Título: Para Jarbas, mudança beneficia governo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2007, Política, p. A8

No dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), para uma conversa (ver matéria na página A9), o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) criticou da tribuna a desarticulação das forças de oposição e conclamou-as à maior firmeza e unidade no enfrentamento ao governo. Criticou a recente articulação de tucanos e petistas pelo fim da reeleição, que, ao implantar regras novas no país pode permitir que Lula dispute o terceiro mandato.

"Se a oposição abdicar do seu papel, as implicações dessa lamentável decisão serão sentidas no futuro, pois o presidente Lula talvez não queira apenas eleger seu sucessor, mas, com o fim da reeleição, se manter na Presidência da República", afirmou em seu segundo discurso no Senado.

Jarbas nem sabia do encontro de Lula com Tasso ao preparar o discurso, no qual diz que o presidente quer "cooptar a todos". O senador conclamou o PSDB, o DEM, o PPS, o PV o P-SOL e dissidentes de outras legendas, como PMDB e PDT, a atuarem de forma conjunta para enfrentar a "coalizão governista" no Congresso. E pregou "intransigência" quanto aos princípios. "Não vamos ser seduzidos por elogios fáceis", disse.

Jarbas fez um paralelo com a situação da Venezuela, onde o presidente Hugo Chávez governa sem enfrentar resistência parlamentar. "O estilo do presidente Lula é diferente do presidente Chávez, mas o objetivo de ambos é o mesmo: se manterem no poder a todo custo".

Um dia depois que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), defendeu o fim da reeleição, o senador disse que seria "mero casuísmo, que só beneficiaria o governo" a extinção do princípio a menos de dez anos de sua implantação no país: "Quem lutou para restabelecer a democracia no país não pode ouvir passivamente pretensas negociações com o governo que passem, por exemplo, pelo fim do instituto da reeleição".

Segundo Jarbas, a oposição ao governo Lula errou no passado ao achar que Lula e o PT não iriam superar os desgaste sofrido com o escândalo do mensalão. "Não devemos errar novamente, ficar atônitos diante da atual popularidade do presidente Lula." Para o pemedebista, o papel da oposição "é uma necessidade, diante da estratégia clara e determinada do presidente da República de se tornar unanimidade, de cooptar a todos".

Ele conclamou a oposição a resistir e a apontar erros "decorrentes da prepotência governamental". Como exemplo, criticou o fato de a oposição assistir "passivamente" o governo petista adotar a bandeira da estabilidade econômica, depois de combatê-la nas eleições presidenciais de 1994 e 1998.

Para Jarbas, o Senado - Casa do Congresso em que a base aliada do Palácio do Planalto não tem maioria - deve ser "a principal trincheira de resistência à submissão total aos interesses do governo". Ele condenou a disputa havida entre PFL e DEM pela decisão de onde seria instalada a CPI do Apagão Aéreo, que considerou "querelas menores".

Um dos fundadores do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), o ex-governador de Pernambuco encontra-se numa situação desconfortável no Senado. Logo no início do mandato discordou do apoio do seu partido a Lula e formou, junto com outros cinco senadores, um grupo de dissidentes do PMDB. Sem unidade entre os integrantes, o bloco não se consolidou como oposição.