Título: Corte extra compensa parte do custo com térmicas
Autor: Martins, Arícia; Giffoni, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2013, Brasil, p. A3

O desconto adicional nas tarifas de energia elétrica para residências - que será de 18%, e não de 16,2%, como era esperado anteriormente - trará uma redução extra ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013 de 0,1 a 0,2 ponto percentual, segundo cálculos de analistas. Com peso de 3,32% na inflação oficial, o item energia elétrica alivia o IPCA em 0,032 ponto para cada 1% de queda. Economistas mantêm em seu cenário, no entanto, que reajustes periódicos das empresas do setor irão comprometer parte do corte nas contas de luz definido pela Medida Provisória 579.

O alto custo da energia gerada pelas usinas térmicas - que terá que ser repassado aos preços finais nos reajustes anuais de cada empresa do setor ao longo de 2013 e 2014 - já teria corroído cerca de dois pontos percentuais da queda prometida, segundo cálculos do setor. Até março, se for mantido o mesmo uso de termelétricas, esse impacto poderá chegar a cinco pontos, segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), em estimativas divulgadas pelo Valor em reportagem do dia 7 de janeiro.

A queda de 18% nas tarifas residenciais em fevereiro pode trazer o IPCA do próximo mês para 0,30%, abaixo dos 0,40% estimados atualmente, diz Fabio Ramos, economista da Quest Investimentos. Assim, a alta anual do índice de preços projetada pela Quest seria de 5,7%, e não de 5,6%. Ramos prefere, porém, aguardar o detalhamento de como será possível ampliar o desconto nas contas para fazer revisões em seus cálculos.

De qualquer modo, o analista afirma que o impacto direto de uma deflação de 18% no preço da energia, de 0,57 ponto percentual, não irá se concretizar, porque as concessionárias precisam incorporar em seus reajustes periódicos ao longo do ano aumentos de custos provenientes do acionamento das térmicas após a queda no nível dos reservatórios, da depreciação cambial e de IGPs mais pressionados pelo choque de commodities ocorrido em meados de 2012.

Assim, Ramos estima que a deflação acumulada do item energia elétrica em 2013, com uma redução de 18% pela MP 579, seria de 12%. Com um corte de 16%, como definido anteriormente, esse recuo seria ainda menor, entre 9% e 10%, segundo ele. "Um pedaço dessa queda seguramente vai voltar [aos preços]", diz.

Daniel Moreli Rocha, superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners, também calcula que, com uma redução 2% maior, a diferença para a alta do IPCA do ano será de 0,1 ponto a menos. A sua projeção para avanço do índice de preços ao fim de 2013, assim, seria cortada de 5,8% para 5,7%. Nessa conta Rocha já considera um efeito de queda de 0,5 ponto no IPCA decorrente da redução anterior de 16,2% nas tarifas.

"A situação da energia elétrica neste ano está bastante difícil de se prever. O governo está garantindo que a redução da tarifa irá acontecer, mas o uso das termelétricas ao longo do ano e o nível dos reservatórios com menos chuvas podem comprometer essa redução", diz o economista do Banco Indusval.