Título: IPCA-15 exige mais da ata do Copom
Autor: Oliveira, joão, José; Pinto, Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2013, Finanças, p. C2

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que o Banco Central divulga hoje tem que trazer mais clareza ao apontar os motivos pelos quais a inflação teve piora no balanço de riscos e a atividade doméstica segue abaixo do esperado, apontam profissionais de mercado. Ontem, os juros projetados nos contratos da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam perto da estabilidade, depois de atingirem as máximas registradas em dois meses, alimentadas pela aceleração da inflação medida pelo IPCA-15. O Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2015 cedeu a 7,87% de 7,88% da véspera, depois de bater 7,92% durante a sessão.

A necessidade de explicar o atual quadro de pressões inflacionárias ganhou reforço entre os agentes de mercado depois que o IPCA-15 mostrou aceleração para 0,88% em janeiro ante 0,69% em dezembro.

Para o economista-chefe do ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, a atribuição de pesos semelhantes à inflação e ao ritmo da atividade econômica no comunicado seguinte à reunião do Copom, semana passada, foi a principal justificativa do Banco Central para sustentar o discurso de que é melhor seguir com a manutenção por um período suficientemente prolongado da taxa básica Selic, em 7,25% ao ano.

O economista-chefe do J.Safra, Carlos Kawall, vai na mesma linha e admite que a ata do Copom pode levá-lo a rever as projeções para a taxa básica de juros neste ano. Para ele, importa checar também na ata a visão do Banco Central sobre a atual política fiscal, que ficou mais expansionista. "Ao menos para 2013 não parece que o BC vai indicar ainda que trabalha com superávit abaixo da meta, já que não houve decisão oficial do governo a esse respeito. Mas com o cenário de inflação piorado e podendo nos próximos meses bater no topo da meta em bases anualizadas, creio que o BC deverá indicar um balanço de riscos pior, o que implicaria descartar a hipótese de queda de juros no curto prazo, tal como prevemos", admite.

O sócio-gestor da SM Managed Futures, João Luiz Mascolo, avalia que o teor mais relevante a ser observado como subsídio para que os agentes de mercado possam traçar os horizontes de política monetária será a relação entre inflação e crescimento. "Embora todos saibam que esse Banco Central não tem um mandato de buscar crescimento, é o que ele tem feito. Se a ata abordar novamente esse tema de maneira simultânea vai sinalizar que a Selic segue mesmo estável", aponta.

Para Souza Leal, a questão da manutenção dos juros por um período suficientemente prolongado tem relação com o equilíbrio dos riscos entre inflação e crescimento. "As análises e, principalmente, as expectativas do BC a respeito dessas duas variáveis podem dar uma dica se o Copom tem algum viés nesse momento", afirma.

Sobre os temas mais quentes da pauta econômica - reajustes de combustíveis, preços de energia e política fiscal - o economista João Luiz Mascolo acredita que o cenário para os combustíveis merece atenção. "O BC vinha trabalhando com reajuste zero. Vamos ver agora como incorpora esse aumento que o governo sinaliza que vai dar".

Mas mais relevante que a forma com que o BC vai incluir nos cenários de referência os combustíveis mais caros é o tratamento a ser dado pela política fiscal, avalia Mascolo. Para ele, não tem como o BC ignorar que o setor público tem apresentado uma política expansionista.

O economista afirma que o fato de a Selic ter recuado mais de cinco pontos percentuais desde agosto de 2011 não mudou o custo de carregamento da dívida pública, que segue na casa de 15% ao ano. "Se o governo não cumprir um superávit na casa de 2,5% do Produto Interno Bruto existe sim o risco de a relação entre a dívida e o PIB voltar a crescer e impactar na curva de juros".