Título: Analistas preveem recuperação do crédito
Autor: Mandi, Carolina; Sato, Karin
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Finanças, p. C1

O ano que mal começou não será, mais uma vez, fácil para os bancos, mas o consenso entre analistas é que será melhor que 2012. O ano passado foi marcado pelos calotes, principalmente nos segmentos de pequenas e médias empresas e veículos, e pela pressão do governo pela redução dos spreads. Os bancos tiveram que se apressar para mudar o mix da carteira de crédito, em direção de produtos menos arriscados, como o crédito imobiliário e o consignado, que contam com garantia. O processo, porém, causa efeitos colaterais no curto prazo. E esses foram especialmente prejudiciais ao Itaú Unibanco.

O mercado, porém, está otimista para 2013. A inadimplência deve cair, refletindo na redução das despesas com provisão para créditos de liquidação duvidosa. É possível, ainda, segundo analistas, que o governo Dilma Rousseff interfira menos no setor. O risco é que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) decepcione mais uma vez, resultando na continuidade da estratégia dos bancos públicos de expansão agressiva do crédito via redução de taxas.

Para a equipe de análise da Planner, como o aumento da inadimplência em 2012 levou os bancos a segurar os empréstimos, é natural que ocorra uma desaceleração do ritmo de crescimento da carteira de crédito. Apesar disso, parte das casas de análise prevê que os bancos privados devem voltar a emprestar com mais força para recuperar o espaço que perderam para as instituições públicas.

"Com alguma recuperação no crescimento dos empréstimos, uma queda no custo do crédito e um estrito controle de custo, amenizado por margens e spreads mais baixos, esperamos que a lucratividade dos bancos se recupere", projeta o Goldman Sachs.

O que tem mudado é o perfil da carteira de crédito. "Os bancos alteraram a forma de emprestar para as pessoas físicas. Por isso, o nível de atraso nos pagamentos deve melhorar. O valor das entradas pedidas para o financiamento de automóveis, por exemplo, aumentou", diz o analista Mário Pierry, do Deutsche Bank. Para ele, reformulações como essa devem melhorar a qualidade dos ativos dos bancos.

Um pouco menos otimistas, os analistas do BTG Pactual vislumbram uma recuperação dos ativos mais lenta. "Somos céticos em relação a uma forte redução na inadimplência e nas provisões em 2013." O banco baseia suas projeções nas recentes revisões de estimativas para o PIB, ao mesmo tempo em que a inflação sobe.

Um relatório do Morgan Stanley relata que o Itaú espera um crescimento da carteira de cerca de 15% em 2013. Porém, a pressão sobre a margem causada pela mudança no mix da carteira e pela trajetória de queda da Selic deve continuar. O banco prevê que a margem financeira líquida decline de 10% a 15% em 2013, estimativa que os analistas do Morgan consideram "muito otimista", levando em conta a queda da taxa básica de juros. Já a receita financeira líquida deve ficar estável ou um pouco menor.

Já a gestão do Bradesco espera ficar em linha com o crescimento estimado dos empréstimos dos bancos neste ano, de 15%, diz o relatório do Morgan Stanley. O texto relata ainda que a instituição financeira enxerga um "crescimento atrativo" no segmento de pequenas e médias empresas.

Outra tendência da indústria bancária que deve se intensificar neste ano é a diversificação das receitas, com a crescente oferta de produtos como seguros e planos de previdência. Isso pode beneficiar especialmente o Banco do Brasil, que tem investido em novos produtos e serviços, segundo a equipe de análise da Planner. A expectativa para o banco público é de continuidade do aumento do volume de empréstimos, caso a inadimplência não suba, o que pegaria o mercado de surpresa.

A equipe de análise do Banco Espírito Santo chama atenção para um risco adicional: o efeito negativo dos empréstimos prefixados concedidos antes de o Banco Central iniciar o afrouxamento monetário, em meados de 2011. Essa fatia da carteira de crédito estava sendo remunerada a uma taxa básica de juros mais alta. "Uma parte desses ativos está gerando receita a Selic de 12,5% ao ano", exemplifica o analista Gustavo Schroden. "Como no geral essa fatia da carteira tem um vencimento de dois anos, ou seja, vencerá em meados deste ano, haverá um impacto na receita dos bancos", afirma.

Cálculos do Banco Espírito Santo apontam que o percentual de crédito prefixado a vencer neste ano varia de cerca de 21% a 27% nos quatro bancos. A estimativa é de um impacto negativo médio no rendimento do portfólio de crédito de 10,1% no quarto trimestre de 2013, em comparação a igual período do ano passado.

Questionado se esse efeito não poderia ser compensado pela redução do custo de "funding", ou seja, dos passivos, justamente por conta da queda da Selic, Schroden responde que não. "No lado do passivo, grande parte das operações é pós-fixada, o que significa que logo após a queda da Selic, esse custo já caiu", explica.