Título: Força do câmbio pode virar problema na América Latina
Autor: Ibáñez, Graciela; Harrup, Anthony
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2013, Empresas, p. B11

O recente salto das moedas latino-americanas tem levado exportadores da região a renovar a pressão sobre bancos centrais e governos para frear uma valorização que eles temem que irá limitar sua competitividade num momento de desaceleração da demanda por suas exportações.

No Chile, Colômbia e Peru, está chovendo dólar novamente à medida que o abalo econômico global se suaviza e os investidores americanos voltam a se sentir atraídos pelos retornos mais altos sobre investimentos que os mercados emergentes oferecem.

A moeda local forte e os altos custos com mão de obra e energia criam uma "tempestade perfeita" para os exportadores, diz Wilfred Leigh, diretor-presidente da vinícola chilena Bethwines.

"Uma solução seria aumentar os preços dos nossos vinhos, mas, como a Europa é o nosso maior mercado, se aumentássemos os preços lá, ninguém compraria os nossos vinhos", diz Leigh. "Os europeus estão passando pela sua própria crise."

Exportadores brasileiros culparam o real forte pela queda no superávit comercial do país no ano passado, quando as exportações diminuíram 5% e as importações caíram apenas 1%.

"Estamos enfrentando uma concorrência de preços, não só nos mercados de exportação, mas também no mercado doméstico", disse Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Brasileira das Indústrias.

A pressão que os exportadores vêm fazendo no Chile por uma intervenção ganhou força nas últimas semanas, quando o peso atingiu um pico de três meses em relação ao dólar, fechando duas vezes em cerca de 470 pesos chilenos por dólar, um nível que a psicologia do investidor acredita ser o limite para que o banco central possa intervir. Quando o peso atingiu essa faixa de câmbio, em janeiro de 2011, o banco lançou um programa de intervenção de um ano.

Outros acreditam que uma nova intervenção seja improvável. Eles dizem que a causa da valorização atual é, em parte, a fraqueza do dólar, ligada à generosidade do Federal Reserve, o banco central americano.

Com o câmbio "a 470 pesos, os investidores compram dólares e depreciam o peso", diz Sergio Tricio, chefe de pesquisa da Forex Chile.

Ontem, o peso caiu um pouco, e fechou a 471 por dólar.

Numa entrevista ao The Wall Street Journal, o presidente do banco central do Chile, Rodrigo Vergara, disse que está vigiando de perto a alta do peso, embora o câmbio continue alinhado aos fundamentos de longo prazo. Ele disse que a moeda está no ponto mais alto da faixa de tolerância do BC. O peso subiu 8% em 2012.

"Alguns setores se beneficiaram de altas significativas de preços no exterior", disse ele. "Outros têm uma perspectiva mais complicada. Então, naturalmente, alguns setores industriais ou agrícolas foram muito mais afetados do que outros e eles criticam."

Em toda a América Latina, a estratégia de intervenção monetária tem variado, sendo o Brasil o mais ativo na gestão de oscilações e o México um dos que menos intervêm.

Benito Berber, estrategista para a América Latina da Nomura, diz que a valorização cambial pode vir a ser um problema na região em 2013, citando declarações recentes de autoridades na Colômbia sobre o enfraquecimento da moeda local.

Medidas para enfraquecer moedas locais podem levar os investidores a buscar outras alternativas, uma vez que a depreciação do câmbio reduz os ganhos de títulos de dívida em moeda local. "É algo que eles levam em conta", diz Berber.

O peso mexicano é uma das moedas de mercados emergentes mais negociadas, e, como resultado, está entre as mais vulneráveis às oscilações de humor dos investidores.

Na semana passada, o peso mexicano atingiu seu maior nível desde setembro de 2011, ficando em menos de 12,60 pesos por dólar. O ministro da Fazenda, Luis Videgaray, disse que o banco central e o governo vão manter a política de acumulação de reservas estrangeiras como uma "medida preventiva" contra crises de volatilidade do mercado internacional. O peso mexicano valia ontem 12,65 por dólar.

O ministro da Fazenda da Colômbia, Mauricio Cárdenas, não se preocupa com os pedidos de mais intervenção para reduzir a força do peso colombiano, dizendo que a subida recente da moeda é "transitória" e que a taxa de câmbio em breve voltará a 1.800 pesos colombianos por dólar. Ontem a moeda estava na casa de 1.777 por dólar.

O banco central colombiano atualmente compra pelo menos US$ 20 milhões por dia, e o Ministério da Fazenda faz compras de dólares discricionárias.

"O problema vai além da simples compra de dólares [...] isso requer medidas mais agressivas e mais audaciosas", possivelmente que incluam controles de capital, diz Augusto Solano, que lidera uma associação de exportadores de flores na Colômbia.

A Costa Rica está planejando isso. O governo propôs esta semana medidas temporárias ao Congresso, incluindo a imposição de altos impostos sobre os ganhos financeiros de investidores estrangeiros que são transferidos para fora do país.