Título: Busca desesperada por programadores búlgaros
Autor: Coy, Peter e Ewing, Jack
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Especial, p. A24

Procuram-se programadores. A oportunidade de viver num clima hollywoodiano, criar efeitos especiais - e ainda por cima ganhar um bom dinheiro - parece muito atraente, especialmente em Sofia, a cinzenta capital da Bulgária, o país mais pobre na União Européia (UE). Mas a Nu Image, de Los Angeles, que opera um centro de produção de baixo custo em Sofia, não está exatamente enfrentando uma enxurrada de formados em ciência da computação para ajudá-la a tratar digitalmente filmes como o mais recente "Rambo". Na verdade, diz Scott Coulter, produtor de efeitos visuais da Nu Image, às vezes seus anúncios de oferta de emprego não geram nenhuma resposta. "Estou em apuros", diz ele.

Se você é um programador búlgaro, engenheiro de redes romeno ou um especialista de software tcheco, sua vida está boa. Os salários dos profissionais de tecnologia da informação na Europa Central estão subindo a taxas de dois dígitos anualmente, à medida que multinacionais como Hewlett-Packard, SAP e Dell mergulham na região, absorvendo o que se imaginava ser um reservatório profundo de graduados em matemática e ciências dispostos a trabalhar por um terço do que recebem seus colegas na Europa Ocidental.

Verifica-se, hoje, que a oferta de mão-de-obra especializada está se revelando surpreendente finita. E não apenas em relação a especialistas em TI, mas também com administradores, contadores, engenheiros e outros. Gerentes de call centers ou diretores de TI na Polônia podem custar às empresas mais de US$ 100 mil por ano, incluindo benefícios, ao passo que operadores em call centers custam até US$ 23 mil, segundo a Adecco, empresa de colocação de pessoal.

Por isso, as grandes empresas estão pagando mais e migrando para o interior dos países para encontrar mão-de-obra boa e barata. A Nokia, fabricante finlandesa de telefones celulares que já emprega quase 5 mil pessoas na Hungria, anunciou em 26 de março que construirá uma nova fábrica de celulares na Romênia. E a EPAM Systems, de Nova Jersey, que desenvolve software para companhias como a Microsoft e a SAP, está prospectando locais onde se estabelecer na Rússia.

O problema é mais agudo para empresas de menor porte, que não têm o status e recursos das grandes multinacionais. Para muitas, o custo de operar nas capitais já é inviável. A Hilscher, fabricante alemã de dispositivos para comunicações, hoje em rápido crescimento, decidiu fixar-se num novo centro de desenvolvimento em Varna, cidade búlgara na costa do Mar Negro onde existe uma escola técnica. "Há muita concorrência em Sofia", diz Oleksandr Shcherbina, chefe de qualidade da Hilscher.

Executivos locais no setor de TI já sabem que precisarão competir com base em algo mais do que apenas preço. "Se você construir seu modelo econômico apenas em torno de mão-de-obra barata, manterá sua vantagem competitiva por três ou quatro anos", diz Sasha Bezuhanova, que comanda as operações da Hewlett-Packard na Bulgária. A HP, que planeja expandir seu quadro de pessoal dos atuais 600 funcionários para mais de mil em Sofia, até o final deste ano, está subsidiando cursos de informática em universidades locais para assegurar um fluxo contínuo de trabalhadores.

Os empregadores na Europa Central competem não apenas entre si, mas também com a Europa Ocidental. A escassez de mão-de-obra qualificada na Romênia foi agravada pelos estimados 2,5 milhões de romenos - numa população de 22,3 milhões - que migraram para trabalhar no exterior.

Mas a globalização do mercado de trabalho também pode contribuir favoravelmente. O búlgaro Andrey Kalo passou quase doze anos trabalhando em várias empresas em São Francisco, antes que a HP o atraísse de volta à sua nativa Sofia para participar do gerenciamento de servidores a serviço de grandes clientes. A remuneração é um pouco menor, mas o baixo custo de vida implica que ele poderá desfrutar um padrão de vida melhor. "Estou contente por ter voltado para casa", diz Kalo.