Título: Testes mostram que desempenho de aluno depende mais da família do que da escola
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2007, Brasil, p. A2

O que crianças e chocolates podem dizer a respeito da importância da família na educação? Muito, segundo apresentação feita ontem em São Paulo pelo economista e professor Eduardo Giannetti da Fonseca em evento da Fundação Lemann. Testes feitos nos EUA por Walter Mitchel, segundo Giannetti, indicaram que a capacidade de espera por uma recompensa (o chocolate) está, em última instância, relacionada à presença do pai na criação do filho. E crianças que controlam a impulsividade têm melhores resultados escolares, acadêmicos e profissionais, além de menores índices de delinquência.

O teste, batizado de "gratificação recompensada", foi feito com crianças de 4 e 12 anos. Aquelas que tocassem um sino colocado à sua frente eram recompensadas com um chocolate. As que esperassem o retorno do adulto (após 20 minutos), com dois chocolates. As de quatro anos não aguentaram toda a espera, embora algumas tenham sido mais pacientes que outras. Entre as de 12 anos, 60% delas esperaram pela recompensa. Ao destrinchar os resultados, os pesquisadores detectaram que as asiáticas eram mais pacientes que as africanas. "Mas essa diferença era anulada quando se comparavam as crianças em cujas famílias o pai era presente", explicou Giannetti.

Há vários outros estudos que comprovam que o desempenho dos alunos depende mais do "background" familiar do que das características da escola. "A variável com maior impacto é o nível escolar dos país. Na verdade, 80% do desempenho depende da família e os 20% restantes da escola", disse o professor, ressaltando que isso não significa que não se deva dar atenção às escolas. "Para uma criança nascida em família desestruturada, a creche, a pré-escola, podem ser a única chance de reversão."

A análise de Giannetti foi feita a partir de uma pergunta colocada pela Fundação Lemann: "Por que o valor atribuído à educação no Brasil é tão baixo?". Além da questão familiar, ele elencou três outros fatores que contribuem para esse quadro: aspectos históricos e culturais (os que colonizaram os EUA tinham a preocupação de construir uma sociedade, para cá vieram os aventureiros), questões demográficas e políticas públicas. Na platéia, Jorge Paulo Lemann e Marcel Hermann Telles, ex-Banco Garantia e hoje parte do grupo controlador da cervejaria InBev, concordavam meneando a cabeça e elogiavam a exposição.

Na questão demográfica, Giannetti mostrou que a população brasileira triplicou entre os anos 1950 (50 milhões de habitantes) e 1992 (150 milhões). Há hoje 54 milhões de pessoas no país com menos de 15 anos de idade. "Se nosso crescimento tivesse sido como o da Alemanha, quantas crianças teríamos hoje para educar? Teríamos 13 milhões e não 54 milhões. O investimento per capita seria quatro vezes maior."

A taxa de crescimento populacional diminuiu, mas a transição demográfica guarda uma armadilha, segundo Giannetti: os diferenciais de fecundidade. Pessoas com menor nível social e de escolaridade têm mais filhos. E aí entra de novo a importância da família.

No evento, o editor-sênior da revista "The Economist", Dan O'Brien, destacou a importância da educação no desenvolvimento econômico do país. Segundo estudo da Economist Intelligence Unit (EIU), a renda per capita do Brasil irá triplicar até 2030. "Essa é uma boa notícia. Mas o lado ruim é que, em outros países, esse crescimento será maior. Na Rússia, o crescimento será de quatro vezes. Na Índia e na China, de seis vezes."

O'Brien enfatizou que o crescimento econômico, a globalização e maior abertura das empresas ao comércio mundial têm levado a um aumento da demanda por educação.