Título: EUA dão sinais de acordo em relação ao abismo fiscal
Autor: Politi, James; Foley, Stephen
Fonte: Valor Econômico, 18/12/2012, Internacional, p. A10

Finalmente está tomando forma um acordo para evitar o abismo fiscal, com ao menos US$ 1 trilhão em novos impostos, não menos de US$ 1 trilhão em cortes de gastos públicos e um aumento do teto do endividamento, num momento em que os negociadores se empenham em fechar a negociação antes do prazo do fim do ano.

O presidente dos EUA, Barack Obama, e John Boehner, o presidente republicano da Câmara dos Deputados, reuniram-se ontem pela terceira vez em oito dias na Casa Branca em meio aos sinais de crescente impulso nas conversas. Se chegarem a um acordo nos próximos dias, e conseguirem aprová-lo no Congresso, afastarão a enorme nuvem de incerteza que pende sobre a economia mundial.

A incapacidade de evitar o abismo fiscal (um pacote automático de US$ 600 bilhões em aumentos anuais de impostos e de redução dos gastos do governo a partir do ano que vem) lançaria os EUA numa recessão em 2013, perspectiva que alarma os investidores externos e a opinião pública americana.

Indícios de que ambas as partes possam estar se aproximando de um pacto deram uma disposição positiva na bolsa americana. O índice S&P 500 subiu ontem 1,19%.

William Stone, diretor de estratégia de investimentos do grupo PNC, de serviços financeiros, disse aos clientes que os políticos pareciam comprometidos a fechar um acordo. "Acreditamos que pode haver mais avanços esta semana do que nas anteriores, uma vez que o Congresso deverá iniciar seu recesso de fim de ano no fim da semana. E, o que é mais importante, prevemos que, se não houver nenhum avanço, as autoridades econômicas ficarão em Washington até o fim do período de festas."

Mas chegar a um acordo será apenas o primeiro passo. Em especial, Boehner deverá ter dificuldade para aprovar a legislação na Câmara se os membros conservadores considerarem o acordo como um excesso de concessões no que se refere aos impostos. Ele deverá discutir o teor das negociações com membros de seu partido hoje. Alguns democratas poderão também estacar diante das cláusulas de qualquer acordo se acharem que Obama cedeu agressivamente demais nos cortes de gastos.

O grande avanço das discussões ocorreu no fim de semana, quando Boehner se dispôs a permitir que as alíquotas dos impostos sobre os milionários subissem de 35% para 39,6%, abandonando a prolongada oposição de seu partido à alta da alíquota dos impostos exigida por Obama. No total, Boehner está oferecendo um pacote no valor de quase US$ 1 trilhão em nova receita tributária - incluindo cerca de US$ 500 bilhões a serem conquistados por meio de uma reforma fiscal que limitará os benefícios fiscais e as deduções no ano que vem.

Embora esse valor esteja aquém da receita de US$ 1,4 trilhão em impostos exigida por Obama, ele deixa espaço para negociações sobre os detalhes finais. Entre as alternativas estariam elevar as alíquotas das famílias que ganham mais de US$ 500 mil ou US$ 750 mil ao ano, o que poderia gerar arrecadação maior que a contemplada por Boehner.

Obama e Boehner ainda têm de entrar em acordo sobre a natureza dos cortes de gastos públicos, inclusive dos programas de saúde e de aposentadoria de grande popularidade, que os republicanos encaram como essenciais a qualquer pacote, mas que encontram resistência da parte dos democratas.