Título: Queda do dólar é o maior risco para a Ásia, diz ONU
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2007, Internacional, p. A11

O risco de uma "depreciação abrupta" do dólar pesa sobre as economias da China e dos outros emergentes da região Ásia Pacífico, locomotiva cada vez mais importante da economia mundial.

A avaliação é das Nações Unidas, que destaca o nível sem precedentes de US$ 2,25 trilhões de reservas internacionais acumuladas pelos países emergentes da região no final de 2006. A China tinha 40% do total, US$ 1 trilhão, no final do ano. Hoje chega a quase US$ 1,2 trilhão.

O relatório anual da Comissão Econômica da ONU para a Ásia Pacífico (Unescap) prevê que a economia da região crescerá, pelo oitavo ano consecutivo, mais que o resto do mundo. A expansão este ano deve ficar em 7,4%, contra 7,9% registrados no ano passado.

Apesar disso, a ONU alerta que a região está mais vulnerável a turbulências dos mercados financeiros, com a rara exceção da Malásia, que foi primeiro país a controlar a entrada de capitais de curto prazo.

A instituição avalia que as moedas asiáticas continuarão se valorizando em 2007, no rastro do enorme déficit do balanço de conta corrente dos EUA, que subiu mais US$ 100 bilhões no ano passado, e do persistente fluxo de capitais.

O maior desafio para as economias da região será assim administrar a política cambial e frear fluxos especulativos de curto prazo.

A ONU calcula que uma "forte e abrupta" desvalorização do dólar provocaria uma apreciação real das moedas asiáticas em cerca de 33%, golpeando a capacidade das economias manterem preços competitivos nas suas exportações.

Em 2006, as moedas asiáticas continuaram fortes por causa do superávit maior que previsto nas contas correntes. Também foi alto o fluxo de capitais, parte dele destinado a especulação, o que elevou os preços imobiliários. Só em Seul, capital da Coréia do Sul, os preços de apartamentos subiram 24%.

O bath, moeda da Tailândia, valorizou 13% contra o dólar; o won sul-coreano alcançou sua maior cotação em nove anos ante o dólar e o iene japonês. A rupia indonésia, o dólar de Cingapura e o peso filipino também subiram perto de 8% contra a moeda americana.

Apesar de temores generalizados, essa apreciação "não erodiu seriamente" a competitividade das indústrias exportadoras. Mas as autoridades continuarão enfrentando o dilema entre a preocupação inflacionária e a prevenção da valorização cambial.

"É impossível tratar ao mesmo tempo três objetivos - livre movimento de capital, controle sobre as taxas de câmbio e uma politica monetária independente para controlar a inflação", diz o estudo.

Vários países asiáticos procuram controlar a inflação através da alta de juros, que por sua vez eleva a acumulação de reservas internacionais. Só que a situação chegou a tal ponto que é hora de pesar os benefícios e os custos dessa política.

Como a maior parte das reservas asiáticas está aplicada em ativos em dólar, a queda persistente da moeda americana em 2006 causou perdas de capital. E a situação pode se repetir este ano, diz a ONU. Por isso, recomenda que os bancos centrais da região comecem a pensar em utilizar parte dessas reservas em investimentos mais produtivos, como em infra-estrutura.

O enorme superávit comercial da China tem gerado tensão com os EUA. O relatório da ONU mostra, por sua vez, que a parte do consumo caiu na China, situação atribuída à "poupança de precaução".