Título: Lula ouve queixas do PT sobre cargos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/04/2007, Política, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva jantou ontem com um PT que vem se sentindo rejeitado pelo governo. Apesar do encontro, na residência do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), ter reunido apenas os deputados da legenda, é grande a insatisfação partidária com a divisão de cargos no governo. O PT não se sente inteiramente contemplado e deixou claro na reunião do Diretório Nacional acontecida no sábado, em Brasília.

Ao chegar, o presidente afirmou, ao responder a uma pergunta sobre se está sintonizado com o partido, que está "sempre afinado com o PT e o PT comigo. As divergências internas que às vezes assustam, quem lê uma matéria de jornal, para nós é o exercício da democracia elevado ao seu grau máximo. Quem conhece o PT sabe que sempre foi assim".

Sobre a insatisfação com a divisão de cargos, Lula disse que não discute cargos, "eu discuto ministérios", afirmou aos jornalistas. Para Lula, "os partidos têm os seus ministros e cabe a eles definir esses cargos, mas para escolher as pessoas, é preciso cumprir os requisitos básico de competência técnica. Se alguém está se queixando, eu lamento profundamente".

Lula já enfrentou a insatisfação de seus correligionários há três semanas, quando jantou com a bancada do PT no Senado. Na ocasião, ouviu contundentes reclamações dos senadores, que diziam não ser ouvidos quando as matérias eram encaminhadas ao Congresso. Afirmavam que, assim, ficava difícil defender em plenário os projetos de iniciativa do Executivo. Criticaram a coordenação política do governo, diante do ministro Tarso Genro - já empossado como ministro da Justiça.

Desde o início dos debates sobre a reforma ministerial até o anúncio dos novos ministros, Lula enfrentou uma resistência do PT a perder os cargos na Esplanada. Os petistas reclamaram do apetite do PMDB, que acabou levando cinco pastas. Recentemente, as queixas se deram porque todas as tendências internas passaram a sentir-se no direito de reivindicar seu quinhão na máquina pública federal.

Desde a campanha eleitoral, o presidente vem afagando e batendo em seu partido. Ao mesmo tempo que faz questão de frisar que é petista, deixa claro que tornou-se maior do que a legenda. A políticos que reuniram-se com ele nos últimos dias, reconheceu que o PT terá candidato próprio em 2010, mas ele próprio não simpatiza com nenhum nome até o momento. Um dos presidenciáveis cotados, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, sonhava em chegar à Esplanada com status de ministério de primeiro escalão - Educação, Cidades ou até coordenação política. Teve que contentar-se com o Ministério do Turismo.

Há duas semanas, o presidente jantou com senadores, deputados e integrantes da Executiva do PMDB. Na ocasião disse que pretendia reunir-se com todos os partidos da bancada governista, como uma forma de estabelecer um novo patamar nas relações políticas brasileiras. Mas apenas acirrou os ânimos do PT, ao assegurar que o PMDB tem o direito de pleitear o lançamento de um candidato da coalizão na sucessão presidencial de 2010.

Apesar dos diversos componentes de atrito, deputados do PT não apostavam num clima de confronto no jantar de ontem. O deputado Cândido Vacarezza (PT-SP) lembrou que a bancada petista na Câmara tem sido a mais fiel dos últimos quatro anos. "Desde que Lula tomou posse, sempre houve problemas entre o governo e o partido. Mas essas divergências estão nas instâncias partidárias, não na bancada", diferenciou.