Título: Brasil liderou alta do investimento mundial em P&D entre 2004 e 2006
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Brasil, p. A2

Entre 2004 e 2006 o Brasil foi o país onde houve o maior crescimento do investimento em pesquisa e desenvolvimento. Os valores gastos chegaram a US$ 32,62 bilhões no ano passado, uma expansão de 36,6% em relação a 2004. Na comparação com o ano imediatamente anterior (2005), o aumento foi de 15,6% e o país ficou atrás somente do Japão, que investiu 25% a mais.

No entanto, em termos absolutos, os gastos brasileiros com inovação ainda são muito tímidos. Enquanto o país passou de um patamar de US$ 24 bilhões em 2004 para US$ 32,6 bilhões no ano passado, a China investiu mais de quatro vezes esse valor, chegando a US$ 140 bilhões em 2006. O dragão chinês está cada vez mais forte e, em 2005, passou a gastar, em dólares, mais do que o Japão com pesquisa e desenvolvimento, e foi superado apenas pelos Estados Unidos.

Para o professor Marc Giget, que apresentou esses números em palestra durante o II Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, o Brasil não vai mal no que diz respeito à inovação, mas o desafio-chave para avançar ainda mais é a educação. Segundo ele, é preciso formar profissionais pós-graduados em áreas técnicas que trabalhem com inovação e agreguem valor à produção local. "Na China, existem 13 milhões de estudantes nas universidades", lembra Giget, que é membro do Centro Nacional e Artes e Ofícios da França.

Giget define a inovação como a integração melhor dos conhecimentos em um produto criativo que permita "ir além do que tange a satisfação dos indivíduos." E acrescenta que nem sempre pesquisa e desenvolvimento precisam levar à criação de um novo material ou de um novo processo, mas podem, sim, levar a um novo jeito de usar um certo material ou de realizar um determinado processo.

Ainda assim, o Japão, que investe cerca de US$ 120 bilhões por ano em pesquisa, é o líder em criação de novos produtos e registro de patentes. Em 2006, foram 350 mil, mais de duas vezes o número do segundo colocado do ranking, os Estados Unidos, que patentearam 169 mil produtos e tecnologias. O Brasil ficou em 11º, com 4.280 patentes requeridas, bem atrás da China (48 mil), de Taiwan (9 mil) e da Itália, com 4,4 mil patentes.

Para Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade que organizou o congresso, a ampliação dos investimentos em inovação é essencial para que as empresas brasileiras se tornem mais competitivas.

Hoje, segundo dados apresentados por Marc Giget, o Brasil investe 1,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento e está na lista dos grandes países investidores em inovação junto com EUA, China e Índia. O Japão, porém, investe 3,2% de seu PIB, que é quase três vezes o brasileiro. A China, investe menos: 1,5%, mas tem um PIB quase cinco vezes maior que o do Brasil.

Ernesto Pousada, diretor da Suzano, empresa produtora de papel, diz que faltam projetos de inovação que pensem em como gerar valor para o consumidor final. Para ele, o setor privado ainda precisa criar uma cultura para inovação de forma a estruturar melhor a aplicação de recursos em pesquisa.