Título: Quase metade dos prefeitos eleitos em 2004 têm curso universitário
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Política, p. A8

Os eleitores brasileiros foram mais exigentes na escolha dos prefeitos em 2004. Uma radiografia das eleições municipais do ano passado feita pelo Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) revela que quase a metade dos novos gestores possui nível superior (47,86%), principalmente aqueles que moram em municípios com mais de cinco milhões de habitantes, e são, em sua maioria, mais "experientes", com idades que variam entre 40 e 49 anos. Em um universo de 5.562 prefeitos coberto pela pesquisa, cerca de 93 mil chefes do Executivo municipal, ou 1,67%, são classificados como "sem instrução" (sem estudo formal). Para o economista e geógrafo François Bremaeker, coordenador do estudo "Perfil dos Prefeitos Brasileiros", a escolaridade dos administradores reflete uma maior penetração do ensino de terceiro grau nas diversas cidades do país. "Pode ser uma indicação de que os cursos superiores estão se espalhando por pequenos e médios municípios", disse ele ao Valor. No Sudeste, os prefeitos de nível universitário são 50,48% dos eleitos, seguindo-se em importância a região Nordeste, 49,11%. As demais regiões se posicionam abaixo da média nacional: Sul (46,21%), Centro-Oeste (45,81%) e Norte (39,64%). Ao analisar os dados, o economista percebeu que o grau de instrução melhora à medida em que aumenta o porte demográfico dos municípios. Os prefeitos com nível superior apresentam um participação relativa de 27,05% para as cidades com até dois mil habitantes, que cresce lentamente até atingir a totalidade dos casos para os municípios com população acima de um milhão de pessoas. "Quanto menor a cidade, mais próximo o gestor está da população. Pouco importa, nestes casos, o nível de escolaridade. O povo chega diretamente ao prefeito", afirmou Bremaeker. O levantamento, feito com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), também mostra que o exemplo do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, não se repetiu, em 2004. Os brasileiros elegeram apenas um metalúrgico, o prefeito de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul, José Luiz Stédile (PT), irmão do coordenador nacional do Movimento dos Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile. Ao analisar as ocupações dos eleitos, ele detectou que, nos municípios menores, os prefeitos têm profissões mais ligadas à área rural, como agricultores e pecuaristas. Já nas cidades médias e grandes, predominam os profissionais liberais, principalmente comerciantes. Segundo o cadastro do TSE, foi possível identificar 102 diferentes tipos de ocupação, além da categoria "outra" e a daqueles que não informaram atividade. A pesquisa aponta que 11,27% dos prefeitos são comerciantes e apenas 2% administradores. Além do metalúrgico, do garimpeiro, do carvoeiro, do digitador, do geólogo e dos dois pescadores, há também dois agentes de saúde, dois mecânicos, dois bibliotecários, um auxiliar de laboratório e 13 estudantes. Apesar de as mulheres terem ampliado sua participação na política nacional em relação à 2000, de 5,70% para 7,52%, a escolha dos administradores municipais continua sendo predominantemente masculina. No pleito de 2004, nada menos que 92,46% dos prefeitos eleitos são homens. O percentual de prefeitos é maior na região Sul (95,79%) e menor no Nordeste (89,06%), onde as mulheres atingem seu melhor índice. Na Região Norte as prefeitas também conseguiram um nível de representação melhor (10,02%). Curiosamente, há mais mulheres - em termos percentuais - no comando de municípios das regiões Nordeste e Norte do que no Sul e no Sudeste, reflexo da migração dos homens do Norte do país para cidades ao Sul. Um dado que também chama atenção é que mais de 50% das 16 donas de casas eleitas são esposas de ex-prefeitos. Uma das exceções foi a prefeita eleita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT). "A influência dos clãs políticos pesa muitos nas pequenas cidades. Não foi à toa que grande das prefeitas eleitas são de famílias com tradição política", explicou Bremaeker.