Título: Copom vê inflação resistente no curto prazo
Autor: Ribeiro, Alex; Alves, Murilo Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2013, Finanças, p. C12

O Comitê de Política Monetária (Copom) subiu o tom de suas preocupações inflacionárias de curto prazo e deixou claro que a política monetária nada pode fazer para mudar o atual quadro de fraco crescimento que, na sua visão, reflete limites na oferta.

A ata da última reunião do colegiado do Banco Central, divulgada ontem, também admite, pela primeira vez, a hipótese de um reajuste no preço da gasolina em 2013, em torno de 5%. E conta com recuo de aproximadamente 11% na tarifa de energia elétrica.

A preocupação com a inflação fica explícita num trecho da ata que aponta sua resistência no curto prazo. Nele, o Copom detalha o comunicado divulgado na semana passada, quando decidiu manter o juro básico em 7,25% ao ano, que alertava que o balanço de risco para a inflação apresentou piora no curto prazo.

"O Copom avalia que a maior dispersão de aumentos de preços ao consumidor e a reversão de isenções tributárias, combinadas com pressões sazonais e localizadas no segmento de transportes, tendem a contribuir para que, no curto prazo, a inflação se mostre resistente", diz a ata.

Com isso, o Copom reforçou a leitura de que a inflação preocupa sobretudo no curto prazo. Mais adiante, ela irá convergir para a meta, aposta o BC, com o nível de juros atual. Na quarta-feira, o presidente da instituição, Alexandre Tombini, disse em Davos que a inflação recuará no segundo semestre deste ano.

A ata do Copom afirma que a política monetária não é o instrumento certo para fazer a economia, que cresce abaixo do esperado, ganhar impulso. Na avaliação do colegiado, a fraca expansão do Produto Interno Bruto (PIB) se deve a limites da oferta. "O Copom pondera que o ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica - menos intenso do que se antecipava - se deve essencialmente a limitações no campo da oferta", afirma a ata. E segue: "Dada sua natureza, portanto, esses impedimentos não podem ser endereçados por ações de política monetária, que são, por excelência, instrumento de controle da demanda."

O comitê vê ainda uma intensificação no descompasso entre a oferta e a demanda em alguns setores da economia, embora seu diagnóstico seja de que os riscos são limitados.

Agora, o Copom vê a política fiscal como "expansionista". Até o começo de dezembro, quando foi divulgada a ata da sua reunião anterior, o diagnóstico era de que a política fiscal era de neutra a expansionista.

Em meio a declarações de autoridades do Ministério da Fazenda sobre a possível flexibilização da meta de superávit primário, o Copom fez uma sutil mudança na sua hipótese de trabalho para a política fiscal de 2013. Em vez de citar o cumprimento da meta de primário de 3,1% do PIB, o documento se refere à "geração de superavit primário de R$ 155,9 bilhões em 2013, conforme os parâmetros da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)." Com isso, o Copom é mais fiel à meta fiscal oficial, que é estabelecida na LDO em reais, e não como proporção do PIB.

Os modelos de projeção do BC continuam a apontar inflação acima da meta em 2013 e 2014. A ata, porém, não explicita se suas projeções subiram em relação aos valores do Relatório de Inflação de dezembro, que aponta alta de preços de 4,8% em 2013.

O BC esclareceu que, dentro da previsão de recuo de 11% na tarifa de eletricidade residencial para este ano, estão contemplados dois fatores. Um deles é o anúncio feito na quarta-feira à noite pela presidente Dilma Rousseff de que a tarifa vai cair 18% neste ano para as famílias. O outro fator considerado é a previsão de reajuste das contas de eletricidade feito todos os anos pelas distribuidoras.

O BC projeta ainda estabilidade na tarifa de telefonia fixa e no preço do gás de bujão. No conjunto de preços administrados por contratos e monitorados, o reajuste projetado agora é de 3%, maior do que os 2,4% anteriores.