Título: Alemanha minimiza contração do PIB
Autor: Steen, Michael
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2013, Internacional, p. A12

Turbulência decorrente do pior da crise da dívida do ano passado, e não renovadas nuvens de tempestade. Assim foi interpretada ontem a confirmação de que a economia alemã se contraiu no último trimestre de 2012, ainda que não possa escapar de um período de baixo crescimento.

O governo, que está se preparando para uma eleição no segundo semestre, aproveitou a oportunidade para salientar o fato de que está adiantado no cumprimento do seu compromisso de "conter o endividamento" para obter um orçamento equilibrado.

Wolfgang Schaeuble, o ministro das Finanças, disse que o governo tem como objetivo elaborar um orçamento para este ano sem aumento estrutural da dívida em nível federal.

O superávit de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para todos os ramos do governo reportados pelo Escritório Federal de Estatísticas representa o primeiro orçamento equilibrado alemão desde 2007, graças a um déficit orçamentário federal menor e a um superávit dos governos locais e da seguridade social, decorrente do baixo desemprego.

Então, o que causou a brusca contração no final do ano? O birô estatístico disse que o crescimento do PIB para o ano inteiro foi 0,7%, ou 0,9% ajustado pelos dias úteis - abaixo dos 3%, ou 3,1% em base ajustada no ano anterior. Seus estatísticos estimam uma contração de 0,5% no último trimestre, embora uma estimativa mais precisa só estará pronta no próximo mês.

A forte queda nos investimentos das empresas em máquinas e equipamentos, apesar do financiamento abundante e barato, parece ter sido o motivo da reversão. Isso está provavelmente ligado ao nervosismo em torno da crise da zona do euro, que agora cedeu, conforme refletido em pesquisas prospectivas, tais como o índice Ifo, que reflete o ânimo do empresariado.

"Em suma, a ligeira contração do PIB no fim de 2012 não é motivo para pessimismo diante de 2013", disse Rolf Schneider, economista da Allianz, em nota, reiterando uma previsão otimista de crescimento de 1,2% para o PIB alemão neste ano.

"Esperamos que o esfriamento seja de relativamente curta duração, em vista dos sinais mais recentes de uma retomada da atividade econômica mundial", disse Rainer Sartoris, economista do HSBC. "O início de 2013 provavelmente será irregular, mas espera-se uma recuperação no decorrer do ano."

O governo, que apresenta hoje suas previsões econômicas, vai reduzir sua previsão de crescimento em 2013 para "cerca de 0,5%", de acordo com o jornal "Handelsblatt", citando uma cópia vazada do relatório, de uma previsão anterior de 1%.

O consumo das famílias cresceu 0,8%, mais lentamente do que no ano anterior. O aumento das exportações superou o das importações, deixando Berlim com um superávit comercial que contribuiu 1,1 ponto percentual para o crescimento do PIB, de acordo com o birô estatístico.

O superávit comercial deu margem a acusações de que a Alemanha não está fazendo o suficiente para estimular a demanda doméstica, que poderia aumentar as importações e ajudar outros países da zona euro. Mas os dados de comércio do Eurostat, birô de estatísticas da UE, para novembro, referente à zona do euro como um todo, revelaram que o superávit comercial do bloco com o resto do mundo cresceu para € 13,7 bilhões, em comparação com € 4,9 bilhões um ano atrás.

Apesar de parte do excedente ser decorrente de uma redução das importações pelos países atingidos pela crise, os aumentos nas exportações desses mesmos países reforçam o argumento de que as reformas estruturais visando melhorar a competitividade estão começando a surtir efeito e a aliviar os danos da recessão na zona do euro como um todo, formada por 17 países.

Dados da balança comercial por país referentes aos primeiros dez meses do ano mostraram que a Espanha, Portugal e a Grécia tiveram déficits menores do que no mesmo período em 2011, ao passo que a Itália passou de um déficit para um superávit.

"O comércio líquido pode ter amortecido o impacto da crise de confiança e a dura austeridade em muitos países", disse Christian Schulz, economista do Banco Berenberg. "A zona do euro beneficiou-se do crescimento da demanda em outros países, ao mesmo tempo em que não contribuiu com grande demanda por bens do resto do mundo."