Título: Brasil e UE criam comissão para impulsionar cooperação bilateral
Autor: Exman, Fernando; Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Brasil, p. A2

Demonstrando maior otimismo com as perspectivas econômicas globais para 2013, Brasil e União Europeia criaram ontem uma comissão para tratar da cooperação bilateral, prospecção de oportunidades econômicas e impulsionar investimentos. Na sexta reunião de cúpula entre Brasil e UE, ambos os lados reafirmaram a vontade política de avançar nas negociações para a assinatura de um acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, o que depende dos demais países do bloco sul-americano.

A parceria estratégica entre o Brasil e o bloco europeu foi lançada em 2007. Desde então, as negociações para um acordo entre o Mercosul e a União Europeia foram retomadas, mas as tratativas não foram concluídas e governos de ambos os lados reconhecem que as parcerias entre o Brasil e a UE estão aquém do patamar desejável.

Para a presidente Dilma Rousseff, uma maior cooperação internacional tem potencial para ajudar a elevar a competitividade brasileira. A UE é o principal parceiro comercial do Brasil e maior investidor no país. Já o Brasil é o quinto principal investidor no bloco.

"O plano de ação conjunta Brasil-União Europeia tem diretrizes para atuação em 30 diálogos setoriais, abrangendo política industrial e regulatória, ciência e tecnologia, educação, direitos humanos e serviços financeiros", disse a presidente em discurso no fim da reunião de cúpula. "Definimos uma comissão bilateral para tratar sistematicamente das nossas relações, em especial da questão do investimento, com foco na questão da complementaridade."

Após um longo encontro a portas fechadas, Dilma demonstrou maior otimismo com o cenário econômico mundial. Segundo a presidente, existe atualmente uma melhor avaliação quanto às situações das economias da Europa, China e Estados Unidos. "Há uma generalizada percepção de que a pior parte [da crise financeira internacional] ficou para trás", afirmou Dilma, ao lado do presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.

Em seu pronunciamento, Rompuy contou ter dito à presidente brasileira que a União Europeia "avançou muito" e hoje se encontra num ponto de inflexão. Ponderou, entretanto, que agora o desafio europeu é reduzir o tempo necessário para que o crescimento econômico seja acelerado e o mercado de trabalho volte voltar a ficar aquecido.

Durante a conversa, Dilma e os líderes europeus também concordaram sobre a necessidade de os integrantes do G-20 realizarem mais esforços para a promoção do crescimento, geração de empregos e recuperação da demanda global, elementos considerados essenciais para a superação da crise econômica global.

"Hoje, estamos em melhores condições para lidar com choques experimentados durante a crise", afirmou Rompuy. Segundo ele, os países do bloco estão "reformando" suas economias a fim de aproximar suas politicas econômicas e orçamentárias. "O projeto de união bancária está bem avançado."

Durão Barroso defendeu a assinatura de um acordo comercial entre o Mercosul e o bloco europeu. O tema deve voltar a ser tratado na reunião ministerial bilateral que ocorrerá nos próximos dias. "Reafirmamos o empenho para chegar a um acordo de associação entre União Europeia e Mercosul", disse o presidente da Comissão Europeia, acrescentando considerar "importante" ver que Brasil e UE "dão prioridade" ao assunto. "Nossas regiões podem ter dividendos econômicos."

Para Dilma, porém, o acordo deve considerar as "sensibilidades" de cada região. A presidente brasileira, Rompuy e Durão Barroso conversaram ainda sobre a situação na Síria, o processo de paz do Oriente Médio, a violência no Mali e a crise política e institucional na Guiné Bissau. Além disso, Brasil e o bloco europeu assinaram um acordo sobre "bem-estar animal", para a troca de informações e cooperação na produção pecuária. Outro documento assinado pelos dois lados foi um acordo de cooperação na área de ciência e tecnologia.