Título: Fazer parte do ISE ajuda a conquistar mais clientes
Autor: Mattos, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Caderno Especial, p. F2

Nos primeiros dias de dezembro do ano passado, logo após o anúncio do grupo de novos integrantes do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), as ações da Localiza, uma das empresas estreantes na lista, tiveram alta de 22%, passando de R$ 52 para R$ 64. Não foi por acaso. O mesmo aconteceu - em diferentes proporções - com as outras nove novas participantes da carteira do índice: Acesita, Coelce, Energias do Brasil, Gerdau, Gerdau Metalúrgica, Petrobras, Suzano Petroquímica, TAM e Ultrapar. Como todas as empresas que adotam boas práticas, aquelas que perseguem a sustentabilidade têm sido premiadas pelo mercado. Quem entra para o ISE, assim como as empresas aceitas no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, da Bolsa de Nova York, recebe uma chancela que a diferencia das demais.

"O investidor, principalmente o estrangeiro, dá preferência para ações de empresas que respeitam o meio ambiente e tenham boas práticas", diz Edina Biava, gerente de relações com investidores da Perdigão - empresa listada no ISE desde seu lançamento, em dezembro de 2005. Prova disso é que o conjunto das companhias agregadas sob o índice de sustentabilidade rendeu, em 2006, 37,8% - quase cinco pontos percentuais acima da alta das ações mais negociadas na Bovespa no mesmo período, que foi de 32,9%.

Em seu terceiro ano, o ISE reúne hoje 43 ações emitidas por 34 empresas de 14 setores, que somam R$ 700,7 bilhões em valor de mercado. "Inicialmente, a carteira total do ISE, quando foi criado, era formada por 34 ações de 28 empresas, totalizando R$ 504 bilhões", explica Ricardo Pinto Nogueira, superintendente-executivo de operações da Bovespa.

Toda vez que faz aniversário, em 1º de dezembro, o conjunto de empresas que formam o ISE é reavaliado e outras, pretendentes ao título, são analisadas. "Temos um número limite de companhias participantes, que são no máximo 40", diz Nogueira. Entre os critérios para fazer parte do grupo - ou permanecer nele - estão provar que a empresa candidata é sustentável - tanto no que se refere ao respeito ao meio ambiente, às relações humanas (com funcionários, fornecedores e clientes), bons princípios econômicos-financeiros e de governança corporativa.

Para isso, a corporação responde a um questionário de 150 perguntas, renovadas anualmente. As questões abrangem temas que vão desde a seleção de fornecedores que não utilizam trabalho infantil ao número de terceirizados.

Mas, ao contrário do que faz a Bolsa de Nova York - a pioneira em índice de sustentabilidade -, que exige documentação comprobatória para cada item respondido no questionário de avaliação do DJSI (Dow Jones Sustainability Indexes), a Bovespa seleciona uma amostragem aleatória das perguntas, para que a pretendente ao ISE apresente os documentos que asseguram a veracidade do que foi informado no questionário. "Ainda não temos a estrutura suficiente para fazer como a bolsa americana", diz Nogueira. "Mas a meta é chegar lá".

Diferentemente também da Bolsa de Londres, que exclui da composição do FTSE4good - seu índice de sustentabilidade - ações de fabricantes de cigarros, de armamentos, proprietários ou operadores de estações de energia nuclear e companhias envolvidas na extração ou processamento de urânio - a Bovespa não impõe barreiras a nenhum setor. "É claro que a natureza do produto da empresa conta e pode dificultar o processo de aceitação - mas isso não é impedimento para que uma companhia de cigarros, por exemplo, seja aceita pelo ISE. A participação seria até um estímulo para que a empresa melhore a qualidade de seu produto ou diminua seus impactos negativos", diz Nogueira.

Talvez seja por isso que o ISE seja formado por um conjunto tão diferente de empresas. "Há muitas empresas de energia, pela própria natureza da matriz energética do país, que é hidrelétrica - uma fonte limpa", explica Nogueira. Também há vários bancos, já que muitos, também por pressão de investidores, já faziam parte do Protocolo Verde - uma carta de princípios para o desenvolvimento sustentável firmada por instituições financeiras em 1995.

Também fazem parte do ISE empresas como a Aracruz Celulose, líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto. "Para o leigo, somos uma empresa que derruba árvores para fazer papel", diz Isac Zagury, diretor financeiro. "Na verdade, entretanto, a Aracruz nunca derruba mata nativa para sua produção. Ao contrário: em todas nossas áreas de plantio, metade do terreno é destinado ao plantio de árvores nativas, que ficam intocadas. Nossa produção vem de fontes renováveis: só derrubamos os eucaliptos que plantamos", explica o executivo da companhia, que além de fazer parte do ISE desde a primeira avaliação, em 2005, também integra o DJSI há dois anos. "Fazer parte desses índices, tanto o da Bovespa, quanto o de Nova York, além de atrair investidores, ajuda a mudar conceitos antigos e informa melhor sobre a postura ética da empresa", diz Zagury. "Fazer parte do ISE dá muita visibilidade", acrescenta Edina, da Perdigão.