Título: País vive situação-limite em energia, diz Aníbal
Autor: Dias, Guilherme Soares
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2013, Brasil, p. A3

O cenário atual do setor de energia, que depende das chuvas para aumentar o nível dos reservatórios, é visto com apreensão pelo secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal. "Começamos o ano numa situação-limite, mas a avaliação concreta só poderá ser feita no fim de fevereiro ou março, quando termina o período de chuvas", analisa.

Para ele, nesse cenário de incertezas, o governo federal age de forma defensiva. "Há intransigência, sem reconhecimento dos problemas. Precisa haver sensatez para aproveitar o momento para refletir um plano mais estratégico", diz.

Ele classifica as ações do governo federal como "impulsivas" e dá como exemplo a construção de usinas eólicas descoladas da ligação ao sistema de transmissão. Além disso, Aníbal critica a falta de política para o etanol brasileiro. "O preço da gasolina desestabilizou o setor. O etanol perdeu competitividade. Só haverá ambiente mais propício para produção do etanol na medida em que houver mais convergência no preço dos dois combustíveis", afirma, ressaltando que o etanol deve custar até 70% do preço da gasolina.

O secretário defende que medidas em prol do combustível renovável sejam tomadas para que não haja "desperdício" em conhecimento no qual o Brasil é precursor. "Hoje há 40 usinas à venda no Estado de São Paulo. O setor está quebrado. Isso diminui empregos e a nossa competitividade em setor que o país está à frente", afirma.

Os incentivos ao etanol são importantes, de acordo com ele, para viabilizar usinas de cogeração de energia a partir do bagaço de cana, que apresentam geração firme e são importantes para garantir abastecimento do sistema em períodos de baixa nos reservatórios das hidrelétricas como agora. "As usinas precisam passar por modernização, mas os empresários estão desestimulados a investir. Há desalento no setor que poderia expandir a exportação de energia para a rede", diz.

Hoje, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal financiador desse tipo de negócio, tem em carteira dois projetos de cogeração, ante quatro em 2012. Nos leilões do mercado regulado, onde se negocia cerca de 75% da eletricidade consumida no país, os preços médios caíram 10% em 2012, o que ajudou a afugentar o interesse dos investidores que têm desistido dos projetos.

De acordo com Aníbal, caso não sejam tomadas medidas o potencial energético da biomassa ficará represado. As usinas de São Paulo produzem 4 mil megawatts, dos quais 2,8 megawatts são utilizados pelas próprias empresas e o restante é distribuído para o sistema. "Com as modernizações, o potencial de produção chega a 8 mil megawatts até 2015. Isso se os investimentos começarem agora", lembra.

Os investimentos, segundo o secretário de Energia de São Paulo, estão paralisados pela falta de confiabilidade por parte dos empresários no setor. "Tem investidor esperando política mais estável para investir na cogeração."

Aníbal lembra ainda que dois projetos de usinas térmicas no Estado estão esperando a garantia de fornecimento de gás pela Petrobras para serem viabilizados. "Há uma margem limitada de gás e precisa haver garantia para que elas saiam do papel", reforça.