Título: Avaliação do governo volta à planície
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 13/04/2007, Política, p. A7

Os índices de avaliação positiva do governo Luiz Inácio Lula da Silva sofreram uma queda de oito pontos percentuais nos últimos três meses, segundo pesquisa realizada pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Calculado o saldo positivo (diferença entre os que consideram o governo "ótimo" ou "bom" e os que consideram "ruim" ou "péssimo"), a queda é de 11 pontos percentuais.

A confiança em Lula continua alta (62%), mas também recuou: era 68% em dezembro de 2006. A pesquisa mostra que a população está preocupada com a economia e, principalmente, com o desemprego. O maior índice de desaprovação do governo refere-se à atuação na cobrança de impostos: 65%.

Em dezembro de 2006, 57% consideravam o governo "ótimo" ou "bom" e 13%, "ruim" ou "péssimo". O saldo positivo era de 44 pontos percentuais. Agora, 49% fazem a melhor avaliação e 16%, a pior. O saldo positivo caiu para 33 pontos percentuais. Os índices atuais retomam o mesmo patamar de setembro de 2006.

Na avaliação do economista Marco Antônio Guarita, diretor de Relações Institucionais da CNI, esse recuo não aponta tendência de queda na popularidade do governo. Revela, segundo ele, uma "acomodação" em relação ao final do ano, período em que os indicadores estavam "inflados" por fatores como a vitória eleitoral expressiva de Lula, expectativa de crescimento da economia, 13º salário, inflação baixa.

"Naquele momento havia uma bolha de otimismo, uma euforia", afirmou Amauri Teixeira, consultor da MCI - Marketing, Estratégia e Comunicação Institucional, empresa contratada pela CNI para analisar os dados da pesquisa. A avaliação de Guarita e Amauri é que a onda de otimismo registrada depois da reeleição, que elevou a avaliação positiva da gestão petista, já passou e os índices de retomaram o patamar de setembro.

A mesma movimentação registrada na avaliação do governo ocorreu em relação à aprovação do presidente. Em setembro de 2006, o índice de aprovação de Lula era de 62%, passou para 71% em dezembro e agora recuou para 65%. O saldo positivo sofreu queda de 12 pontos percentuais.

A aprovação ao governo Lula cresceu apenas entre os entrevistados com renda familiar superior a dez salários mínimos (saldo positivo de 17 pontos). Houve pequeno crescimento (dois pontos positivos) também na periferia das cidades. As maiores quedas na aprovação foram registradas entre os entrevistados de ensino médio (18 pontos negativos) e os que recebem de 1 a 2 e de 2 a 5 salários mínimos (17 pontos negativos, em ambos os casos).

A nota média para o governo, numa escala de 0 a 10, ficou em 6,7 - notas parecidas com as registradas pela pesquisa CNI/Ibope no primeiro ano do governo Lula (6,8 em março de 2003, 6,9 em junho e 6,7 em setembro). As rodadas seguintes registraram uma queda até junho de 2004 (5,6) e novamente um crescimento nas notas até novembro de 2004 (6,5), quando começou novo decréscimo até dezembro de 2005 (5,4). Desde então, a nota do governo voltou a crescer até dezembro de 2006, quando atingiu a média 7.

A aprovação do governo por áreas específicas, mostra uma queda maior quando são avaliadas as áreas sociais. A aprovação do governo no combate à fome e à pobreza caiu de 67% em setembro (a pergunta não foi feita na rodada de dezembro) para 37%. Já o saldo positivo caiu 26 pontos percentuais. Nas áreas de saúde e educação, o governo foi aprovado por 52% dos entrevistados (o índice era 58% em setembro).

Os maiores índices de desaprovação são nas áreas de segurança pública (63%) e impostos (65%). No combate à inflação, a aprovação caiu de 51% em setembro para 45%. Em relação à taxa de juros, a desaprovação também é elevada (57%). Pela primeira vez, o Ibope perguntou sobre a atuação do governo na questão ambiental: a aprovação foi de 42% e a desaprovação, de 50%.

De acordo com as respostas obtidas pelo Ibope, os brasileiros não viram confirmadas as expectativas que tinham antes da posse, em relação ao segundo mandato de Lula. Em dezembro, 57% disseram acreditar que o segundo mandato seria melhor. Nessa pesquisa de abril, apenas 30% responderam que o mandato está sendo melhor.

Segundo a pesquisa, 76% dos entrevistados consideram que o ano de 2007 está sendo "bom" ou "muito bom". Já a expectativa da população com relação ao restante do ano caiu: em dezembro, 43% achavam que o ano seria "muito bom" e, em abril, esse índice cai para 21%. A crise do setor aéreo foi a notícia envolvendo o governo Lula mais citada pelos entrevistados, com 20% das menções.