Título: Escassez na oferta provoca novo tombo nas ações das elétricas
Autor: Viri, Natalia; Facchini, Claudia
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2013, Empresas, p. B1

Nem bem começaram a se recuperar do tombo após a Medida Provisória 579, que impôs forte corte nas tarifas das concessões do setor elétrico que expiram até 2017, as ações das elétricas foram atingidas por novo golpe. A falta de chuvas baixou os reservatórios das hidrelétricas para o menor nível desde 2000, elevando os riscos de racionamento.

Devido à escassez de energia hidráulica, as térmicas, que utilizam gás natural, óleo combustível e diesel, começaram a funcionar à plena carga, o que fez com que os custos operacionais do sistema elétrico e os preços do insumo no mercado disponível disparassem. Os custos atingiram a marca crítica R$ 555 o MWh na semana, considerada um indicador de crise.

Segundo um analista, é provável que os balanços do quarto trimestre já mostrem um impacto negativo, sobretudo nas geradoras. Com a queda de produção nas hidrelétricas, as empresas precisarão comprar energia para cumprir seus contratos, passando a ficar mais expostas aos preços no mercado spot. O temor sobre um possível racionamento - hipótese que ainda divide analistas - ajudou a puxar para baixo os papéis do setor. Enquanto o Ibovespa tem leve alta de 0,29% nos primeiros dias do ano, o Índice de Energia Elétrica (IEE) recua 6,66%.

As ações mais castigadas foram as da AES Eletropaulo, distribuidora que atua na Grande São Paulo. O papel preferencial da empresa soma baixa de 11,9% no ano. São as distribuidoras que arcam com a conta mais cara em um primeiro momento: compram energia pelo preço atual, mas cobram valor defasado, até que haja um reajuste tarifário. No caso da Eletropaulo, será em julho. O desacasamento do fluxo de caixa é o que preocupa os analistas.

"A Eletropaulo já está com o caixa mais apertado por causa da revisão tarifária do ano passado, que reduziu em 8% os preços praticados pela empresa", disse um analista. Com mais esse baque, afirma, a possibilidade de que a empresa volte a fazer uma distribuição mais gorda de dividendos fica fora do horizonte, o que ajuda a afugentar os investidores.

Para as geradoras, o impacto da energia mais cara sobre os resultados depende do volume que as empresas têm disponível para a venda no mercado livre. Quem produz mais energia que o previsto nos contratos de venda pode conseguir uma receita adicional repassando esse volume. É o caso de Cesp, Light e Copel, diz Sérgio Tamashiro, do J. Safra.

Outra companhia que pode tirar algum benefício da explosão dos preços é a Tractebel, afirma o banco BTG Pactual. O analista Antonio Junqueira disse em relatório que, ao contrário da maior parte das térmicas, que são remuneradas por sua capacidade instalada, a Tractebel recebe pela energia que disponibiliza. "A empresa consegue produzir energia térmica com uma margem em cima do custo do combustível", disse um analista.

Em geral, as termelétricas são remuneradas por uma espécie de aluguel, independentemente de estarem produzindo energia elétrica ou não. Em caso de restrição da oferta, o governo determina o acionamento e remunera apenas o custo do combustível. Ou seja, praticamente não há margem na produção e, muitas vezes, é mais vantajoso manter a usina desligada.

Apesar de não serem tão afetadas pelos custos, no entanto, esses papéis têm sido castigados pelo risco de racionamento. "É uma possibilidade ainda remota, mas que começa a ganhar corpo com a situação dos reservatórios", aponta um operador. Nesse caso, a redução do volume de energia disponível para comercialização impactaria todas as elétricas.

Na outra ponta, o BTG adverte que CPFL e Cemig podem ter seus custos pressionados com o novo cenário e devem ter de recorrer à compra no mercado livre, já que os contratos de suprimento superam sua capacidade de produção. O problema atingiria também a AES Tietê. Em nota, a companhia disse que não está sobrecontratada e que não espera impacto significativo sobre os resultados.

A Eletrobras, que responde por boa parte da geração térmica do país, também foi castigada pelos investidores. O papel preferencial classe B (PNB) perdeu 7,54% desde o começo do ano. Só ontem, a queda foi de 9,53%. "A estatal precisa comprar diesel e gás para mover as térmicas e deve enfrentar uma pressão de custos", diz Pedro Galdi, da SLW Corretora. A empresa informou, em nota, que ainda avalia o impacto do acionamento de térmicas nos resultados e, por isso, não pode fazer previsões.