Título: Antecipação de medida provoca revisão para baixo do IPCA de janeiro e fevereiro
Autor: Bitencourt, Rafael; Rittner, Daniel; Simão, Edna
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Brasil, p. A3

A decisão do governo de antecipar a entrada em vigor da medida que permitirá reduzir as contas de luz provocou uma onda de revisões nas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro e fevereiro. Pelos cálculos dos economistas consultados pelo Valor, a inflação em janeiro ficará até 0,12 ponto percentual mais baixa devido ao desconto na energia neste mês. O desconto nas contas de luz entrou em vigor ontem.

"Mais importante que a redução de 18% na energia - maior que os 16,2% anteriormente previstos - foi a antecipação da medida. Teremos 20% do mês com a energia mais barata", afirma Luís Otavio Leal, do ABC Brasil, que baixou de 0,95% para 0,83% a projeção para o IPCA de janeiro.

Na quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15, prévia da inflação oficial, havia subido 0,88% em janeiro, superando o teto das previsões. A surpresa levou bancos e consultorias a elevar projeções para o IPCA do mês. Agora, as instituições refazem as contas em sentido contrário.

As distribuidoras que atuam nas 11 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE para o cálculo do IPCA vão cobrar tarifas entre 18% e 18,96% mais baratas. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as distribuidoras Ampla, do Rio, e Celg, de Goiânia, terão queda de 18% nas tarifas. Na Coelba, de Salvador, a redução será de 18,96%. O item energia elétrica tem peso de 3,32% no IPCA, segundo o IBGE. Para cada ponto percentual de reajuste, há impacto de 0,0332 ponto no indicador geral.

Fábio Romão, da LCA Consultores, baixou de 0,92% para 0,87% a previsão para o IPCA deste mês. A antecipação na queda da energia provocou alterações também nas estimativas de fevereiro (0,46% para 0,42%) e março (0,35% para 0,38%). "Com a antecipação, o efeito residual da redução da energia em março é retirado, o que resulta em IPCA mais alto", diz Romão.

Alexandre Andrade, da Votorantim Corretora, estima que o maior impacto da redução na conta de luz vai ficar para fevereiro. Por isso, fez apenas leve ajuste na projeção para o IPCA deste mês, que passou de 0,94% para 0,92%. Para fevereiro, a expectativa do economista é de inflação bem mais modesta, de 0,30%. Leal, do ABC Brasil, também espera inflação mais comportada em fevereiro, entre 0,45% e 0,50%. "Além da energia, os alimentos devem desacelerar fortemente."

O IPCA de janeiro será divulgado na primeira semana de fevereiro e a apuração do IBGE será concluída terça-feira. Ou seja, as novas tarifas de energia terão influência, em relação ao resultado final do índice, apenas sobre cinco dias do mês.