Título: Mahmmoud Abbas é eleito novo presidente palestino
Autor: Agências internacio
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2005, Internacional, p. A9

O candidato moderado Mahmmoud Abbas se tornou ontem o novo presidente da Autoridade Nacional Palestina, o que poderá dar início a um novo período de negociações com Israel e pôr fim a quatro anos de violência nos territórios ocupados. Resultados preliminares, divulgados logo após o encerramento da votação, apontavam para uma vitória com larga margem, como era esperado, com cerca de 66% dos votos para Abbas. Seu principal rival, o independente Mustafá Barghouti, ficou com 19,7%, segundo pesquisa do Centro Palestino de Política e Pesquisa, um órgão independente. O resultado oficial só deverá ser anunciado hoje. Foi a primeira eleição palestina em nove anos, um dia histórico para a população palestina e o Oriente Médio. Mas o baixo comparecimento às urnas - algo próximo a 60%, segundo estimativas iniciais - levanta preocupações em relação à legitimidade do novo governo, dizem analistas. O Fatah, partido político de Abbas, esperava um comparecimento de 80%. Cerca de 1,8 milhão de palestinos estavam aptos a votar, mas a votação não é obrigatória nos territórios. O baixo comparecimento pode ter sido resultado do apelo de grupos islâmicos radicais, como o Hamas, que boicotaram o pleito. Esses grupos são contrários às negociações de paz com Israel. Mas houve relatos também de problemas para votar em Jerusalém Oriental, majoritariamente árabe, onde eleitores acusaram soldados israelenses de limitar o acesso aos postos de votação. A ausência de eleitores fez com que as autoridades eleitorais decidissem estender por duas horas o término do horário de votação (para 17h00 em Brasília). De forma geral, porém, a votação nos territórios ocupados transcorreu sem registros de problemas graves. Cerca de 800 observadores internacionais acompanharam o pleito, entre eles Javier Solana, ex-diretor de política externa da União Européia, e o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter. A vitória de Abbas deverá levar os palestinos a uma nova fase de conversações com Israel, mas o novo presidente terá desafios internos maiores, como controlar as milícias extremistas e reformar o governo, maculado pela corrupção da era Arafat. Mas muitos pareciam otimistas ontem. "Este resultado mostra que Abu Mazen [como Abbas é popularmente conhecido] terá legitimidade parte negociar com os israelenses, e que a população palestina aceitará as suas decisões. Ele obteve um mandato do povo", disse Khalil Shkaki, diretor do órgão. "Este foi um dia notável, histórico", disse o observador Solana. Abbas é visto com simpatia pelos EUA e por Israel - o que o torna, ao mesmo tempo, vulnerável dentro de casa. Ontem mesmo, Washington anunciou que irá aumentar a ajuda financeira aos palestinos e disse que irá pressionar Israel para libertar mais prisioneiros palestinos, como parte das medidas de confiança para o início do diálogo. "Os EUA estão prontos para fazer mais", disse o secretário de Estado americano, Colin Powell. Abbas substituirá Iasser Arafat, falecido em novembro passado.