Título: Incerteza reduz intenção de investimento privado
Autor: Leo, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2013, Especial, p. A16

O percentual de empresas com intenção de investir, no início de 2013 (85,4%), é o menor registrado dos últimos quatro anos. O percentual de empresas que efetivamente investiram em 2012 (80,2%) também caiu: foi o menor em quatro anos, 8,5 pontos percentuais abaixo do realizado em 2011. As empresas aumentaram sua preferência pelos investimentos voltados ao mercado doméstico, em lugar do externo, e continuam apontando as incertezas e a demanda insuficiente como maiores obstáculos à realização dos investimentos. Aumentou, também, a preocupação com problemas como as dificuldades para obter financiamento e as restrições ambientais. Essas são as principais conclusões da pesquisa Investimentos na Indústria, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

"Há uma reavaliação da demanda e da capacidade ociosa", comentou o gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. "Há uma avaliação de que não há necessidade de ampliação da capacidade". A pesquisa pode ser lida com um viés otimista, porém: o percentual de empresas, no país, dispostas a investir em 2013 é maior do que a parcela que efetivamente investiu no Brasil em 2012.

A pesquisa da CNI mostrou que apenas uma em cinco empresas considera sua capacidade instalada insuficiente para atender a demanda futura (percentual maior que o registrado para 2012, 16,4%). Esse indicador aponta as necessidades de ampliação do parque produtivo. Mas 30,7% das empresas que pretendem investir disseram que aplicarão recursos para aumentar a capacidade de produção.

Os indicadores da CNI sugerem que deve aumentar a compra de máquinas e equipamentos em 2013: 58% das empresas prevê aumento na compra de bens de capital, destinados à produção (eram 46% em 2012), e 24,4% acreditam que essas compras manterão o mesmo patamar de 2012.

"É um dado importante, porque máquinas e equipamentos sempre trazem alguma melhora do processo produtivo e da competitividade", comentou Castelo Branco. "O lado menos favorável é que a participação dos importados tende a aumentar nas empresas." Em 2013, a importação de bens de capital deve aumentar, para 38,5% das empresas, 40,5% acreditam que continuará no mesmo nível e apenas 21% preveem redução.

Caiu o número de firmas que planejam investir para melhoria do processo produtivo atual (de 35,7% em 2012 para 34,8% em 2013), embora esse ainda seja o principal motivo dos investimentos. Castelo Branco nota, porém, que aumentou de forma expressiva o percentual de empresas com planos de investimento para lançar novos produtos, sinal do esforço para aumentar a competitividade contra os concorrentes importados: era 14,5% das empresas em 2012, aumentaram para 18,4% em 2013.

Em 2012, apenas metade das empresas investiu como planejado, e a maioria aponta duas causas para a frustração dos planos: a incerteza econômica (apontada por 44%) e a reavaliação da demanda (40%). Como sinal de melhoria relativa, em 2011, era bem maior o percentual de empresas que apontava essas duas causas como danosas aos planos de investimento: 58,9% e 42,6%, respectivamente. Também foram indicados como obstáculo importante aos investimentos o custo do crédito ou financiamento (24,5%) e a dificuldade para obter financiamento (23,6%).

Para 2013, as empresas querem contar com recursos públicos para financiar seus investimentos, mas, embora o mesmo percentual de empresários desejasse o mesmo em 2012, o setor privado foi obrigado a usar recursos próprios para financiar, em média, 65,8% do valor investido. Castelo Branco chamou atenção para o significativo percentual de investimentos apoiados por bancos comerciais públicos, que tradicionalmente não operam nesse tipo de financiamento: 6,6% em 2012, quase o mesmo percentual dos investimentos apoiados por bancos privados.

Para 2013, as empresas esperam contar com as instituições públicas para sustentar 8% de seus investimentos, reflexo dos programas oficiais de apoio à indústria, acreditam os especialistas da CNI. Caiu, porém, a parcela dos investimentos que foram sustentados por bancos de desenvolvimento, de 21,8% em 2011 para 18% em 2012. Para 2013, as empresas esperam aumentar de 34% para 48% o uso de recursos de terceiros no financiamento de seus investimentos.

A pesquisa da CNI constatou uma tendência de queda no interesse em investimentos voltados a atender o mercado externo. Apenas 4,7% das empresas querem investir para atender principalmente ou exclusivamente o mercado externo em 2013, e apenas 0,6% têm esse mercado como seu principal objetivo. Os investimentos voltados exclusivamente ao mercado doméstico ocupam 43% das empresas que pretendem investir neste ano. Quase 90% das empresas querem investir para atender exclusivamente ou principalmente o mercado interno. Esse pouco interesse pelo mercado exterior é visto pelos especialistas da CNI como sinal da perda de competitividade das empresas instaladas no país.