Título: Vice de Chávez deve manter linha-dura com empresas
Autor: Mander, Benedict
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2013, Internacional, p. A11

Nicolás Maduro, o herdeiro indicado por Hugo Chávez, mostrou que vai continuar no caminho econômico radical do presidente da Venezuela, afastado para tratamento médico, ao atacar o que chamou de acúmulo e especulação das empresas privadas.

Reagindo às críticas da oposição de que o país sofria de uma lacuna de poder na ausência de Chávez, o governo deu uma demonstração de força e enviou soldados para assumir o controle de redes de distribuição de alimentos, incluindo seis usinas de açúcar privadas, uma vez que a escassez de produtos básicos vem irritando os consumidores.

Embora as preferências políticas de Maduro, um ex-sindicalista, sejam pouco conhecidas, as ações indicam ser improvável que a administração econômica de Chávez seja moderada de forma substancial sob um governo liderado pelo vice-presidente venezuelano, caso o câncer do líder socialista o obrigue a abrir mão do poder.

O governo tenta projetar uma imagem de continuidade e estabilidade à medida que se aproxima uma crise constitucional, com a confirmação de que Chávez não conseguirá participar da posse de um novo mandato de seis anos, marcada para amanhã. Vídeos na televisão estatal em que o carismático líder abraça crianças, joga beisebol e elogia o herói da independência Simón Bolívar são veiculados a todo o momento.

Analistas dizem que o propósito dos vídeos é garantir aos seguidores que o líder venezuelano, normalmente onipresente, ainda está no comando, apesar do fato de não ser visto em público desde uma cirurgia contra o câncer, em 11 de dezembro.

Os vídeos, com um tom quase religioso, também são vistos como uma tentativa de mexer com as emoções da opinião pública, caso Chávez esteja doente demais para governar e novas eleições precisem ser convocadas.

O informe oficial mais recente sobre a saúde de Chávez, na segunda-feira à noite, descreveu a condição do líder socialista como "estável". Ele sofre de uma deficiência respiratória causada por uma infecção pulmonar contraída após a cirurgia em dezembro.

"O tratamento é administrado rigorosa e permanentemente, e o paciente o está assimilando", disse o ministro da Comunicação e Informação, Ernesto Villegas.

Houve uma mudança sutil nos comunicados normalmente concisos, com um alerta velado direcionado ao setor privado, que o governo acusou de provocar a escassez de produtos básicos "acumulando e especulando".

Autoridades disseram que, caso sejam descobertas "irregularidades", podem ser aplicadas penas como multas, confisco de artigos, fechamentos temporários e a prisão dos donos das empresas.

Representantes do setor empresarial responderam que a escassez decorre das políticas econômicas do governo, incluindo a intimidação, controles de preço e racionamento de moedas estrangeiras em um país que é altamente dependente das importações. "Não há um único exemplo no mundo de um país em que controlar preços e ameaçar empresas tenha funcionado para resolver a escassez", disse Luis Vicente León, economista e pesquisador de opinião pública que assessora grandes empresas privadas na Venezuela.

León argumenta que Maduro tenta consolidar apoio a seu nome não apenas dentro do Executivo, já que há rumores sobre facções rivais no governo concorrendo pelo poder, mas também no grande público. "[Ele] optou pelo caminho mais agressivo, mais radical: vamos pegar os empresários, vamos pegar a oligarquia!", disse León na televisão.

Acredita-se que a oposição protestará com a ausência de Chávez no 10 de janeiro, data estipulada na Constituição como início de novos mandatos presidenciais, e se Maduro permanecer interino no governo, como foi sugerido por autoridades. Segundo a Constituição, dizem essas fontes, Diosdado Cabello, o presidente do Congresso, deveria tornar-se presidente interino nessas circunstâncias.

"Ignorar a Constituição nesta altura dos acontecimentos tornará a legitimidade do governo questionável após 10 de janeiro, intensificando a considerável incerteza e aumentando o risco de uma crise de governabilidade", escreveram analistas do banco Barclays em nota a clientes. "Paradoxalmente, o adiamento da transição poderá acabar criando um custo político, para o chavismo, fazendo com que os chavistas venham a se defrontar com uma eleição mais difícil no futuro."