Título: Europeus desconfiam de empresa emergente
Autor: Fontanella-Khan, James
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2013, Especial, p. A14

Todas as vezes que Leo Sun, presidente da Huawei na Europa, volta a Pequim para se reunir com a direção da fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações, a principal dúvida dos executivos é a seguinte: "Em que e onde podemos investir na Europa?".

"É a prioridade", diz Sun. "Eles ficam me perguntando: O que é bom fazer na França? Software ou hardware? Óptica ou computação em nuvem? E quanto à Finlândia? E a Alemanha?"

Sun vem conseguindo dar respostas a essas dúvidas. A Huawei investiu em média cerca de € 3 bilhões por ano na Europa nos últimos três anos. Planeja dobrar seu quadro de funcionários no continente nos próximos cinco anos, para 14 mil pessoas. Porém, a vida de investidores de países emergentes na Europa está longe de ser fácil. Autoridades e acionistas europeus com frequência não confiam em empresas de países em desenvolvimento, diz Sun.

Informe da Comissão Europeia (CE, o órgão executivo da União Europeia) publicado em 2012, por exemplo, afirma que empresas como a Huawei representavam uma ameaça à segurança assim como às companhias locais. Giulio Tremonti, ex-ministro das Finanças da Itália, chegou a comparar alguns conglomerados de países emergentes à Companhia das Índias Orientais por suas ambições de ganhar papel maior na Europa.

Não são só as empresas chinesas que sofrem com isso. Carlos Slim, o mexicano que é a pessoa mais rica do mundo, encontrou oposição considerável quando tentou comprar o grupo de telecomunicações holandês KPN, com sua oferta sendo considerada muito baixa pelos investidores. Tempos depois, o bilionário comprou participação de 28% no grupo e acabou tendo perdas próximas a € 2 bilhões.

O executivo-chefe da siderúrgica ArcelorMittal, Lakshmi Mittal, também ficou sob ataque na França. O empresário indiano conseguiu evitar a ameaça do governo francês no fim de 2012 de estatizar suas operações no país depois de Arnaud Montebourg, o ministro esquerdista da Indústria, acusar sua empresa de "chantagem" e de "mentir" quanto aos planos para altos-fornos em Florange, na região industrial de Lorraine - acusações que a empresa negou.

Empresas de países emergentes veem a crise como uma oportunidade para conseguir ativos cobiçados. A retórica protecionista, porém, começa a assustá-las, segundo um empresário indiano. "Sofremos com o racismo britânico no passado e não vamos aturar isso de novo [...]. Se eles quiserem nosso dinheiro, precisam mostrar algum respeito."