Título: BC vai manter compras de dólar, diz Torós
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Finanças, p. C3

O Banco Central manterá a política de acumulação de reservas cambiais, via intervenções de compra no mercado de câmbio, na gestão do seu próximo diretor de Política Monetária, Mário Gomes Torós, cuja indicação foi aprovada ontem pelos senadores, por 52 votos a sete. Ao ser sabatinado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, horas antes da votação pelo plenário, Torós defendeu que os benefícios dessa política, como a queda do risco atribuído ao país pelo mercado de crédito internacional, compensam com vantagem o custo, de mais de R$ 16 bilhões em 2006.

Ele referia-se ao diferencial entre o retorno obtido pelo BC na aplicação das reservas no exterior e os juros pagos ao mercado interno, ao colocar papéis de dívida para neutralizar a emissão de moeda nacional decorrente da aquisição de moeda estrangeira.

Na CAE, onde recebeu 24 de um total de 27 votos, o futuro diretor defendeu ainda a visão de que existe espaço para novas reduções da taxa básica de juros da economia (meta de Selic) e a revisão da atual estrutura de recolhimentos compulsórios dos bancos ao Banco Central. Todas as vezes que tocou no assunto, no entanto, ele ressaltou que o relaxamento da política monetária deve prosseguir com cautela, para não comprometer o avanço já conseguido no combate à inflação. "A taxa de juros é cadente e pode cair muito mais nas próximas reuniões ", disse ele, referindo-se ao Comitê de Política Monetária do BC. " Não acho que o Brasil esteja condenado a ter taxa de juro real alta eternamente... Mas devemos fazer isso com grande cuidado para não perdermos as conquistas obtidas até agora", alertou.

Em outro trecho das respostas, ele foi mais enfático sobre a necessidade de cautela no corte da Selic e disse que, daqui em diante, "a travessia deverá ser feita com tanta ou mais prudência do que foi feita até aqui".

A "desmontagem da complexa estrutura" de depósitos compulsórios do sistema financeiro no BC foi defendida por Torós como medida necessária para se obter uma queda mais expressiva dos spreads bancários, ou seja, da diferença entre as taxas de aplicação e de captação praticadas pelos bancos, ao dar crédito a pessoas e empresas. Na sua avaliação, embora o BC já tenha feito muito nesse sentido, "essa é uma tarefa ainda pendente, a se completar".

Ele não detalhou em que prazo pretende propor alterações relativas aos compulsórios, recolhidos sobre depósitos em poupança, à vista e a prazo. Tampouco detalhou as mudanças pretendidas. Mas ressaltou que, de todas as modalidade de crédito, a que mais tem espaço para crescer é o crédito imobiliário, cuja fonte principal de recursos é a caderneta de poupança.

Ao ser questionado pelos senadores sobre o comportamento da taxa de câmbio, Torós reconheceu que a continuidade da política de acumulação de reservas cambiais pode não ser suficiente para evitar novas quedas do dólar frente ao real - até porque não é objetivo do BC buscar um patamar específico de cotação. Além de aproveitar o forte ingresso de moeda estrangeira para fortalecer reservas internacionais, as intervenções no mercado cambial visam apenas a conter variações excessivas (volatilidade) da taxa. A meta do BC é o nível da inflação e não o de câmbio, reforçou. É principalmente via controle da inflação que o BC dá a sua contribuição ao crescimento da economia, na medida em que proporciona um cenário estável para decisões de investimento e de consumo.

Mário Torós deu a entender que os problemas enfrentados por setores exportadores em função da queda do dólar não devem ser resolvidos via calibragem da taxa de câmbio e sim com outras medidas que, de alguma forma, compensem a perda de competitividade decorrente do novo patamar do câmbio. "Isso é uma tarefa inserida na política econômica", afirmou ele.