Título: Questão ambiental impõe novo modelo
Autor: Faleiros, Gustavo
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Caderno Especial, p. F4

Países em desenvolvimento como Brasil, China e Índia terão neste século um desafio inédito. Ao contrário das nações ricas, não bastará aos emergentes um alto índice de crescimento econômico: a questão ambiental impõe um novo modelo de desenvolvimento. Isto é o que indica um amplo estudo da PricewaterhouseCoopers (PwC) chamado "O Mundo em 2050". Ele mostra que até a metade do século, um grupo de sete países emergentes vai tomar a dianteira da geração de riquezas globais. Mas, dependendo dos caminhos escolhidos, o crescimento pode significar consumo desenfreado de energia e, conseqüentemente, aumento das emissões de gases causadores do efeito estufa.

Segundo as projeções da PwC, o Produto Interno Bruto (PIB) da China deve ultrapassar o dos EUA, o país mais rico do mundo, já em 2016. O Brasil por sua vez, deve ter uma economia tão grande quanto a da Alemanha em 2025 e semelhante à do Japão em 2050. De forma geral, sustenta o estudo, os países do chamado E7 (Brasil, Rússia, China, México, Indonésia, Túrquia e Índia) estão crescendo quase duas vezes mais rápido do que aqueles do G7. Em um cenário básico, as nações em desenvolvimento cresceriam 4,2% ao ano até 2050, contra 3,2% dos ricos.

O crescimento acelerado dos emergentes vai representar um aumento médio de 1,6% ao ano no consumo mundial de energia. Pode parecer pouco, mas isso significa que será necessário o dobro de energia em 2050, ou 21 bilhões de toneladas equivalentes de petróleo para atender à demanda. Dependendo de quais sejam as fontes energéticas escolhidas para o suprimento, as emissões de gases de efeito estufa podem dobrar até a metade do século e tornar ainda mais crítico o quadro de aquecimento global.

Para a PwC, serão as decisões de investimento nos países em desenvolvimento que vão determinar o futuro do planeta. A Índia, por exemplo, acumulará um crescimento de 442% no consumo de energia. A China, 205%. Se continuarem a consumir petróleo e carvão na mesma proporção que utilizam nos dias de hoje, a previsão é de que as emissões de carbono irão, no mínimo, triplicar. "A síntese de nossas conclusões, é de que os países emergentes precisam de um crescimento controlado no consumo de energia", pondera o diretor de sustentabilidade da PwC, Carlos Rossin.

Na opinião do executivo, os países em desenvolvimento devem colocar nas planilhas de custo qual seria o dano ambiental futuro se não mudarem os investimentos na matriz energética. No longo prazo se tornará mais caro sanar os impactos do aquecimento global sobre a economia do que destinar mais recursos a energia limpas agora, diz Rossin. Segundo o estudo, os investimentos dos países para diminuir em 50% a 60% as emissões de gases estufa equivalem a 2% a 3% do PIB global.

Resta saber se os países mais pobres, onde a pressão por crescimento e geração de empregos muitas vezes obscurece as emergências ambientais, terão fôlego para mudar. Para Ingo Plöger, empresário que coordena Grupo de Trabalho de Investimentos Estrangeiros da Câmara Americana de Comércio (AmCham), os emergentes terão que discutir suas prioridades à luz da questão ambiental. O primeiro ponto, ele julga, é identificar os setores intensivos em consumo de energia e reduzir a poluição associada a eles. A China, conseqüentemente, será o país com o maior desafio. É, ao mesmo tempo, a nação que mais cresce e polui no mundo.

O Brasil, porém, também terá que repensar sua estratégia no longo prazo, observa Plöger. Apesar de ter a vantagem comparativa de produzir biocombustíveis e uma matriz energética baseada na hidreletricidade, isso ainda não se reverte em mais lucros para o país. "As empresas brasileiras já estão absorvendo a questão ambiental, mas elas não conseguem competir com outros países que não se preocupam com o meio ambiente. Temos que vender a sustentabilidade, melhorar as negociações internacionais", defende o empresário.

As negociações internacionais são essenciais para manter a sustentabilidade global, concorda o diretor-superintendente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), Walfredo Schindler. Ele lembra que não é só o consumo de energia na China que causa impactos sobre o meio ambiente, mas sim toda a demanda por matéria-prima. A necessidade chinesa por produtos agrícolas, por exemplo, pode aumentar a pressão sobre áreas de florestas nativas em todo o mundo.

O diretor da FBDS acha que o Brasil, assim como os outros países, terá que encontrar um maneira de compatibilizar crescimento acelerado com investimentos em energias renováveis. Sua sugestão é que os setores produtivos passem a investir pesado em inovação para que se tornem mais eficientes no consumo de energia. Um dos caminhos, aposta Rossin, é utilizar cada vez mais mecanismos de mercado, como os créditos de carbono, para que as empresas possam valorizar ações que reduzam consumo de energia e emissões, além de aumentar a disponibilidade de recursos financeiros para investimentos sustentáveis.