Título: Captações chegam a US$ 11 bilhões
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2007, Finanças, p. C1

As tensões nos mercados internacionais no final de fevereiro e início de março não impediram que o total de captações externas de governo, empresas e bancos brasileiros chegasse a US$ 11 bilhões no primeiro trimestre deste ano. É o maior valor para os três primeiros meses do ano desde que o Valor Data iniciou seu levantamento, em 2000. O aumento com relação aos US$ 6,457 bilhões do mesmo período do ano passado é de 70%.

Com o risco-Brasil atingindo diariamente recordes de baixa - 148 pontos básicos ontem -, as empresas vão continuar a emitir papéis por prazos longos e juros cada vez mais baixos. A Globopar, por exemplo, fechou ontem operação de US$ 200 milhões, pelo prazo de 15 anos, com demanda de mais de US$ 1 bilhão, pagando 258 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de dez anos.

"A curva de juros americana continua achatada, o que favorece o alongamento de prazos", diz Alexandre Leonel de Rezende, diretor-gerente responsável pela área corporate e de banco de investimento do ING. "A janela no mercado de bônus está acontecendo agora", comenta Marcelo Marangon, chefe da área de corporate finance e de corporate banking do Citi. Ele lembra que as emissões do primeiro trimestre foram impactadas negativamente pela queda na bolsa chinesa de 8%, em 27 de fevereiro, e crise no mercado de crédito imobiliário americano para tomadores de maior risco (subprime).

Antes disso, no entanto, diversos novos emissores brasileiros foram a mercado, como a GP Investimentos, que levantou US$ 150 milhões em bônus perpétuos, e a Sul América Seguros, que captou US$ 200 milhões por cinco anos. "Agora, as taxas dos títulos americanos voltaram a ficar mais estáveis como no começo do ano, o que abre importante oportunidade de captação para o país", comenta Marangon. Ele acredita que o segundo semestre será ainda mais favorável em captações externas de empresas e bancos brasileiros.

"As aquisições alavancadas vão continuar a movimentar o mercado de empréstimos", continua Marangon. O Citi lidera, junto com o ABN Amro e o Calyon, empréstimo de US$ 1,2 bilhão para a Braskem comprar os ativos petroquímicos da Ipiranga. "Estamos conversando com clientes e diversas operações de aquisição alavancada estão no forno", concorda Rezende.

Neste primeiro semestre, dos US$ 11 bilhões captados no mercado externo, US$ 5 bilhões dizem respeito a um pré-pagamento à exportação feito pela Companhia Vale do Rio Doce para rolar empréstimo-ponte de US$ 18 bilhões tomado em 2006 para comprar a canadense Inco. Foi esse empréstimo que elevou o total captado no último trimestre de 2006 a US$ 28 bilhões, um recorde histórico para todos os trimestres.

Segundo Rezende, os grandes projetos de investimento já começam a tomar corpo e as estruturas de "project finance" em óleo, gás, mineração e diversos outros setores da infra-estrutura básica vão ganhar cada vez mais volume. O ING é o líder de empréstimo de US$ 810 milhões para a Queiroz Galvão, que está para fechar, a ser tomado sob a estrutura de "project finance" para a construção de sondas de perfuração de petróleo que serão alugadas pela Petrobras.

As operações de quitação antecipada de dívida e troca dessa dívida por outra de prazo mais longo e custos menores devem continuar a acontecer, diz Marangon. A Petrobras foi um exemplo: emitiu US$ 399 milhões em fevereiro para recompra antecipada de papéis.

"As operações de crédito 'revolver', muito comum nos países desenvolvidos, também vão ganhar cada vez mais volume", diz Rezende. O ING é um dos participantes de empréstimo de US$ 650 milhões para a Vale, sob a liderança do BNP Paribas, que tem prazo de até cinco anos. Como um empréstimo "stand-by", um "revolver" ou crédito rotativo é uma linha que fica disponível para a empresa por um período pré-determinado com uma taxa prefixada.

"Mas, o revolver é mais flexível", explica Marta Alvez, tesoureira do ING. Um crédito "stand-by", depois de sacado e quitado, não pode ser tomado de novo. O "revolver" permite que a empresa saque os recursos, pague, e depois saque de novo dentro do prazo pré-estabelecido.

O governo federal brasileiro reduziu sua participação no mercado, captando US$ 1,567 bilhão em três operações liquidadas no primeiro trimestre - deu mais liquidez ao título de vencimento em 2037 e alongou para 2028 o prazo de seus títulos da dívida externa em reais. Em 2006, o governo havia captado US$ 1,863 bilhão no primeiros trimestre. A Cesp também emitiu em reais, US$ 350 milhões. "Os investidores externos acham que a nossa moeda vale mais e estão interessados nos rendimentos dos papéis em reais. Por isso, deveremos ter cada vez mais operações em moeda nacional no exterior", diz Deiwes Rubira de Assis, presidente do ING no Brasil

O Bradesco voltou ao mercado externo e levantou US$ 250 milhões por prazos de até 12 meses, aproveitando a possibilidade de arbitragem no curto prazo. Entre os pequenos e médios, só o Paraná Banco e o Banco Schahin lançaram títulos. "O mercado de ações se tornou uma forma de captação possível para os bancos médios e alguns desistiram de emitir bônus", diz Carlos Gribel, sócio diretor da Queluz Securities, que liderou a captação do Paraná Banco.