Título: Derivativos para o povo
Autor: Pavini, Angelo
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, EU & Investimentos, p. D1

O investidor comum pode não perceber, mas os derivativos - sinônimo de proteção, ganhos, e para muitos, também de grandes riscos - estão mais perto do que ele pensa. E não apenas em fundos mais sofisticados, como os multimercados ou de capital garantido, como também nos conservadores fundos DI, transformando um singelo papel prefixado em um pós-fixado com ganho diário pelo overnight.

A novidade é que esses derivativos chegam agora diretamente ao pequeno e médio investidor, sem a intermediação de um gestor especializado. Um exemplo é o POP, da Bovespa, que oferece aplicações em ações com garantia de parte do principal usando opções. O Banco Itaú também está oferecendo para os clientes de varejo de alta renda o Capital Garantido, um investimento que, por meio do mercado de opções de câmbio, garante um retorno acima da renda fixa tradicional, a partir de R$ 35 mil. A proposta é que ainda este ano ele esteja no site do banco, permitindo aos clientes do segmento Personnalité aplicações via internet, como ocorre com um CDB ou um fundo, diz Luiz Marcelo Moraes, diretor de Negócios Financeiros do banco. "Mas o Capital Garantido não é fundo, é uma aplicação feita pela tesouraria onde o risco é o próprio Itaú, como um CDB", diz ele.

A proposta do banco é "empacotar" uma operação sofisticada de derivativos transformando-a em uma aplicação simples, que o cliente comum possa entender e que tenha um risco menor, explica Moraes. "Começamos em 2004 com empresas menores, para que elas se protegessem do risco de variações de câmbio ou juros, depois passamos para os clientes private e agora estamos chegando ao varejo mais sofisticado", diz o executivo. Há um cuidado especial em desmistificar o derivativo, que ainda causa receio em muitos investidores por conta de operações erradas feitas no passado e que provocaram fortes prejuízos para empresas e fundos. "Usamos o lado bom do derivativo, como proteção e como alternativa para ganhar mais".

A operação segue o padrão dos mercados de opções - direito de compra ou venda de um ativo no futuro a determinado preço -, onde o investidor pode ganhar muito ou sair sem rentabilidade alguma, mas sem perder o principal. No caso do Capital Garantido do Itaú, o investidor aplica o dinheiro escolhendo uma cotação para o dólar no futuro, para cima ou para baixo do valor atual. Se a variação, positiva ou negativa, se confirmar, o cliente fica com 70% a 80% do ganho. Se não, o cliente recebe o dinheiro de volta sem correção. A operação é orientada pelo gerente do banco, que indica no dia da aplicação as opções mais recomendadas. E o resultado pode ser um retorno de 108% do CDI, para 94% do CDI que o investidor conseguiria se aplicasse em um CDB tradicional, estima Moraes.

"A vantagem é que, no pior cenário, onde o investidor saca o que aplicou, ele não perde muito, pois a rentabilidade da renda fixa está caindo", explica Moraes. "Em compensação, ele tem a chance de ganhar mais caso a operação dê certo". A idéia, diz, é oferecer ao varejo uma opção de diversificação com um pouco mais de risco, em um momento em que os juros reais em queda aumentam a procura por aplicações mais arriscadas. "Recomendamos no máximo 30% do portfólio nessas operações", diz. Os prazos podem chegar a um ano, mas em geral são mais curtos, em torno de 90 a 180 dias. "Um prazo muito longo tem maior risco de volatilidade", lembra Moraes.

Lançado em 10 de janeiro, o Capital Garantido registra uma média de mil operações por mês, com um valor médio de R$ 50 mil, mas há caso de aplicações de até R$ 700 mil. O projeto é tornar esse tipo de aplicação ainda mais popular, chegando ao grande varejo. "Nossa idéia é, a longo prazo, permitir aplicações desse tipo a partir de R$ 200, R$ 500 nos caixas eletrônicos do banco", diz.

Dentro do embrulho do Capital Garantido, o investidor tem um CDB normal acompanhado de uma opção em uma moeda, que pode ser dólar ou euro. Nos próximos meses, o banco pretende usar também opções sobre o Ibovespa. A operação é montada pela tesouraria do Itaú, que procura no mercado opções que possam oferecer um bom retorno, e que são então oferecidas aos clientes. "Juntamos todas as aplicações e fazemos uma operação grande no mercado".

Na mesma linha de popularizar os derivativos para o investidor, a Bovespa lançou em fevereiro o POP, um sistema onde o investidor compra uma ação e, ao mesmo tempo, uma opção de compra e outra de venda dessa mesma ação em um pacote só. A partir dessas operações, caso a ação suba, o investidor recebe um percentual do ganho, 70%, 80%, dependendo da opção escolhida no início. Já se a ação cair, ele terá garantido um percentual do principal, também definido no ato da aplicação, mas perto de 90% do valor aplicado.

A idéia da Bovespa é atrair quem não está no mercado de ações, quer entrar, mas tem medo de perder e, ao mesmo tempo, despertar o interesse do investidor para conhecer os derivativos, afirma Wagner Anacleto, gerente de controle de risco da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC). "Aumentando a negociação de derivativos, você vai ampliar as oportunidades e o interesse dos investidores", diz.

Anacleto nota uma maior procura pelo POP por parte de clientes de alta renda de private banks, que até pediram a inclusão da AmBev entre os papéis que oferecem a estrutura - Bradesco, Banco Itaú, Petrobras, CSN, Telemar, Usiminas e Vale do Rio Doce.

"A vantagem é o interesse que as pessoas têm demonstrado por instrumentos de proteção ao investimento, buscando informações sobre derivativos", afirma Anacleto. "Muita pessoas achavam que derivativo era só para especulador, para alavancagem, e agora entendem que ele serve também para reduzir riscos", diz. Ajuda nesse trabalho da Bovespa o maior preparo das corretoras com relação ao funcionamento dos derivativos e como explicá-los aos investidores. "Mas temos consciência que não é uma coisa que, logo no início, vai ter um monte de gente procurando".

Os números do POP ainda são discretos. Em fevereiro, mês do lançamento e de maior divulgação, foram registrados 249 negócios, número que caiu para 177 em março e 37 em abril, até dia 18. No acumulado, foram 463 negócios, ou R$ 12,934 milhões, com uma média mensal de 153 operações, no valor de R$ 4,312 milhões por mês.