Título: Tasso vai ao Planalto a convite do presidente
Autor: Ulhôa, Raquel e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2007, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem ao presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE) apoio dos tucanos para a aprovar no Congresso a prorrogação da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) e da Desvinculação da Receita da União (DRU). A aprovação vai exigir os votos favoráveis de três quintos dos deputados e dos senadores. Lula destacou que a CPMF é fundamental para assegurar a governabilidade do país. Lula, no entanto, não concordou com duas propostas feitas pelo tucano: repartir a CPMF com Estados e municípios e reduzir, gradativamente, a alíquota de 0,38% para 0,08%.

Lula concordou, no entanto, com outras duas sugestões feitas pelo presidente do PSDB: a revisão do veto à criação da Sudene e a redefinição do conceito de receita líquida para o pagamento das parcelas da dívida negociada com a União. Tasso assegurou que não foi discutida a CPI do Apagão Aéreo, embora, na saída, Lula tenha dito ao tucano "que respeitava a posição do partido sobre o assunto".

Tasso assegurou que o seu partido não mudará o relacionamento com o Planalto por conta do encontro de ontem. "Não entendam essa visita como uma mudança de posição. O diálogo entre governo e oposição é bom para o país, mas exerceremos sempre o nosso papel. É uma relação institucional. É positivo para o país. É preciso ter uma relação civilizada e de diálogo entre a oposição e o governo. Isso não deveria ser surpresa".

Foi a líder do governo no Congresso, a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), quem ligou para Tasso ontem, transmitindo o convite de Lula para que o líder fosse ao Planalto discutir a prorrogação da CPMF. Tasso é o autor da proposta de redução gradual, rejeitada por Lula.

Como justificativa para aceitar o convite do presidente Lula para a conversa no Palácio do Planalto, Tasso Jereissati afirmou que "não se pode confundir oposição com falta de educação". Disse sempre estar aberto ao diálogo institucional com Lula para tratar de questões nacionais e negou risco de cooptação pelo governo. Para o tucano, "no Brasil se confunde oposição com bravata, gritos e xingamentos".

Ao chegar ao Planalto, acompanhado de Roseana, Tasso foi perguntado por um jornalista se, depois da visita, deixaria de acusar o presidente de corrupção. "Não mudo tão fácil", foi a resposta. Eles chegaram por volta de 18h20 e deixaram o Palácio mais de duas horas depois.

A ida do presidente do PSDB ao Palácio do Planalto surpreendeu parlamentares do DEM, parceiro dos tucanos na oposição a Lula. Pedindo para não ser identificado, um integrante da Executiva Nacional do DEM disse que não iria comentar o gesto de Tasso "para não azedar ainda mais as relações". Para ele, política se faz com simbolismos e a ida do presidente de um partido de oposição ao encontro do presidente da República "quebra o simbolismo".

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirmou respeitar a decisão de Tasso de ir ao encontro de Lula, mas deixou claro que há diferença de postura: "Essa é uma questão interna do PSDB. Cada um avalia sua forma de atuação. Nós achamos que uma reunião com o presidente tem que ser conversada, ter uma pauta pré-estabelecida. Não pode ser só para tomar um café. Isso não nos interessa. Entendemos que é mais produtivo atuar no Congresso, discutindo e votando temas de interesse do país. O Congresso Nacional é o local desse debate".

Na opinião de Rodrigo Maia, a divergência sobre a relação com o Planalto não ameaça a parceria dos dois partidos no exercício da oposição. "Não afasta nem aproxima. A prática é diferente, mas o objetivo de longo prazo é o mesmo: afastar o PT do governo em 2010. Convergimos em muitas questões e divergimos em outras. Mas o objetivo é o mesmo", reforçou o deputado do DEM.

Tasso já previa críticas vindas do DEM. "Temos uma aliança com eles. Mas eles têm um estilo e nós temos o nosso, que é diferente", afirmou. "Não faz parte da nossa cultura radicalizar e não dialogar", completou. Segundo ele, a disposição para o diálogo é "muito mais uma questão de postura que de posição política". De acordo com o presidente do PSDB, a posição política do partido é clara: fazer oposição ao governo do primeiro ao último dia. "Não há visita ao gabinete presidencial que mude isso."

Antes do encontro, Tasso comunicou aos presidentes dos diretórios estaduais do partido, com os quais se reuniu à tarde, que havia aceito o convite de Lula. Por telefone, informou os governadores tucanos e os líderes do partido. Disse ter tentado falar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sem sucesso, porque FHC estaria viajando.

Tasso afirmou que não poderia ser censurado por ele, "já que conversar com a oposição foi uma prática que ele adotou quando presidente". Depois das consultas, o presidente do PSDB garantiu ter recebido apoio dos correligionários para o encontro: "Tenho convicções, o partido tem convicções e não vejo problema de contágio".