Título: Ser ministro: um bom negócio
Autor: Fonseca, Marcelo da
Fonte: Correio Braziliense, 13/12/2010, Política, p. 3

A guerra de articulações e interesses dos partidos para chegar aos nomes finais na Esplanada tem um ingrediente histórico: 10 antigos titulares dos ministérios tornaram-se, tempos depois, presidentes da República Desde a confirmação da vitória de Dilma Rousseff (PT) no segundo turno das eleições presidenciais, as articulações para a escolha das vagas nos ministérios começaram. E não são apenas os interesses econômicos, com os grandes orçamentos e verbas que atraem políticos na disputa pelas pastas. A visibilidade dos cargos na Esplanada dos Ministérios pode ser um importante passo na carreira dos ocupantes e levá-los a posições mais altas. Foi o que ocorreu com 10 ex-presidentes da República ¿ quase um terço da lista de presidentes do Brasil ¿, que tiveram passagens marcantes pelos ministérios, antes de assumir o posto mais alto no Planalto.

Alguns tiveram maior destaque como ministros, como nos casos de Getúlio Vargas, João Goulart e Fernando Henrique Cardoso. Já outros nomes, apesar de menos força nos ministérios, acabaram assumindo a Presidência, como Eurico Gaspar Dutra, Campos Sales, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Epitácio Pessoa, Costa e Silva e Tancredo Neves.

¿Normalmente, são parlamentares de destaque que têm chances de ocupar os ministérios e por isso já chegam gabaritados. Eles passam a ter poder ainda maior para fazer nomeações importantes, controlar estruturas administrativas, organizar a ordenação de despesas e desenvolver políticas públicas. Consequentemente, ganham visibilidade e promoção pessoal, o que pode facilitar na continuidade da carreira política¿, explica o cientista político Malco Lara.

O principal exemplo foi Getúlio Vargas, que, antes de se tornar presidente, ocupou o Ministério da Fazenda, nos anos de 1926 e 1927. Durante sua gestão foram implantados dois programas bem-sucedidos: a reforma cambial e a monetária, que renderam prestígio a Vargas e alçaram seu nome nacionalmente. ¿São vários fatores que podem, ou não, levar homens de destaque em um determinado governo a continuar no poder. Carisma pessoal é um desses fatores. No caso de Vargas, foi determinante para que ele se elegesse, apesar de chegar ao poder com um golpe¿, lembra Julia Calvo, do Departamento de História da Puc Minas.

Mínimo Já o ex-presidente João Goulart assumiu o Ministério do Trabalho em 1953. Na liderança da pasta, ganhou força com os movimentos dos trabalhadores. Ele assinou decretos em favor da Previdência, facilitou os financiamentos de casas próprias e organizou regulação de empréstimos pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB). Como principal ação, Jango defendeu o aumento de 100% no salário mínimo, o que garantiu a popularidade com a classe trabalhadora. Também em 1953, Tancredo Neves foi nomeado ministro da Justiça e suas articulações conciliadoras foram fundamentais, décadas depois, na escolha de seu nome para a Presidência, em 1985.

Fernando Henrique Cardoso também teve passagem marcante por um ministério. Ele assumiu a pasta da Fazenda, entre 1993 e 1994, durante o governo de Itamar Franco, e lançou, em fevereiro de 1994, o Plano Real. No mesmo ano, FHC se elegeu presidente da República no primeiro turno. ¿Foi o Plano Real que elegeu Fernando Henrique. Ser considerado o ¿pai¿, responsável por colocar em prática o programa que deu estabilidade econômica ao país, foi decisivo para sua vitória¿, opina Malco.

Assunto superado Na manhã de sábado, uma das muitas visitas da Dilma Rousseff à Granja do Torto foi a de Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais da Presidência. O petista, que deve permanecer no governo, discutiu temas da política internacional, incluindo o caso dos telegramas divulgados pela ONG WikiLeaks, que apontam que Dilma teria ajudado a organizar assaltos a bancos. Segundo Garcia, o assunto está superado.

Campelo e o Bolsa Família Atual coordenadora de Projetos Estratégicos da Casa Civil e antiga amiga de Dilma, Tereza Campelo também visitou a presidente eleita na Granja do Torto, no sábado. Ela faz parte do quadro técnico do PT e é cotada para o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), pasta hoje ocupada por Márcia Lopes. Tereza teria sido convidada por Dilma e aceitado. A assessoria de imprensa da transição, porém, não confirmou. O MDS é responsável pelo Bolsa Família, principal programa social do governo Lula. Teresa trabalha em administrações do PT há mais de 20 anos.

Dilma, uma exceção

A próxima presidente do Brasil também passou pela Esplanada antes de ser eleita. Mas, ao contrário dos outros casos de ministros que chegaram ao Planalto, Dilma venceu, este ano, a primeira eleição que disputou. ¿O caso de Dilma é exceção, já que ela se tornou presidente sem ter carreira política de destaque. Ela se destacou em uma área técnica e foi escolhida pelo presidente para dar continuidade ao governo. Ela não foi eleita por ter sido mãe do PAC, mas por ser a indicada por Lula¿, opina Malco Lara.

Dilma iniciou sua trajetória em Brasília no governo Lula, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia em 2003 e depois foi escolhida para a Casa Civil, em 2005. ¿Ela não teve um percurso tradicional. Normalmente, o caminho dos políticos começa com cargos no Poder Legislativo estadual e, depois, em cargos mais altos. No caso de Dilma, esse percurso foi quebrado. A história dela sempre foi ligada ao Executivo¿, diz Júlia.

Para conseguir visibilidade e popularidade a ponto de se eleger presidente, os políticos têm que estar nas pastas certas na hora certa. ¿Nem todos os ministros conseguem a mesma projeção. Algumas casas promovem politicamente aqueles que o ocupam, como os Ministérios das Cidades e da Saúde, em que o chefe tem relacionamento direto com prefeitos e grande espaço na mídia. Já outros setores não tem tanta visibilidade. É por isso, entre outros interesses, que a disputa dos partidos por certos ministérios é tão acirrada¿, diz Malco. (MF)