Título: Cabeça de investidora
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2007, EU & Investimentos, p. D1

Foi-se o tempo em que bolsa era somente um acessório desejadíssimo pelo público feminino. Bolsa hoje também é sinônimo de investimento para muitas mulheres e elas estão cada vez mais interessadas em conhecer o mercado acionário. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado pelo instituto de pesquisa QuorumBrasil, que mapeou quais são os investimentos preferidos das mulheres paulistanas e cariocas. O resultado mostra que, apesar de aplicarem ainda pouco no mercado acionário, 25% das mulheres gostariam de experimentar a aplicação em ações.

No total, foram ouvidas 570 mulheres das classes A e B, sendo 320 na cidade de São Paulo e 250 na capital carioca, com idade entre 20 e 55 anos. Entre as paulistanas, 36% consideram interessante o investimento em ações ante 15% das cariocas. Mas quando questionadas se costumam aplicar no mercado acionário, somente 3% das mulheres de São Paulo disseram que sim, para 1% das do Rio. "Isso mostra o enorme potencial que a bolsa tem nesse público", diz Cláudio Silveira, sócio da QuorumBrasil.

O levantamento mostra ainda que grande parte das mulheres quer aumentar seus investimentos. "Imagine o quanto uma orientação bem feita repercutiria nesse público, é um enorme potencial", avalia o executivo. Não por acaso, a Bolsa de Valores de são Paulo (Bovespa) desenvolve o programa "Mulheres em Ação". Lançado em junho de 2003, o objetivo é aproximar o público feminino do mercado, fornecendo educação financeira e esclarecimentos sobre o tema. Mas os números da bolsa mostram que as mulheres ainda são minoria: cerca de 21% dos investidores da bolsa, ou 51 mil, para um universo de 234 mil.

Do total de mulheres ouvidas, 70% das paulistanas fazem algum tipo de investimento, enquanto apenas 41% das cariocas poupam. "Investir está no sangue da paulistana", diz Silveira. Não há grandes diferenças quando o corte e feito por classe social. Na classe A, 66% das mulheres ouvidas disseram guardar dinheiro, para 68% na classe B.

O QuorumBrasil considera como classe A as pessoas com renda familiar acima de R$ 8 mil e B aquelas entre R$ 4 mil e R$ 8 mil. Os valores são um pouco acima dos utilizados em outros institutos, pois o objetivo é atingir o público que realmente faz algum tipo de investimento.

Uma das marcas das aplicações femininas é o conservadorismo. A maior parte das mulheres ainda investe na boa e velha caderneta de poupança. Entre as paulistanas, 53% aplicam em caderneta ante 41% das cariocas. As mulheres de São Paulo, no entanto, têm a previdência privada como forma de aplicação em segundo lugar, com 19%. Já no Rio, o investimento em fundos aparece depois da poupança. Do total de paulistanas ouvidas, 35% gostariam de experimentar o mercado imobiliário e 22% o de ações. entre as cariocas, 22% gostariam de testar os investimentos em imóveis e 15% em ações.

Outra diferença interessante entre os dois grupos é o horizonte de aplicação. Enquanto na capital paulista 78% das mulheres têm visão de longo prazo, na cidade maravilhosa, a fatia é de 64%. Isso explica, por exemplo, o fato de as paulistanas estarem mais preocupadas com o risco na hora de investir, com 27,3%, diz Silveira. Já as cariocas levam em consideração muito mais a rentabilidade, com 26,7%. De qualquer forma, a confiança na instituição ainda é a maior preocupação: 34,6% em São Paulo e 36,4% no Rio.

Os bancos, na figura dos gerentes, são a principal fonte de informação do público feminino quando o assunto é investimento. Chama a atenção que familiares e amigos aparecem no segundo e terceiro lugares, respectivamente. Jornais e revistas estão no quarto lugar. "Como os familiares são os principais agentes que as incentivam a investir, as mulheres levam muito em consideração as dicas dessas pessoas", diz Silveira. "Segundo a pesquisa, a família é quem estimula as mulheres a investir, representando 46% no caso das paulistanas e 44% entre as cariocas.

De olho nesse potencial, as corretoras de valores já montam vários clubes de ações formados por grupos de amigas ou abertos para qualquer mulher aplicar. Grande parte dessas instituições, inclusive, oferece cursos sobre o mercado de capitais. As corretoras Concórdia e Gradual estão entre as que oferecem clubes abertos.