.

"Se o PSOL já foi vítima disso, não acho bom criminalizar. O partido deve ter uma relação solidária", diz Randolfe.

O senador refere-se à retaliação do PT e do PSTU contra integrantes destes partidos que decidiram, em 2004, colher assinaturas para a fundação do PSOL. "Quando a Heloisa Helena me pediu ajuda, eu estava no PT, não pensava em sair, e fiz questão de colaborar. O PSOL, à época, condenou as ações de setores, no mínimo, arrogantes do PT e do PSTU que buscavam desmobilizar o movimento de coleta de assinaturas", diz.

O parlamentar nega que sua aproximação signifique que vá se filiar ao eventual partido de Marina Silva. O senador, no entanto, tem contatos frequentes com o grupo e esteve em uma "reunião embrionária" do Movimento Nova Política, em junho de 2011, assim que a ex-ministra saiu do PV. Randolfe lembra que lá também estavam os senadores Cristovam Buarque (DF) e Pedro Taques (MT), ambos do PDT, e Eduardo Suplicy (PT-SP), apontados como possíveis interessados em se filiar ao novo partido de Marina.

Na Câmara, os mais próximos são os deputados tucanos Walter Feldman e Ricardo Tripoli, de São Paulo; Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ).

Feldman e Tripoli estiveram no começo de dezembro no escritório de Marina em Brasília e estreitaram os laços. "Foi um reencontro e ela ficou de nos convidar para uma conversa no início do ano legislativo [em 1º de fevereiro]", afirma Feldman, que diz já ter conversado muito sobre o assunto com o colega Tripoli. "Hoje, há mais democracia - que virou um método - do que república. Existe um sentimento forte em Brasília de cansaço generalizado. O país precisa de um "chacoalhão"", defende o deputado.

Em 2011, o serrista Feldman chegou a anunciar sua saída do PSDB, mas depois fez as pazes com o governador Geraldo Alckmin e voltou atrás.

Reguffe diz estar bem no PDT e que não pretende sair da legenda, pela qual poderia se lançar ao Senado ou ao governo do Distrito Federal, em 2014. Mas defende alguns dos pontos mais mencionados no discurso dos marineiros, como maior democracia e transparência nas contas partidárias; a permissão para candidaturas avulsas (pondo fim ao monopólio da representação dos partidos) e a proibição de doações de campanha oriundas de pessoas jurídicas. "A Marina acha que o Parlamento está envelhecido. A dúvida é se vai conseguir algo novo", diz Reguffe.

Movida pela busca da novidade é que Marina recusou o caminho mais fácil de entrar em siglas como o PEN e PPS. O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, fez o convite e disse que Marina e seu grupo teriam espaço na Executiva do partido. Poderiam até modificar o estatuto da legenda para "reforçar a visão ambiental" da sigla. Mas a ex-ministra não aceitou.

Marina, no entanto, terá no PPS a colaboração do vereador Ricardo Young, a quem apoiou na eleição do ano passado. "Eu sou do Movimento por uma Nova Política. E estou no PPS. Vou contribuir com tudo que for possível. Isso foi negociado lá atrás", afirma Young.

O vereador diz não acreditar que a coleta de assinaturas será o maior empecilho à eventual criação do partido. "Os maiores problemas são o jogo de interesses, o projeto [que restringe o acesso ao tempo de TV e fundo partidário] em tramitação na Câmara e a demora de alguns tribunais regionais, sob pressão política, para aprovar a documentação, como se viu no caso do PSD do Kassab", aponta Young. (CK, colaborou Cristiane Agostine)