Título: Exportadores de carne pedem ação contra barreiras impostas na Ásia
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2013, Brasil, p. A4

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) vai solicitar oficialmente ao governo uma ação diplomática mais severa contra Japão, Coreia e Taiwan, em resposta às barreiras levantadas nesses países às exportações de carne brasileira, no ano passado.

As medidas foram tomadas pelos três países depois da descoberta do agente causador do mal da vaca louca durante autópsia de uma rês morta em 2010, no Paraná. Se não houver resposta dos governos, o país pode abrir um caso contra os países na Organização Mundial do Comércio (OMC).

"O setor não pode esperar o que aconteceu com a manga, que levou 24 anos, para ter importações liberadas no Japão", disse o presidente da Abiec, Antônio Camardeli, ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor "Esses países sempre inventaram imbróglios para não permitir importação de carne in natura", afirmou o presidente da entidade.

"A Organização Internacional de Saúde Animal [OIE] é cristalina, a carne maturada e desossada não tem risco nenhum", disse, criticando a decisão de bloquear a entrada do produto nos três países.

Segundo Camardeli, antes de recorrer à OMC, porém, o setor pedirá ao governo ações diplomáticas, como a revisão de acordos sobre comércio de produtos de origem animal com esses países, ou a provocação à OIE para que convoque os delegados dos países envolvidos e cobre explicações para justificar as barreiras ao produto do Brasil.

Para o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, o Brasil, "aparentemente, tem um caso muito bom" a apresentar na OMC, contra as barreiras à carne. "Tendo já atuado nessa área (de disputa comercial), sou sempre muito cauteloso antes de colocar carimbo de aprovado em qualquer decisão que diga respeito a um contencioso)", ressalvou o diplomata.

Se, após um levantamento sobre as barreiras e as violações às regras da OMC, o setor privado comprovar que há um caso "sólido" a apresentar na OMC e tiver interesse, "faz parte do jogo" a abertura de processo contra os países, disse o embaixador.

O governo, por enquanto, tenta convencer os países a remover barreiras aplicadas à carne e evitar a adoção de novas restrições ao produto. Segundo Azevedo, em dezembro, na sede da OMC, em Genebra, uma missão do Ministério da Agricultura reuniu-se com as delegações dos países com restrições à carne brasileira, para mostrar que o caso do Paraná foi isolado e que a carne brasileira continua classificada como de "risco negligenciável".

"Queremos elevar o patamar das discussões", disse Camardeli, que pretende discutir o caso com os dirigentes do setor privado, na primeira reunião do conselho da Abiec, neste bimestre. "Não podemos permanecer contemplativos, com os países que se negam a cumprir regras", afirmou. "Hoje em dia, não existem mais conceitos como autossuficiência ou risco zero."

O presidente da Abiec lembrou que o Japão, após o acidente nuclear na usina de Fukushima, pediu complacência de seus parceiros comerciais em relação ao temor de contaminação de mercadorias exportáveis por radioatividade. "Estamos exigindo deles a mesma parcimônia", disse.