Título: PSDB paulista vai brigar por prévias
Autor: Agostine, Cristiane; Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Política, p. A6

Reduto de lideranças tucanas, o PSDB de São Paulo mobiliza-se para tentar tornar obrigatória a realização de prévias para a escolha do candidato do partido à Presidência da República em 2014. O pontapé inicial será dado na segunda-feira, em um evento com a participação do ex-governador José Serra, que foi duas vezes candidato a presidente - em 2002 e 2010.

O diretório do PSDB de São Paulo também reunirá os filiados para discutir as bandeiras que levará ao congresso nacional da legenda em maio. No encontro nacional, serão definidas as regras para a escolha do candidato à sucessão presidencial e será eleito o novo comando nacional do partido - hoje, o favorito para assumir a presidência da sigla é o senador Aécio Neves (MG), pré-candidato à Presidência da República.

Os tucanos paulistas querem a obrigatoriedade da eleição interna para escolher os candidatos a cargos no Executivo que não disputarem a reeleição. O candidato à Presidência teria de ser definido necessariamente pela voto dos delegados tucanos em todo o país. A ideia é repetir a experiência de prévias feita por São Paulo para escolher o candidato à prefeitura da capital em 2012. "A prévia mobilizou mais os filiados do que as próprias eleições", diz Tobias. "Precisamos aprender que a prévia é saudável para o partido", afirma. Na ocasião, a consulta foi aberta a todos os militantes do partido no município. Serra acabou vitorioso na disputa contra o secretário estadual de Energia, José Aníbal, e o deputado federal Ricardo Tripoli.

Apesar disso, a consulta a todos os filiados ainda é considerada inviável pelo diretório paulista por conta de problemas de logística e organização. Por isso, a opção pelas prévias com delegados. A questão, no entanto, não é consenso no ninho tucano. Ligado a Serra, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman afirma que ainda há tempo para o partido realizar uma consulta aos militantes similar às primárias que acontecem no Estados Unidos. "Se vamos fazer essa consulta, que seja algo amplo. Que não se limite apenas aos delegados. Que todos os filiados e simpatizantes sejam ouvidos", diz Goldman.

Ao definir esse tema como bandeira do evento da semana que vem, o PSDB paulista espera influenciar o comando nacional do partido. "São Paulo tem um peso muito grande dentro do partido. O PSDB só existe para valer em São Paulo. Mesmo em Minas Gerais, de onde veio o Aécio [Neves], o partido não é muito estruturado", diz Tobias.

Além disso, ao defender a obrigatoriedade das prévias, o PSDB paulista abre caminho para um eventual lançamento de Serra à Presidência em 2014. A consulta aos delegados desponta como a principal aposta do ex-governador paulista para viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto, já que, atualmente, o senador Aécio Neves é o mais cotado para representar a sigla. O mineiro tem o apoio de tucanos de peso, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente nacional do partido, deputado federal Sérgio Guerra (PE).

De segunda-feira até o fim de fevereiro, o PSDB paulista fará uma série de palestras com expoentes do partido e parlamentares. Serra foi chamado para abrir os encontros e falará sobre sistema político. A ideia é afinar o discurso dos tucanos. Devem participar também o governador Geraldo Alckmin e o senador Aloysio Nunes Ferreira, entre outras lideranças tucanas no Estado. Ainda estão previstas palestras de ex-integrantes do governo FHC, como ex-presidente do Incra Xico Graziano e o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Graeff, além do próprio ex-presidente Fernando Henrique.

O PSDB paulista também pretende levar como bandeira ao congresso nacional a participação de um grupo maior de filiados na escolha dos dirigentes. "Hoje, o presidente é escolhido pela cúpula do partido. Queremos que os 4 mil, 5 mil delegados que temos escolham o presidente", diz Tobias. "Vamos radicalizar o processo de escolha interna", comenta o presidente da juventude estadual do PSDB, Paulo Matias.

A seção paulista defende também a reformulação do estatuto partidário, com a criação de um código de ética. Os tucanos paulistas querem dar destaque ao debate sobre meio ambiente, desenvolvimento sustentável e defendem a aproximação com o meio sindical. Até março, todos os filiados poderão sugerir mudanças. Eduardo Graeff formatará as propostas, que serão levadas a votação no congresso estadual do partido em abril. O texto aprovado será encaminhado ao congresso nacional, no dia 25 de maio.